
Neste Primeiro de maio, o Espírito Santo tem motivos concretos para comemorar. Com uma taxa de desemprego de 3,9% no último trimestre de 2024 – a menor desde 2012 e bem abaixo da média nacional de 6,2% –, o Estado se destaca no cenário brasileiro.
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Agora, é preciso ter coragem para olhar além dos números. Apesar do bom desempenho, o Espírito Santo, assim como o Brasil, enfrenta um apagão de mão de obra qualificada. Quase seis em cada dez empresas relatam dificuldades para contratar ou reter profissionais.
A equação é perversa. De um lado, novos postos de trabalho surgem, de outro, trabalhadores não conseguem aproveitar as oportunidades.
Resultado: gargalos produtivos, salários pressionados, projetos que ficam no papel ou que são descontinuados.
Outro ponto que merece ser olhado com acurácia é a dependência de programas sociais, que permanece elevada.
Ainda que eles sejam instrumentos legítimos e fundamentais para proteger a dignidade de quem enfrenta a pobreza, é preciso reconhecer que, sem uma política clara de transição para o mercado de trabalho, eles podem se transformar em uma armadilha invisível.
Em muitos casos, na ausência de mecanismos que incentivem e valorizem a empregabilidade, parte dos beneficiados opta por permanecer dependente, ou seja, além da qualidade alguns setores sofrem com o número reduzido de profissionais disponíveis.
Todos esses pontos elencados ameaçam comprometer o crescimento e aprofundar a desigualdade no acesso às oportunidades. Portanto, o debate precisa amadurecer.
A capacitação é uma responsabilidade compartilhada. O Estado deve investir mais e melhor em educação técnica e formação profissional.
As empresas precisam participar dessa construção. Os sindicatos de trabalhadores precisam ir além da defesa de direitos e assumir um papel ativo na qualificação de seus representados.
Também não é possível esquecer o próprio trabalhador. Em um mercado em transformação acelerada, impulsionado pela inteligência artificial e pela valorização das competências emocionais – como adaptabilidade, comunicação e pensamento crítico –, o aprendizado contínuo deixou de ser uma opção.
Cada profissional precisa entender que permanecer relevante exige esforço, atualização constante e disposição para evoluir.
Quanto aos programas sociais, eles devem ser vistos como um ponto de partida, não como um ponto de chegada.
É importante lembrar que o Brasil já deu passos importantes para modernizar as relações de trabalho.
A reforma trabalhista atualizou regras ultrapassadas e ampliou a liberdade de negociação entre patrões e empregados, o que contribuiu para tornar o mercado mais dinâmico e estimular novas formas de trabalho.
Retroceder não faz sentido algum. O desafio é seguir aperfeiçoando a legislação e corrigindo eventuais distorções.
O Espírito Santo, com sua economia em expansão, tem a oportunidade de construir um modelo de desenvolvimento mais justo: onde o crescimento econômico venha acompanhado da valorização do capital humano.
Neste Dia do Trabalho, celebrar é justo. Mas mais justo ainda é reconhecer que há muito trabalho pela frente.