A maior comunidade equatoriana na América Latina não votou neste domingo (13) pelo segundo turno das eleições presidenciais. Na disputa entre a candidata da Revolução Cidadã, Luisa Gonzalez, e o atual presidente de direita, Daniel Noboa, quem está na capital venezuelana de Caracas não teve acesso ao consulado do Equador para escolher o seu candidato.
A maioria deles questiona a conduta do governo equatoriano, já que o colégio eleitoral da Venezuela é o maior fora do Equador. Ao todo, mais de 10 mil equatorianos estão aptos a votar no país vizinho.
Tudo começou no sábado (12), quando o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador anunciou que o consulado do país na Venezuela não poderia realizar a votação. A justificativa usada pelo órgão foi que não havia permissão nem condições logísticas para isso. A representação diplomática equatoriana em Caracas, no entanto, já havia recebido autorização do governo venezuelano para a votação.
O CNE alega que o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países é o principal motivo para isso. A Venezuela anunciou em abril de 2024 o fechamento dos consulados e de sua embaixada no Equador, em represália ao governo de Daniel Noboa pela invasão da embaixada mexicana para a prisão do ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas.
Na ocasião, Maduro pediu que seja restituído o status de asilado político a Jorge Glas, concedido pelo governo do mexicano um dia antes da invasão da embaixada, e declarou que apoia “plenamente” o pedido do México à Corte Internacional de Justiça para que o Equador seja expulso da ONU.
Ao todo, 300 mil equatorianos vivem na Venezuela. Eles afirmam, no entanto, estarem respaldados pela própria Constituição do Equador. Os artigos 62 e 63 da Carta Magna garante o voto de qualquer cidadão equatoriano.
Eliana Correa é “assembleista” da Revolução Cidadã para América Latina, Caribe e África. O cargo funciona como uma representação dos imigrantes equatorianos nas eleições. De acordo com ela, o consulado em Caracas tinha totais condições de receber as eleições do país, já que, além de tudo, está sendo administrado pela Suíça, um país que receberá eleitores.
“Dizer que não tem condições é mentira, porque o CNE pode mudar o colégio eleitoral antes de celebrar a votação. Se tem problema com esse colégio, muda para outro. Disse que não havia funcionários, mas aqui estão os funcionários. O próprio governo venezuelano nos deu apoio e autorização para isso. O que vemos é falta de vontade política e operatividade. Tirou o direito desses 10 mil equatorianos”, afirmou ao Brasil de Fato.
Depois de Caracas estão Chile, Colômbia e Argentina como maiores colégios eleitorais equatorianos na América Latina. em toda América, só os Estados Unidos tem um contingente maior de eleitores equatorianos.
A maioria dos eleitores na Venezuela sempre votou pela Revolução Cidadã. O próprio ex-presidente Rafael Correa venceu no país em 2013. Ao todo, recebeu 70.94% dos votos. Segundo Eliana Correa, a tendência é que Luisa González recebesse a maioria dos votos, o que faria uma diferença no resultado final.
Luciano Cardenas é mobilizador da Revolução Cidadã na Venezuela e está há 41 anos vivendo no país. Ele afirma que essa manobra do governo mostra uma postura “ditatorial” de Noboa, que quer usar outras ferramentas fora da campanha eleitoral para garantir a sua vitória.
“Essa ditadura do Noboa não nos permitiu votar já no primeiro turno e viola pela segunda vez nosso direito. Isso está violando nossos direitos políticos, o que não podemos aceitar. Eles formam uma ditadura disfarçada de democracia. A maioria dos venezuelanos que estão aqui votariam na Luisa”, disse ao Brasil de Fato.
Mais denúncias
Movimentos de esquerda também têm denunciado outras irregularidades no pleito, como a mudança de 18 colégios eleitorais depois do prazo mínimo estipulado de 24 horas. Em documento assinado pela Revolução Cidadã e outros 4 partidos, os movimentos afirmam que observadores internacionais foram impedidos de entrar no país e questionam o decreto de estado de exceção.
A carta pede também apoio de organismos internacionais como a ONU e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos para denunciar as irregularidades. Wilson Borba é diretor da Revolução Cidadã na Venezuela. Ele afirma que, neste contexto, é fundamental o apoio externo para denunciar essas violações.
“Vamos estar aqui para estar o tempo que seja necessário para garantir a nossa Constituição. Por isso que nossa presença como dirigentes políticos, como comunidade é uma luta. Isso não é só uma questão política porque afeta todos os equatorianos. Por isso pedimos apoio externo para resolver essa questão”, afirmou ao Brasil de Fato.
Noboa e González terminaram o primeiro turno praticamente empatados, com uma diferença de 0,17% a favor da candidata de esquerda. No segundo turno, analistas e pesquisas apontam uma disputa voto a voto. Mas a disputa também está sendo envolta em atmosfera de tensão: às vésperas do pleito, Noboa decretou estado de exceção em boa parte do país.
Esta será a segunda vez que os candidatos se enfrentam no segundo turno de uma corrida eleitoral para a Presidência. A primeira foi em 2023, em uma eleição antecipada para completar os 15 meses de mandato de Guillermo Lasso, que havia convocado uma votação rápida para evitar o impeachment por suposto desvio de dinheiro. À época, Noboa venceu com margem apertada de 52,1% dos votos.