

Fraude no INSS desviou R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas – Foto: José Cruz/Agência Brasil/ND
A investigação da Polícia Federal sobre a fraude no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) apontou que, mesmo diante de uma “enxurrada” de denúncias, o órgão continuou firmando acordos de cooperação técnica com entidades.
Foram diversas reclamações e processos judiciais envolvendo descontos não autorizados realizados pelas associações externas ao órgão. Ao longo de cinco anos, mais de R$ 6,3 bilhões foram desviados de aposentados e pensionistas.
“A mesma autarquia que declara não possuir capacidade de fiscalizar os ACTs [acordos de cooperação técnica] é aquela que libera novos acordos e consignações de descontos em sua folha”, destaca o relatório da Polícia Federal.
Além disso, uma análise da CGU (Controladoria-Geral da União), também citada no documento, aponta que o órgão não implementou “controles suficientes para mitigar os riscos de descontos indevidos”, mesmo ciente da “falta de capacidade operacional necessária para o acompanhamento dos ACTs”.

Esquema foi revelado pela Polícia Federal no dia 23 de abril – Foto: Divulgação/Gov.br/ND
Outro trecho do documento ressalta que, mesmo com um aumento de 772% nos pedidos de cancelamento entre julho de 2023 e abril de 2024, “o INSS limitou-se a suspender novas adesões de algumas entidades e por um curto período”.
A situação levou o TCU (Tribunal de Contas da União) a questionar formalmente: “Por que o INSS autorizou essa sistemática de desconto consignado para mensalidades associativas e sindicais se não tinha condição alguma de fiscalizar?”. O tribunal classificou como “escabrosos” os casos de descontos associativos em fraude no INSS.
Documentos retidos
A investigação também revelou que os documentos que autorizavam “expressamente os descontos associativos” estavam sob guarda das próprias entidades e, segundo o relatório, só eram apresentados ao INSS mediante solicitação. “Parcela relevante da documentação demandada pelo INSS às entidades associativas durante a execução da inspeção não foi por elas encaminhada corretamente”, informa o texto.
Para o TCU, “os controles do INSS para averbação de descontos, especialmente de mensalidade associativa, são insuficientes para prevenir descontos indevidos” e classificou como “injustificável a não utilização da faculdade de revisão dos acordos de cooperação técnica nos casos mais escabrosos”.
Entenda a fraude no INSS
A operação da PF e da CGU, contra fraude no INSS, foi deflagrada em 23 de abril de 2025 e cumpriu 211 mandados judiciais, incluindo ordens de busca e apreensão, sequestro de bens — avaliados em mais de R$ 1 bilhão — e seis mandados de prisão temporária.

Ao menos 11 entidades são investigadas por lucrar R$ 6,3 bilhões com a fraude no INSS – Foto: Polícia Federal/Reprodução
As investigações apuram um esquema nacional de cobranças indevidas em fraude no INSS. Conforme as apurações, aposentados e pensionistas foram alvo de descontos não autorizados de mensalidades associativas, aplicados diretamente sobre os valores de aposentadorias e pensões.
O prejuízo estimado com a fraude no INSS chega a R$ 6,3 bilhões, acumulados entre os anos de 2019 e 2024. Ao menos 11 entidades são suspeitas. Ainda não se sabe quanto desse valor foi indevidamente descontado e quanto tinha autorização dos beneficiários. Os investigados poderão responder por corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional, falsificação de documentos, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A apuração das autoridades levou à demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e ao afastamento de servidores. Dois dias depois da operação, representantes do INSS e da CGU informaram a suspensão dos descontos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas por convênios com entidades, como associações e sindicatos. A pausa é por tempo indeterminado, até a conclusão da análise de cada acordo, para a identificação dos descontos irregulares.

Gilberto Waller Júnior é o novo presidente do INSS – Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados/ND
Segundo o ministro da CGU, Vinicius de Carvalho, para reorganizar o sistema de desconto e torná-lo mais rígido e seguro, é necessária a suspensão de todos os acordos de cooperação técnica vigentes, celebrados pelo INSS com entidades nos últimos anos.
“O governo vai ressarcir o que foi descontado irregularmente. Isso estará em um plano que será apresentado em breve”, declarou Carvalho. O ministro não informou, no entanto, quando ou como esse ressarcimento será feito. Segundo Carvalho, o governo federal elabora um plano para identificar os descontos fraudados e permitir as devoluções.
O planejamento, que deve ser apresentado “em breve”, como afirmou o ministro, vai detalhar o total dos valores que serão ressarcidos e o formato das reposições.
*Com informações do R7.