O ministro da Justiça e Relações Interiores da Venezuela, Diosdado Cabello, disse nesta quarta-feira (7) que os opositores que estavam na embaixada da Argentina em Caracas deixaram o país por meio de uma negociação. A versão contrasta com o anúncio feito pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, que disse que os venezuelanos haviam sido “resgatados”.
Segundo o ministro, houve uma negociação para que os opositores saíssem do país. Ele, no entanto, não deu detalhes sobre as contrapartidas oferecidas.
“No final, eles acabaram negociando como Leopoldo López negociou, como todo mundo fez. Eles sempre negociam com os próprios interesses em primeiro lugar, tudo é negociado. Você pode dizer o que quiser agora, o quanto quiser, mas essa é a verdade absoluta”, disse o ministro em seu programa semanal Con el Mazo Dando.
Outra questão levantada por Diosdado Cabello foi o número de integrantes que estavam na embaixada. Segundo os grupos de oposição, seis venezuelanos entraram nas instalações diplomáticas em março de 2024. Eles eram alvos de mandado de prisão do Ministério Público. Fernando Martínez Mottola se entregou em dezembro à Justiça do país e pediu uma medida cautelar.
A partir de então, ficaram na embaixada: Magalli Meda, diretora de campanha da ex-deputada ultraliberal María Corina Machado; Omar González, Claudia Macero, Humberto Villalobos e Pedro Urruchurtu, do grupo Vente Venezuela. Todos eles eram alvos de mandados de prisão acusados de organizar e participar de planos golpistas na Venezuela.
De acordo com Diosdado, no entanto, eram quatro opositores que restavam na residência do governo argentino, já que Claudia Macero havia saído em agosto. A informação não havia sido divulgada nem pelo governo nem por grupos opositores até então.
“Não havia cinco lá. Estavam lá apenas quatro, desde 20 de agosto são apenas quatro. Era mentira. No dia 20 de agosto, uma garota chamada Claudia Macero saiu e foi sozinha. Então esse senhor, Martínez Motolla, saiu e depois morreu, infelizmente enquanto estava em liberdade. Ele saiu e foi para casa”, disse.
Claudia Macero é jornalista e trabalhou como coordenadora de comunicação do grupo de extrema direita Vente Venezuela.
A informação inicial foi dada pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio. Em publicação nas redes sociais, ele afirmou que a saída dos opositores se trata de uma “operação de precisão” para “resgatar os reféns detidos pelo regime de Maduro”.
“Os Estados Unidos celebram o êxito do resgate de todos os reféns detidos pelo regime de Maduro. Depois de uma operação precisa, todos os reféns estão em solo estadunidense. Estendemos nosso agradecimento a todas as pessoas envolvidas nessa operação e a nossos parceiros que ajudaram a assegurar a liberação segura desses heróis venezuelanos”, disse em seu perfil no X.
A líder da extrema direita venezuelana, María Corina Machado, celebrou a saída dos opositores da embaixada. Ela chamou de “operação impecável e épica” e disse que ainda vai liberar cada um dos “900 presos”. A ex-deputada faz referência aos venezuelanos que foram presos por participar dos atos violentos depois das eleições presidenciais de 2024 que tiveram Nicolás Maduro vencedor para um terceiro mandato.
O governo argentino também comemorou a saída dos venezuelanos. Em nota, a Casa Rosada afirmou que a “extração” dos venezuelanos foi fruto do trabalho dos EUA. O texto agradece também o “compromisso” de Marco Rubio nessa “operação”.
A embaixada argentina na Venezuela está sendo custodiada pelo governo brasileiro desde que Buenos Aires afirmou não reconhecer a eleição de Nicolás Maduro em 2024. A diplomacia brasileira, no entanto, afirma não ter conhecimento de quais foram os termos para a saída desses opositores e não ter participado de qualquer negociação neste sentido.
A medida, no entanto, foi suspensa pelo governo venezuelano em setembro. Os diplomatas brasileiros negociaram uma troca para que outro governo assumisse a representação argentina a partir da indicação pelo próprio governo argentino de um novo país. Os argentinos, no entanto, não fizeram nenhuma indicação e, até agora, a embaixada continuou sob responsabilidade dos brasileiros.
Em nota publicada nesta quarta-feira, o Itamaraty disse que fazia a “proteção da integridade física dos asilados” e que fazia uma gestão para que as “necessidades básicas dos asilados fossem atendidas”. Ainda de acordo com o Ministério das Relações Exteriores brasileiro, o país trabalhou pelos canais diplomáticos para “solucionar” a situação na embaixada da Argentina.
“Desde abril do ano passado, o Brasil gestionou inúmeras vezes, no mais alto nível, para que fossem concedidos os salvo-condutos necessários e ofereceu transportar os asilados por via aérea, de modo a solucionar diplomaticamente a crise. As reiteradas gestões não foram atendidas, o que prolongou a difícil situação humanitária na residência da embaixada argentina em Caracas, que se encontrava cercada por forças de segurança. O anúncio da saída põe fim a esse episódio e ao drama vivido pelos asilados durante mais de 400 dias”, diz o texto.
Mãe de María Corina
Durante o programa, o ministro também falou sobre a negociação envolvendo Corina Parisca, mãe da ex-deputada ultraliberal María Corina Machado. O grupo Plataforma Unitária chegou a fazer uma publicação afirmando que ela havia sido presa. Nem o governo nem os familiares confirmaram esta informação.
Diosdado mostrou uma foto de Corina Parisca e disse que ela fazia parte da negociação. Ele mostrou fotos do passaporte dela e do cartão de embarque de sua viagem à Bogotá, na Colômbia. De acordo com ele, Parisca está fora do país.
“Essa senhora é a mãe de María Corina Machado, que foi parte dessa negociação. Esse é o seu passaporte, para que vocês vejam que nessa negociação entra todo mundo. Aqui está a senhora no aeroporto e sua ordem de embarque”, afirmou.