
Não há registro, mas tudo indica que esses veículos movidos à tração animal são do tempo em que Feira de Santana começou a ser constituída como uma progressista comunidade. Tão úteis quanto os carros de boi, que hoje já não são vistos na região, e as charretes, a carroça tornou-se um veículo urbano com uma contribuição reconhecida no desenvolvimento da Princesa do Sertão.
Por muito tempo, elas fizeram parte do cenário da cidade de forma tão natural que ninguém poderia imaginar a Princesa sem elas. Pode-se dizer que foram indispensáveis e prestaram muitos serviços à comunidade, contribuindo de forma efetiva para o desenvolvimento da mais importante urbe do interior nordestino. As carroças — veículos classificados como rudimentares — movimentadas graças à força de um animal, já foram em quantidade expressiva, estima-se em cerca de quase uma centena. A topografia da “cidade plana” facilitou a proliferação desse tipo de antigo veículo que vem do tempo da charrete e do carro de boi, quando ainda não existiam os veículos automotores, ou eles começavam a aparecer.
Transportando material de construção — telhas, tijolos, blocos, areia, cimento, ferro, madeira — as carroças marcaram o crescimento urbano de forma indelével. Mas não havia limites para o seu trabalho, assim, mudanças, móveis e objetos de maior porte comprados nas lojas da cidade, carga de podas de árvores, lixo, entulho, enfim, um sem-número de utilidades, sem esquecer até o uso por famílias como meio de transporte.
Com o crescimento acelerado do tráfego de veículos — automóveis, caminhões, ônibus — nas ruas da cidade, em especial no centro comercial, a presença das carroças passou a ser questionada e reclamada por muitos motoristas que exigiam a retirada de circulação desse tipo de veículo, hoje raramente visto na parte comercial. Todavia, essa prestação de serviço ainda é bem observada em bairros e áreas menos centrais. Segundo o mestre Paraná (Cláudio Borges Brito), renomado capoeirista que há mais de 20 anos lidera a Associação de Condutores Ativos com um trabalho de conscientização da categoria, muitos resultados positivos têm sido obtidos no disciplinamento do sistema.
Hoje, as carroças trafegam mais em bairros, embora continuem extremamente úteis conduzindo material de construção, mudanças, produtos adquiridos por pequenos estabelecimentos comerciais e vários outros tipos de carga. No centro comercial, a presença de alguns desses veículos de tração animal verifica-se mais ao final do dia no recolhimento de recicláveis, como caixas de papelão, caixotes, garrafas plásticas, papéis, latas e similares. Diante da mudança verificada no serviço prestado por esses veículos, mestre Paraná tem como plano a aquisição de uma prensa para o beneficiamento de material reciclável pelos próprios carroceiros e familiares, com isso gerando emprego e renda para muitos trabalhadores.
A aquisição da prensa pode vir mediante convênio da associação de classe com o governo municipal ou governo estadual, acredita Paraná, que já se movimenta nesse sentido. Zeloso com os condutores de veículos de tração animal que “são homens de bem, trabalhadores que mantêm suas famílias com esse trabalho” e, ao mesmo tempo, com os animais que “precisam ser bem alimentados, usados sem peso além do limite e ter direito a descanso”, ele agora pretende que os animais de carga passem a usar uma “braçadeira” ou “caneleira” em uma das pernas, próximo à pata, com o mesmo número do cadastro da carroça.
Acredita o mestre Paraná que esse sistema irá facilitar a localização de um animal perdido ou solto nas ruas, às vezes criando problemas, inclusive acidentes com carros e motos. Do mesmo modo, tornará possível identificar e responsabilizar o dono de um animal solto. Paraná salienta que, na Associação dos Condutores Ativos, mantém um quadro com mais de 100 trabalhadores, alguns com mais de meio século na atividade. “Temos o Zé Carlos, João ‘cara de jaca’, Didi, Negão, e vários outros pais de família, com muito tempo na profissão. Homens direitos, casados, que criaram suas famílias, formaram filhos, trabalhando honestamente com uma carroça”, ressalta.
Por Zadir Marques Porto
As informações são da Secretaria Municipal de Comunicação Social de Feira de Santana
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