Brasil lança programa Open Industry e entra na corrida global da Economia de Dados

Com o objetivo de colocar o Brasil no radar de uma nova era da Economia de Dados, foi lançado o programa Open Industry nesta quarta-feira, 30, no Parque de Inovação Tecnológica (PIT) de São José dos Campos. A iniciativa visa posicionar o país como um dos protagonistas globais no uso ético, soberano e colaborativo de dados industriais. A missão do Open Industry é estimular uma cultura de dados no país, capacitar profissionais, apoiar a criação dos primeiros Data Spaces brasileiros e fomentar o surgimento de novos modelos de negócios sustentáveis.

Idealizado pela Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABINC) em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o Open Industry tem como objetivo estabelecer no Brasil os Espaços de Dados (Data Spaces) — ambientes seguros, normatizados e interoperáveis para o compartilhamento de dados entre empresas, fornecedores, startups, governo e centros de pesquisa.

O evento de lançamento contou com autoridades como Stefan Schnorr, secretário de Estado do Ministério Alemão de Digital e Transportes (BMDV); Henrique Miguel, secretário de Transformação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Cristiane Rauen, diretora de Transformação Digital e Inovação do MDIC; David Domingos, diretor de Desenvolvimento Internacional de Negócios da Fraunhofer IPK; Jefferson Gomes, diretor de Tecnologia e Inovação, Confederação Nacional da Indústria (CNI) e professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA); Paulo José Spaccaquerche, presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABINC); e Flavio Maeda, vice-presidente da ABINC.

“Estamos criando uma visão compartilhada para a economia de dados — uma economia em que os dados são compartilhados com segurança e soberania. A Alemanha está pronta para seguir neste caminho com vocês”, afirmou Stefan Schnorr, secretário de Estado do Ministério Federal Alemão para Digital e Transportes.

O programa vai além da Indústria 4.0: trata-se da construção de uma nova economia baseada no fluxo seguro e escalável de dados entre ecossistemas corporativos, permitindo que dados sejam tratados como ativos estratégicos, gerando valor em toda a cadeia produtiva. Isso inclui aplicações em setores como manufatura, agronegócio, logística, energia e saúde.

Segundo Flávio Maeda, vice-presidente da ABINC e diretor de Digitalização da AFRY América Latina, o Open Industry busca inserir o Brasil de forma proativa nessa transformação global. “A Economia de Dados representa uma janela de oportunidade para o Brasil se posicionar desde o início, com chances reais de protagonismo regional nas Américas — e até de liderar, em alguns setores, à frente da Europa. Como grande parte da tecnologia já está disponível, temos a oportunidade de acelerar a implementação com base no conhecimento e nos investimentos significativos que já foram feitos lá fora. Estamos diante da chance de criar um novo setor econômico baseado em dados — e não apenas de modernizar a indústria existente. O Open Industry é uma aliança entre empresas, governo e academia para construir uma infraestrutura digital interoperável, com padrões internacionais, que permita às empresas gerar valor real com os dados que produzem todos os dias”, ressaltou.

Durante a programação, foram apresentados os fundamentos técnicos e jurídicos da nova infraestrutura digital, com destaque para o plano de criação do primeiro Data Space brasileiro, em parceria com a ABDI – seguindo o padrão da International Data Spaces Association (IDSA) que está sendo implementado no Brasil pela ABNT em parceria com a ABINC. Também foram compartilhados cases internacionais, como a cadeia de logística da Thyssenkrupp e a rede de fornecedores conectados da ASML.

Para Jefferson Gomes, diretor de Inovação da CNI e professor do ITA, o Open Industry representa uma oportunidade de posicionar o Brasil com protagonismo na economia digital. “Quando você faz avião, você aprende o que é integração de sistemas — e nós sabemos fazer isso. A troca de dados já é parte da nossa história. Mas precisamos agora avançar: melhorar infraestrutura, capacitar pessoas, adaptar modelos de negócio e criar regulações que permitam ao Brasil liderar essa transformação. O Open Industry tem potencial para isso — e se a gente medir os KPIs, vai ter muito motivo para aplaudir”, discorreu.

Paulo Spaccaquerche, presidente da ABINC, explicou que o dado já é um ativo econômico, porém a indústria ainda não sabe como explorar todo esse potencial: “Com o Open Industry, temos a chance de liderar esse movimento nas Américas”.

O apoio governamental também foi reforçado por Henrique Miguel, secretário de Ciência e Tecnologia para a Transformação Digital do MCTI, que ressaltou que o governo já vem trabalhando com o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, que inclui ações voltadas ao setor privado e à criação de um centro nacional para desenvolvimento de IA com foco na indústria.

“O Open Industry se encaixa nesse esforço: estamos falando da criação de mecanismos que permitam compartilhar dados com segurança, apoiar a digitalização das cadeias produtivas e gerar valor. Essa é uma infraestrutura essencial para a nova economia baseada em dados, e o MCTI está comprometido em apoiar sua construção, em parceria com a indústria e com instituições nacionais e internacionais”, disse.

Cristiane Rauen, diretora de Transformação Digital e Inovação do MDIC, também destacou a urgência da agenda. “A economia digital precisa ser agora uma economia baseada em dados, uma economia voltada a criar valor a partir dos dados gerados”, afirmou. “96% dos dados da indústria não são utilizados ou apropriados em termos de valor. É hora de estruturar práticas de compartilhamento seguro, eficiente e tecnologicamente respaldado de dados – seja de governo para empresas, de empresas para governos ou entre empresas”.

Segundo Cristiane, o MDIC está comprometido com a construção dessa nova infraestrutura digital: “Estamos muito entusiasmados em criar o primeiro data space da indústria e apoiar ações de inteligência artificial para a indústria brasileira. É com muito entusiasmo que hoje o MDIC se representa. Falo isso em nome de todo o Ministério, de todas as secretarias, e não só da minha secretaria”.

A expectativa é que a economia global de dados atinja 827 bilhões de euros até o fim de 2025, com quase 30% da datasfera operando em tempo real. O Open Industry pretende garantir que o Brasil participe ativamente desse novo ciclo econômico, com inovação e competitividade. “Essa é a hora do Brasil. A indústria precisa aprender a gerar valor com dados, e o Open Industry é a ponte para isso”, conclui Maeda.

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