O papa Leão 14, eleito para o cargo no conclave encerrado nesta quinta-feira (8), escolheu homenagear o pontífice mais importante do século 19.
Leão 13 foi líder da Igreja Católica entre 1878 e 1903, em meio à Revolução Industrial, e ficou conhecido por defender os direitos da nascente classe operária no início do desenvolvimento do sistema capitalista.
O pontífice italiano, nascido Vincenzo Gioacchino Raffaele Luigi Pecci Prosperi Buzzi, também se destacou por estabelecer uma relação harmônica entre fé e ciência.
“Ele escreveu em uma cíclica social, no final do século 19, chamada Rerum Novarum, ou ‘As Coisas Novas’, a questão dos operários dentro do capitalismo, que estava corroendo suas vidas e as de suas famílias”, disse o teólogo Jorge Claudio Ribeiro.
De acordo com a Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), o documento “lançou as bases da Doutrina Social da Igreja e ainda hoje é referência em debates sobre justiça social e direitos dos trabalhadores”.
“É um documento que busca fazer um diálogo com o mundo moderno, que se abria à Revolução Industrial, às novas formas de produção. E também ao contexto de guerra que vivia o mundo daquela época”, completa o padre Victor da Silva Almeida Filho, professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puccamp).
O então papa, conhecido por ser um diplomata habilidoso, escreveu uma encíclica direcionada para o episcopado brasileiro em 1888. Chamado de In plurimis, o documento foi publicado em 5 de maio, defendia a abolição da escravatura no país e comemorava os esforços nesse sentido. A abolição aconteceu apenas oito dias depois.
Ainda que defendesse os trabalhadores, Leão 13 não concordava com os ideais socialistas. Sua linha era moderada, em que defendia direitos para os operários, mas não questionava a estrutura econômica. “O papa Leão 13 vai ser um grande contestador do modo do capitalista que não pagava salários dignos pros operários, ao mesmo tempo em que vai ter uma fala bastante crítica com relação ao marxismo e ao socialismo”, lembra Almeida.
Diálogo com o mundo contemporâneo
O fato de Leão 13 ter sido papa em um mundo em transformação é citado pelos especialistas como um possível ponto de inspiração para Leão 14. Para Almeida, a escolha dos cardeais foi por um perfil que esteja “em diálogo com o mundo contemporâneo, com as novas atividades que estão surgindo e ao mesmo tempo que faça diálogo também com essas formas de conflito que estão existindo no nosso tempo, esse radicalismo, esse extremismo que acontece com retorno do fascismo em alguns países no mundo”.
Outro ponto de destaque na atuação de Leão 13 foi a valorização da ciência. Entre seus feitos está a reabertura do Observatório do Vaticano, um instituto de pesquisa astronômico. “Leão 13, na sua época, promoveu esse estudo das ciências naturais e reabriu, inclusive, o Observatório Astronômico do Vaticano”, lembra Almeida. “Esse diálogo com a ciência no nosso tempo hoje é muito complicado, porque até dentro de setores da igreja a gente vê pessoas que desvalorizam a ciência, a pesquisa científica, o carinho com a busca pela verdade por meio dos meios científicos”, diz.
Jorge Claudio Ribeiro acredita que o nome escolhido por Leão 14 simboliza uma esperança sobre a inclinação do seu papado. “Esse nome é altamente simbólico, me enche de esperança”, diz.
Se essa promessa se cumprirá, no entanto, é impossível saber. “Qualquer papa recém-eleito é uma espécie de recém-nascido. Ele vai amadurecer, vai dar os passos que os bebês dão e aos poucos vai amadurecendo, vai consolidando as suas possibilidades. Foi assim como Francisco também”, afirma.