Com investidas hostis à aliança transatlântica, Trump excluiu e isolou europeus do debate sobre o fim da guerra na Ucrânia

Ao acenar diretamente para o ditador Putin, presidente americano expôs a fragilidade europeia na tarefa de garantir a sua própria segurança. A Europa finalmente parece ter despertado para a mudança de rota traçada pelo novo governo dos EUA, ainda que esteja a reboque das investidas hostis à política de segurança que predomina há 80 anos no continente.
Diante das condições vulneráveis com que Trump posiciona a aliança transatlântica, o presidente Emmanuel Macron convocou às pressas uma reunião com os líderes dos principais países europeus nesta segunda-feira, ao mesmo tempo em que o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, desembarca na Arábia Saudita, para discutir as bases do fim da guerra na Ucrânia com o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov.
Em outras palavras, Trump excluiu e isolou os europeus do debate sobre o confronto bélico que se desenrola há três anos em seu continente, acenando diretamente para o ditador Vladimir Putin, com quem conversou na semana passada por 90 minutos.
presidente americano expôs a fragilidade europeia para a missão de ter de defender a sua própria segurança e também a da Ucrânia, que ficou de fora da mesa de negociações com a Rússia.
A reação rápida e desarvorada do bloco, habituado a tomar decisões na velocidade de um cágado, denotou o desassossego de parte de seus governantes, que agora correm em busca de um papel expressivo na busca por um cessar-fogo.
Num artigo publicado no “Daily Telegraph”, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, anunciou que está disposto a enviar tropas britânicas para a Ucrânia como parte de qualquer acordo de paz.
Prestes a encontrar-se com Trump, o premiê trabalhista defendeu o aumento de gastos com a defesa e um papel maior na Otan, como insiste o presidente americano.
Na reunião de emergência, juntam-se a Macron e Starmer, os chefes de governo de Alemanha, Polônia, Itália, Espanha, Holanda e Dinamarca. Eles vão tentar estabelecer a possível implantação de tropas europeias na Ucrânia para dar suporte a uma futura linha de cessar-fogo.
A formação deste clube informal de líderes, como afirmou Macron, indica também como a Europa está dividida e suscetível às ofensivas da extrema direita e do presidente russo, num momento que contrasta frontalmente com o da unidade do bloco demonstrada em fevereiro de 2022, quando a Ucrânia foi invadida.
Nesse contexto, o discurso do vice-presidente americano, JD Vance, em Munique, disse tudo a quem ainda tinha dúvidas sobre a ofensiva do atual governo americano à aliança transatlântica e à mudança de rota ao modelo europeu estabelecido no pós-guerra.
Vance repreendeu os líderes europeus por afastar a extrema direita do processo democrático. Ponderou que a maior ameaça ao continente vem de dentro e não da Rússia ou da China, em alusão ao inimigo interno dos EUA, delineado por Trump durante sua campanha eleitoral.
Numa afronta ao chanceler alemão, Olaf Scholz, e ao candidato conservador Friedrich Merz, favorito nas eleições do próximo domingo, Vance preferiu abraçar a candidata do Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel. Por tabela, o vice-presidente americano legitimou os símbolos e slogans do Terceiro Reich, que o partido de extrema direita alemão tem registrados em seu DNA. É isso que também desnorteia os aliados europeus dos EUA.
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