
Um dos maiores nomes do espiritismo no Brasil, médium morreu aos 98 anos e, em suas passagens por Uberlândia emocionou ao trazer ensinamentos sobre família, perdão, autoconhecimento e valores morais. Divaldo Franco realiza palestra em Uberlândia
O médium e escritor espírita Divaldo Franco, que morreu aos 98 anos, era reconhecido como um dos grandes líderes do espiritismo no país. Ao longo dos anos, ele esteve diversas vezes em Uberlândia, onde participou de conferências e concedeu entrevistas marcantes à TV Integração.
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O médium usou o espaço nos telejornais da afiliada Globo para falar sobre temas como perdão, autoconhecimento, estrutura familiar e o papel da espiritualidade na construção de uma sociedade mais equilibrada.
O g1 reuniu algumas dessas principais mensagens deixadas pelo religioso em entrevistas à TV Integração, já que os ensinamentos continuam atuais e refletem a visão humanista e pacificadora que marcou a trajetória do religioso.
Divaldo Franco, um uberlandense de coração
Em 2015, durante uma edição da Conferência Espírita, realizada no Center Convention, Divaldo celebrou 60 anos de palestras na cidade e relembrou sua primeira visita, em junho de 1955.
“Uberlândia encantou-me. Amigos de Uberaba me trouxeram para conhecer e desde então me tornei uberlandense de coração. Especialmente, porque aqui encontrei pessoas muito queridas, que me impactaram a alma”.
Na ocasião, o médium também falou sobre o que chamava de “terapia do perdão”. Segundo Divaldo, a sociedade vivia uma época de individualismo, consumismo e transtornos de comportamento o que, para ele, era reflexo da falta de esperança.
“Guardamos ressentimentos e temos muitos problemas psicológicos. A solução é o perdão, conforme recomendação de Jesus Cristo”, defendeu.
Estrutura familiar e audiência pública com Papa Francisco
Em outra reflexão nos estúdios da TV Integração, o orador contou sobre uma audiência pública com o então Papa Francisco e falou sobre a necessidade de resgatar os laços familiares.
“Tive a oportunidade de ouvi-lo numa homilia em que ele pedia que a família volte a ser como antes. Não dentro dos velhos padrões castradores, mas para uma família que a gente sinta segurança, e fez a abordagem da paternidade. Normalmente, as mães são o eixo da família e o pai o fornecedor. Então, ele pede para que o pai volte para casa, proposta, aliás, da doutrina espírita […] Uma educação que dignifica o indivíduo começa no lar. Na hora que a família se desequilibra, a sociedade se desestrutura.”
Autoconhecimento e vida em comunidade
Divaldo voltou a Uberlândia em 2017, quando realizou uma palestra na Arena Sabiazinho. Em entrevista ao MG1, conversou com os apresentadores Vanessa Carlos e Alex Garrido, abordando temas sociais e espirituais.
Ao comentar sobre a crise da dengue naquele ano e o comportamento da população, fez uma análise profunda da conduta humana, diante da ausência de educação social.
Para o espírita, o indivíduo ainda não despertou para a realidade e enquanto não criasse uma psicologia de paz interior, todas as ações seriam inúteis para a vida em comunidade.
Ele reforçou ainda a importância do autoconhecimento e da responsabilidade individual na construção de uma sociedade melhor.
“Se o indivíduo não tem a capacidade de saber por que está aqui, dificilmente será útil à comunidade. Se ele não se ama e não ama o próximo, dificilmente amará a Deus”.
Reflexões sobre violência e desigualdade social
Em uma das entrevistas mais recentes, concedida ao MG1 em fevereiro de 2018, Divaldo Franco abordou temas que estavam em destaque no cenário nacional, como a escalada de violência urbana no Rio de Janeiro e a crise política no país.
De janeiro a novembro daquele ano, 1.444 pessoas perderam a vida em ações policiais na cidade carioca, uma média de quatro mortes por dia, segundo informação divulgada pelo Jornal Nacional.
Em sua análise, o palestrante relacionou esses problemas à falta de justiça social e à ausência de valores morais na sociedade, destacando que os mais vulneráveis usam da violência como um instinto de sobrevivência.
“A violência no mundo é resultado do processo de insatisfação da criatura humana. É um conflito de natureza socioeconômica. Nós nos esquecemos daqueles que são chamados de miseráveis e, naturalmente, eles foram para um gueto para se defender e para tomar aquilo que a sociedade não os oferece”, refletiu.
Divaldo destacou ainda que o combate à violência precisa começar por uma transformação profunda na base da sociedade, com foco em educação não apenas formal, mas voltada à formação ética e cidadã.
“É necessário que haja uma reformulação de leis na base da educação, não na educação formal, mas na educação de valores morais, que as autoridades se respeitem, que os indivíduos cumpram as promessas eleitorais e que tenhamos consciência para eleger. Mas em um país de quase analfabetos não há consciência, há intercâmbio, há suborno. Então o indivíduo vota naquele que vai lhe dar imediatamente uma compensação e eis que, frustrado, se revolta”.
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Legado de Divaldo Franco
Ao longo da vida, Divaldo Franco participou de conferências em diversos países e fundou, em 1998, o evento “Você e a Paz”, de caráter ecumênico, que passou a reunir multidões para ouvir mensagens de união entre diferentes religiões.
Ele não deixou filhos biológicos, mas era reconhecido como pai por mais de 600 pessoas acolhidas pela Mansão do Caminho, em Salvador.
Até 2018, o médium espírita já havia realizado mais de 22 mil conferências em 71 países e publicado 280 livros.
Morre Divaldo Franco, aos 98 anos
Mansão do Caminho
Divaldo Franco durante conferência espírita no Center Convention em Uberlândia
Arquivo pessoal
Divaldo Franco em entrevista à TV Integração em 2016
Reprodução/TV Integração
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