
Em setembro de 2020, um funcionário da direção central do INSS procurou a Polícia Federal após receber ameaças de morte. Ele trabalhava na área responsável por analisar descontos nos benefícios e relatou que as ameaças começaram após identificar irregularidades nesses processos. O caso gerou uma investigação que se estendeu por vários anos, envolvendo diversas entidades e resultando em mudanças significativas no órgão.
A denúncia inicial levou a Polícia Federal a abrir uma investigação que, embora encerrada em 2024 sem indiciamentos, destacou a complexidade do esquema. A Polícia Civil do Distrito Federal também iniciou suas investigações em 2020, após denúncias de aposentados ao Ministério Público sobre descontos irregulares realizados pela Conafer, uma confederação nacional de agricultores familiares.
Quais foram as irregularidades identificadas?
O servidor do INSS relatou um aumento anormal no número de filiados da Conafer com descontos nos benefícios previdenciários. Em janeiro de 2020, a Conafer tinha cerca de 80 mil filiados, número que saltou para mais de 250 mil em outubro do mesmo ano, quando o acordo de descontos foi suspenso. Este aumento chamou a atenção dos investigadores, levando à suspensão do acordo entre a Conafer e o INSS.
Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) de 2024 revelou que a Conafer foi a entidade que mais aumentou o volume de descontos entre 2019 e 2024. Os valores passaram de R$ 400 mil em 2019 para R$ 57 milhões em 2020 e R$ 202 milhões em 2023, evidenciando a magnitude do problema.

Como a investigação evoluiu ao longo dos anos?
Em março de 2021, o presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, prestou depoimento à Polícia Civil, negando responsabilidade pelos descontos indevidos e atribuindo a culpa à Dataprev, empresa responsável pelo processamento dos pagamentos do INSS. A investigação revelou indícios de que Carlos Roberto e sua esposa, Bruna Braz, negociaram imóveis de alto valor entre 2019 e 2020, levantando suspeitas sobre a origem dos recursos.
Em 2021, a Justiça do Distrito Federal decidiu que a competência para investigar o caso era da Polícia Federal. A operação para desarticular o esquema ocorreu apenas em abril de 2025, resultando na queda do ministro da Previdência e do presidente do INSS, destacando a gravidade das irregularidades.
Quais foram as consequências das investigações?
A operação de 2025 culminou em mandados de busca e apreensão em Presidente Prudente, São Paulo, contra um casal suspeito de lavar dinheiro descontado ilegalmente de aposentados e pensionistas. A Polícia Federal apontou que Cícero Santos e Ingrid Morais Santos receberam repasses da Conafer e transferiram para contas de empresas e do presidente da confederação.
O caso gerou repercussão nacional, levando a mudanças na estrutura do INSS e destacando a necessidade de maior transparência e controle nos acordos de descontos em benefícios. A investigação continua a ser um exemplo de como irregularidades podem afetar milhares de beneficiários e a importância de mecanismos eficazes de fiscalização.
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