Mais de 100 blocos de rua já cancelaram os desfiles no carnaval de rua de SP em 2024; veja quais


As desistências foram comunicadas à prefeitura após o prazo final dado pelo órgão para o cancelamento, em 30 de dezembro. A principal queixa das agremiações é a falta de investimento e a desorganização da gestão municipal. Multidão lota Vale do Anhangabaú, em São Paulo, no bloco Domingo Ela Não Vai em 2017
Hélvio Romero/Estadão Conteúdo
O carnaval de rua de São Paulo deste ano contará com cerca de 100 blocos a menos do que o previsto inicialmente pela gestão municipal. A comunicação dos cancelamentos foi feita por meio de edições do Diário Oficial publicadas desde janeiro.
O principal motivo da desistência, segundo os blocos, é a falta de recursos e falta de incentivo público. As agremiações reclamam também de desorganização por parte da prefeitura e questionam o modelo de organização do evento neste ano.
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No ano passado, a Prefeitura de São Paulo determinou o prazo até 30 de dezembro para que os blocos cancelassem oficialmente os desfiles antes de serem anunciados oficialmente.
A lista oficial de desfiles foi divulgada no início de janeiro, com a previsão de desfile de pelo menos 579 blocos que tomariam as ruas da cidade durante os oito dias oficiais de folia na capital.
Desse total, mais de cem já anunciaram neste mês de janeiro que não têm mais condições de se apresentar neste ano.
Outras 16 agremiações já tinham comunicado à prefeitura no último ano que não participariam deste carnaval.
Entre os desistentes está o megabloco Domingo Ela Não Vai, que desfila em São Paulo desde 2016 e arrasta multidões.
Alberto Pereira Junior, cofundador do bloco e representante do Blocão, conta que estão desde o fim do ano passado tentando viabilizar o desfile, mas na terça-feira (30) entenderam que não seria possível.
“A gente lutou até ontem, mas tem uma hora que, pela nossa sanidade mental, a gente precisa desistir também. Tem hora que só a vontade não é suficiente, é preciso partir para a realidade. Voltaremos no ano que vem com mais força, estrutura, energia renovada e num novo modelo.”
“Faltam estrutura e pensamento a longo prazo para o carnaval de rua por parte do poder público. Precisa de um olhar de Estado, não de governo, para investir no carnaval de rua”, completou.
Foliões curtem o bloco Meu Santo é Pop, no Largo do Arouche, em São Paulo (SP), em 2018
Ananda Migliano/Futura Press/Estadão Conteúdo
Há também alguns que saíam mais de um dia e optaram por cancelar parte dos cortejos, como o Jegue Elétrico, e outros que ainda tentam viabilizar os desfiles, como o Lua Vai e o Samby e Junior.
Cancelamentos desde 30/12
AFROPOP
50 tons de Pinga
A Madonna Tá Aqui
ALOHA PORTAL
Amigos da Fiel Tiradentes
Associação Recreativa e Cultural Bloco Carnavalesco Bloco da 3
Bar Do Rafa’
Beija-flor (Banda Timbalada)
Berço Elétrico
Bloco 0800 Deekapz
BLOCO ABRA ALAS
Bloco Agrada Gregos – desfile extra cancelado
Bloco Ayabass (Luedji Luna, Xênia França, Larissa Luz)
Bloco Belas & Empreendedoras e Mel’S
Bloco Beleza Rara
Bloco Calçada do Samba do Jd. Almanara
Bloco CarnaUrsos
Bloco Carnavalesco Carnavelhas
Bloco carnavalesco Todos na Contra Mão
Bloco Carnavalesco Vem com o Pai
Bloco Carnavibe Feat Ressaca
BLOCO DA ABOLIÇÃO
Bloco da Alegria
Bloco da Baby
Bloco da Preta
Bloco Da Vaca
Bloco das Minas
Bloco Diversidade Unida
Bloco do Amor
Bloco do Chacrinha
Bloco do Festival Melhor DIA
Bloco do Fuá
Bloco do Lelelê
Bloco do Rock
Bloco do Zé Pretinho
Bloco dos Invertidos
Bloco dos Pinheirinhos
Bloco Dré Tarde
Bloco E Essa Boca Aí
Bloco Eco Campos Pholia
Bloco Eu Quero É Frevo com Orquestra Frevo do Mundo e Convidados
Bloco Frita Comigo
Bloco G
Bloco Galera da Rampa
BLOCO GENTE FELIZ DA VANESSA DA MATA
Bloco GoFun – Bloco Desandei
Bloco GoFun (Solteiro Não Trai)
Bloco infantil Vem Erê
Bloco Jah É
Bloco Jegue Elétrico SP
Bloco love funk
Bloco Lua Vai
Bloco Magia
Bloco Megazord
Bloco MEL´S
Bloco Mistura Fina
BLOCO NA MANHA DO GATO
Bloco Não era Amor era Cilada
Bloco Nosso Sonho
Bloco Orra Bello
Bloco Reggae Night
Bloco Revoada de Carnaval
Bloco Siriricando
Bloco Sovaco de Cobra
BLOCO UNIÃO
Bloco Vou de Táxi
BLOCO XODÓ
Bloquinho da Jéssica
BNH – Bebo na Hora
Bridge Festival
Bunytos de Corpo
CarnaCadoz – Reggae e Rock
Carnafacul – O Bloco
Coletivo Missa
Cordão da Bola Preta
Cores Vivas
Domingo Ela Não Vai
É Pequeno + Balança
Encontro de Fanfarras
Fanfarra do Vou de Táxi
FANFARROES CAMALEON
FANFARROES DO JUREA
Felicidades Pretas – Feira Preta
Fobicão
Fogo & Paixão
JBAS IÓRIO Alegrando as Ruas e Corações
Libertas
Mamãe, Eu Quero Beltar!
Mamonas Assassinas, o legado
Megabloco do Fervo – O maior da Zona Norte
Pagode 90’S
PATRICIA SECCHIS & BLOCO MADALENA
Paulão do Vra e Samba Magia, o Bloco
PERON É FESTA
Pirikita em Chamas
Quintal dos Prettos
Sambão
Samuca e a Selva
Sonido Trópico
Trio Sebah Vieira
Vai Você em Dobro
Zélia, Cássia, Rita, Carolina e Todas as Minas
Ziriguidum – Resgate a Primeira Infância
Cancelados antes do prazo final de 30/12
Bloco Caldeirão Sem Fundo
Bloco Caminera
Bloco Caos Tribal
Bloco carnavalesco tá com medo porque veio
Bloco de Veleiros – É pequeno mas vai crescer
Bloco do ve
Bloco Du Zé
Bloco Gambiarra
Bloco Grande Família
Bloco Klezmer do Bom Retiro
Bloco Não To Bem 279
Bloco Saia de Chita
CarnaBelém SP
House de Rua
Itaquerendo Folia
Toca Raulzito SP
Zé Cury, coordenador do Fórum de Blocos do Carnaval de Rua, que representa 215 blocos da cidade, avalia que o cancelamento de blocos é normal no carnaval, mas há um movimento atípico neste ano.
“Sempre tem uma queda de entre 10% e 20% do que a gente vê de inscritos em outubro e dos que realmente vão para a rua no final. O que é novo neste ano é que quem se articula normalmente para ter o seu próprio bloco ficou prejudicado pela falta de esclarecimentos da prefeitura, do próprio atraso da definição do patrocinador master. Isso tudo deixou o mercado de possíveis patrocinadores em stand-by, e muita gente não conseguiu, porque só em meio de janeiro saiu o edital de quem seria realmente o patrocinador [do carnaval] da cidade”, afirma.
Segundo ele, o patrocinador decide como vai distribuir a verba do patrocínio e, com isso, alguns blocos ficam inviabilizados de sair na rua.
Bloco da Maria, da cantora Maria Rita, que estreou no carnaval de rua de São Paulo em 2023 desfilando em frente ao Parque do Ibirapuera
SUAMY BEYDOUN/AGIF – AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/AGIF – AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Thais Haliski, da Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo, diz que os cancelamentos já eram esperados pelos organizadores dos blocos.
“O edital de fomento tem etapas que contemplam datas que não convergem com o carnaval de 2024, ou seja, o bloco precisa de fomento para o ano de desfile, e não para receber esse valor depois. Por quê? Porque ele não tem garantia de que vai receber o dinheiro. O edital de fomento não é para todos os blocos, ou seja, o bloco pode se inscrever, aguardando ser contemplado, mas ele pode não receber, porque temos 579 blocos inscritos na cidade, e o fomento é para 100, ou seja, não é para todo mundo, a grande maioria não tem fomento da cidade.”
Ela questiona o modelo do carnaval de rua em vigor na capital e vê nos cancelamentos em série um sinal de que, se não houver mudança, o evento deve perder força: “Somos os protagonistas do carnaval, organizamos a festa dessa parte de organização dos blocos, e a prefeitura é responsável pelo planejamento, estrutura na cidade, organização de serviços para receber uma demanda absurda de turistas ⏤ esse modelo está provado que não dá certo. O carnaval de São Paulo vai minguar e vai chegar uma hora que todo mundo vai desistir e vai voltar a ser o que São Paulo era, que todo mundo no carnaval viajava para a praia”.
Lira Alli, da liderança do Arrastão dos Blocos, também reclama da organização: “É muito complicado porque tem gente que ensaiou o ano inteiro, se preparou o ano inteiro para isso. E aí chega na hora H e tá encontrando dificuldades muito objetivas e concretas. É muita irresponsabilidade não pensar com antecedência no Carnaval. Eu acho que é bem possível que a gente neste ano tenha a maior taxa de cancelamento de blocos na cidade de São Paulo. E isso é triste porque a grande característica do carnaval de rua de São Paulo é a sua diversidade”.
Eduardo Viola, produtor do Bloco dos Ursos, diz que, quando olharam o cenário, perceberam que a decisão mais “saudável” era suspender o desfile neste ano. “E continuar na luta para buscar recursos para que, no ano seguinte, a gente consiga ter uma gestão que converse melhor com os blocos, que oriente ou que apresente também um plano.”
Jorge Minoru, do Meu Santo É Pop, conta que, mesmo tendo organizado duas festas, o bloco não conseguiu atingir o valor mínimo para o desfile. “Neste ano nenhuma marca quis patrocinar o bloco. Até pedimos para a prefeitura para fazermos um bloco parado, que o custo é menor, mas não autorizaram. Estamos tristes, com o coração apertado porque a gente sabe o quanto o bloco é importante para o carnaval de São Paulo.”
Zé Cury finaliza: “O que é chato é que o poder público se vangloriar de ter o maior carnaval do Brasil, mas as pessoas que fazem isso acontecer são os blocos, não é a prefeitura. A prefeitura só dá os serviços de estrutura, que é a parte dela. Fica a tristeza de a gente não poder colaborar para que o carnaval seja melhor e, ao contrário, sofrer represálias em relação às coisas mais tradicionais de uma festa de carnaval, como ter que parar de tocar às 18h. O reflexo é esse, é a tristeza no maior carnaval do Brasil”.
O que diz a prefeitura
A Prefeitura de São Paulo afirma que a Secretaria Municipal das Subprefeituras realiza reuniões constantes com os organizadores dos blocos nas 32 subprefeituras da cidade desde dezembro do ano passado e que todos os trajetos foram analisados em conjunto com a comissão especial do evento. Diz também que os blocos cadastrados terão a estrutura necessária para a realização dos desfiles.
Sobre o cancelamento dos desfiles, no entanto, a prefeitura não encaminhou resposta até a última atualização desta reportagem.
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