Contas de luz mais caras: ‘Estamos depredando o que garante chuva no Brasil’, alerta especialista

A tarifa de energia elétrica no Brasil vai subir em maio com a ativação da bandeira amarela nas contas de luz. O reajuste, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), deve-se à diminuição das chuvas com a chegada do período seco. Para o advogado Sérgio Leitão, diretor-executivo do Instituto Escolhas, o problema vai além da sazonalidade: crises como essa tendem a se repetir com mais frequência devido ao avanço do desmatamento e à falta de uma política consistente de transição energética.

“Todos os cenários sobre o uso de energia no Brasil estão começando a ter que lidar com o fato de que vai chover menos. Os reservatórios das hidrelétricas ficarão menos cheios e essas crises serão, infelizmente, muito mais frequentes”, revelou Leitão em entrevista ao programa Conexão BdF, do Brasil de Fato.

O Brasil tem uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com grande participação de hidrelétricas e fontes renováveis como a solar e a eólica, afirma Leitão. Mas ele diz que essa vantagem está ameaçada pelo desmatamento, especialmente na Amazônia, que compromete os regimes de chuva, justamente o que garante a regularidade das águas que abastecem os reservatórios das usinas.

“O problema não é termos hidrelétricas ou uma oferta maravilhosa de sol e vento. O problema é que estamos depredando exatamente aquilo permite a disponibilidade de chuva no país continuar sendo alta”, disse. Ele ressalta que, além do impacto ambiental, a falta de planejamento climático também tem custo direto para a população, que paga mais pela energia.

Subsídios e produtos ineficientes elevam custo ao consumidor

Além da escassez hídrica, outro fator encarece a conta de luz é o excesso de subsídios na tarifa, explica Leitão. Segundo o advogado, há incentivos financeiros que continuam beneficiando fontes e empresas já lucrativas, e o custo disso é repassado ao consumidor. “O consumidor brasileiro precisa exigir menos subsídios na conta de luz para quem não precisa porque já tem atividades rentáveis”, avaliou.

Outro ponto destacado é a baixa eficiência dos eletrodomésticos vendidos no Brasil. Estudos do Instituto Escolhas mostram que equipamentos como ar-condicionado, cada vez mais usados diante do aumento do calor, consomem muito mais energia aqui do que em outros países, mesmo sendo produzidos pelas mesmas marcas.

“O ar-condicionado, que virou um item vital no país porque o calor tem ficado excessivo, consome mais muita energia aqui. […] Precisamos também de equipamentos em casa que sejam muito mais eficientes do ponto de vista energético. Sem isso, a conta de luz não vai parar de subir e ser uma das mais caras do mundo”, alertou.

Transição energética travada e contradições na política externa

O Brasil ingressou neste ano na OPEP+, grupo de países aliados à Organização dos Países Exportadores de Petróleo, o que levantou críticas de ambientalistas. Para Leitão, o país ainda fala em transição energética da boca para fora e não tem metas claras sobre como e quando pretende abandonar os combustíveis fósseis.

“Estamos usando petróleo sem estabelecer prazos para deixar de usá-lo. E não estamos separando os recursos necessários para que essa transição seja real e efetiva. Assim, não dá para dizer que estamos fazendo a transição energética de verdade”, criticou.

Mesmo com a adesão a fóruns voltados para energias renováveis, como a Agência Internacional de Energia (IEA) e a IRENA, o especialista aponta contradições. Segundo ele, o país precisa garantir que a expansão de fontes limpas como a solar e a eólica não repita os erros do passado, como o desrespeito aos direitos das comunidades afetadas e a degradação ambiental.

“Temos sol, vento e água em abundância. Isso deveria fazer com que a conta de luz da dona de casa fosse mais barata, sem poluir o meio ambiente e sem fazer mal às comunidades, especialmente no Nordeste”, concluiu.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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