
O Banco do Brasil (BBAS3) anunciou nesta quinta-feira (15) um lucro líquido ajustado de R$ 9,3 bilhões no primeiro trimestre de 2025 — resultado 20% inferior ao registrado no mesmo período do ano anterior. O número ficou abaixo das expectativas e gerou forte preocupação no mercado, principalmente por conta da revisão do guidance da instituição e de efeitos regulatórios e operacionais que pesaram no balanço.
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a reação do mercado tende a ser negativa e intensa.
“Não foi pouca coisa. Uma queda de 20% no lucro, combinada com a revisão do guidance de margem financeira e lucro líquido, pega mal. O mercado financeiro deve vir pesado contra a ação”, afirmou.
Banco do Brasil: mova contabilidade derruba receita em mais de R$ 1 bi
Um dos pontos centrais do resultado foi o impacto da nova regulação contábil aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Com a mudança, o banco passou a reconhecer juros de operações inadimplentes somente até 90 dias — anteriormente, esse limite era de 60 dias. Além disso, operações em estágio 3 (alto risco de inadimplência) passaram a ser reconhecidas pelo regime de caixa, o que provocou uma redução de R$ 1 bilhão na receita bruta do banco no trimestre.
Outro ponto foi o diferimento de aproximadamente R$ 400 milhões em tarifas relacionadas a crédito, que agora serão incorporadas gradualmente à margem financeira, e não mais no momento da contratação.
Agronegócio pressionou resultado, mas pode reagir no segundo semestre
O desempenho do banco também foi impactado pela maior inadimplência no setor agropecuário, especialmente após o fraco desempenho do agronegócio em 2024. O caso da recuperação judicial da Agrogalaxy, por exemplo, serviu como alerta para o aumento de risco nas carteiras do setor.
No entanto, Cruz acredita que há espaço para melhora:
“O agro foi mal em 2024, mas tende a reagir em 2025. Com a recuperação da renda no campo, os produtores devem retomar a tomada de crédito, o que favorece o Banco do Brasil e também o Bradesco”, afirmou.
Banco do Brasil: descasamento de ativos e passivos afeta margem
Outro fator relevante foi o descasamento entre ativos e passivos da instituição. Grande parte dos ativos do Banco do Brasil é pré-fixada, enquanto as captações são majoritariamente pós-fixadas. Com a Selic 3 pontos percentuais acima do observado no primeiro trimestre de 2024, o impacto sobre a margem foi direto. O aumento da TR (Taxa Referencial) também elevou o custo de captação da instituição.
Além disso, a tesouraria do banco — historicamente volátil — teve desempenho fraco no trimestre, o que é comum sazonalmente nos primeiros três meses do ano.
Mensagem do Banco do Brasil ao mercado preocupa
Além dos números em si, a mensagem passada pela revisão das projeções para 2025 causou apreensão. A alteração no guidance do lucro líquido e da margem financeira indica uma perspectiva menos otimista da própria gestão do banco sobre os próximos trimestres.
“Há uma percepção de que, com o governo Lula, o Banco do Brasil pode estar mirando menos retorno ao acionista e mais em políticas internas. Isso pode gerar ruído e desconforto entre os investidores, mesmo que o balanço ainda não escancare totalmente essa direção”, comentou Cruz.
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