Nome Leão 14 traz expectativa de posição contra capitalismo: ‘Que novo papa faça jus’, cobra professor

Ao escolher o nome Leão 14, o novo papa Robert Francis Prevost acendeu expectativas sobre o rumo que pretende dar à Igreja Católica. O título remete ao pontífice do fim do século 19 que inaugurou a doutrina social da Igreja com a encíclica Rerum Novarum, sobre a condição dos operários.

“Grande parte das leis trabalhistas do ocidente, como o direito às férias e ao 13º salário, têm origem nas ideias de Leão 13”, comentou o sociólogo André Ricardo de Souza, professor e coordenador de sociologia e política na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em entrevista ao Conexão BDF, da Rádio Brasil de Fato.

A associação simbólica a esse legado reforça a cobrança por um posicionamento claro diante das desigualdades e das pressões do capitalismo contemporâneo. “Esperamos que ele se mostre mesmo com coragem, com firmeza para fazer jus ao nome que escolheu, de alguém que se posicionou contrariamente ao capitalismo liberal, bastante opressor do fim do século 19″, disse Souza.

A escolha também ganha contornos políticos e eclesiais diante da recusa de outro nome ventilado nos bastidores: João 24. “João 24 seria o nome de um papa comprometido com mudanças expressivas na Igreja, quem sabe até com a convocação de um novo concílio”, afirmou.

Segundo ele, um eventual Concílio Vaticano 3 poderia abrir espaço para debates sobre o celibato e a ordenação de homens casados, por exemplo. Prevost, no entanto, optou por um nome que carrega um peso social mais direto.

Papa tem ligação com Sul Global, mas deve ser mais moderado que Francisco

Embora tenha nascido nos Estados Unidos, Prevost tem longa trajetória na América Latina, especialmente no Peru, onde atuou por anos como missionário agostiniano. Foi alçado rapidamente ao posto de cardeal e comandava o dicastério dos bispos antes de ser eleito papa. Segundo o professor, sua vivência no Sul Global pode trazer ressonâncias importantes em seu pontificado, ainda que ele represente um perfil mais moderado do que progressista.

“Quem esperava um sucessor progressista, parecido com o papa Francisco, se frustrou”, avalia Souza. O papa Leão 14 voltou a usar as vestimentas mais tradicionais do papado, por exemplo, em contraste com as vestimentas mais simples adotadas pelo antecessor. Ainda assim, o especialista pondera que Prevost não representa o polo conservador mais duro da Igreja. “Ele não é alguém fechado ao diálogo”, destaca.

O novo pontífice já criticou figuras como Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, ao abordar o tema da migração, justamente uma das frentes mais atacadas pelo governo de Donald Trump.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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