Força-tarefa quer reunir provas e relatos sobre o ‘desaparecimento’ da Cracolândia

Parlamentares, representantes do governo federal e ativistas dos direitos humanos se encontraram na manhã desta sexta-feira (16) na Santa Ifigênia, no Centro de São Paulo (SP), na área onde tem se concentrado o fluxo da região conhecida como “Cracolândia”, em uma força-tarefa com o intuito de apurar o sumiço recente dos usuários da área.

Na última semana, a região ficou vazia, sem as milhares de pessoas em situação de de dependência química que a frequentam diariamente. O governo de São Paulo insinuou que o esvaziamento do espaço guardava relação com as operações na favela do Moinho, que fica a alguns metros do fluxo.

“Estamos fazendo agora uma ação no Moinho para dar dignidade para aquelas pessoas que moravam lá. Mas o Moinho funcionava também como uma fortaleza do tráfico de drogas”, afirmou Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, na última quarta-feira (14).

Porém, a tese do governo não é ratificada por quem trabalha na região há anos. Uma delas é Amanda Amparo, antropóloga e pesquisadora do grupo Cóccix da Universidade de São Paulo (USP), que estuda a relação do corpo com a cidade.

“As denúncias que temos é que existem kombis que estão parando aqui, pegando as pessoas e internando compulsoriamente. Isso é o que ouvimos de usurários aqui. Isso abre margem para elucubrarmos o que tem acontecido aqui nesse último período. O que está acontecendo, de fato, é uma escalada da violência aqui no território”, afirmou a antropóloga.

Mais cedo, um grupo de moradores e comerciantes da região tentou atrapalhar o encontro da força-tarefa e alguns chegaram a provocar os usuários que estavam na região. A mobilização chamou a atenção de Amparo.

“As pessoas que fazem uso abusivo de substância psicoativa estão aqui há mais de 30 anos e isso sempre foi encarado como um problema, mas existia uma convivência relativamente pacífica com moradores e comerciantes da região. Mas, de uns anos para cá, o poder público tem acirrado essa relação, tem criminalizado essas pessoas”, finalizou.

Maria Luiza, diretora de Políticas Para População em Situação de Rua, órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos, também esteve na reunião para “entender e mapear as violações dos direitos humanos que aconteceram nos últimos dias na região.”

“Estou falando de violações na favela do Moinho e do desaparecimento da Cracolândia. Pra gente, as duas questões têm sentido, porque há um interesse de entregar essa área para a especulação imobiliária em São Paulo e também de construir o palácio do governador aqui. Existe uma narrativa da prefeitura de São Paulo que é ‘acabar com a Cracolândia’, mas sabemos que isso é sumir com os usuários. Precisamos de materialidade, relatos e vídeos que demonstrem as violações que ocorrem aqui”, contou Luiza.

A vereadora Luna Zarattini (PT) também esteve na reunião e falou sobre o desaparecimento do fluxo. “O que temos escutado são histórias de uma série de violências e violações de direitos humanos, casos de internação compulsória e isso não deveria ser uma realidade nessa cidade, nesse país. Se polícia resolvesse, a Cracolândia não existiria mais, já que a polícia está neste espaço tem décadas.”

Quem também criticou a condução do poder público na Cracolândia foi a vereadora Luana Alves (Psol). “O suposto desaparecimento do fluxo tem nome: sequestro. As notícias que temos é de pessoas sendo levadas na madrugada para outros bairros e cidades. Mas isso tem prazo de validade, porque essas pessoas retornarão, não é assim que se faz política pública.”

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