
Reintrodução dos dez indivíduos ocorreu nas proximidades do Parque Estadual do Rio Doce. Indivíduos de jacutinga foram soltos próximos ao Parque Estadual do Rio Doce
Edgar Fernandez
Uma inciativa entre a Sociedade de Pesquisa do Manejo e Reprodução da Fauna Silvestre (Crax Brasil) e a empresa Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra) vem contribuindo para o crescimento da população de jacutingas (Aburria jacutinga) no estado de Minas Gerais.
Por meio do projeto, cinco casais de jacutingas foram soltos em uma área de proteção próxima ao Parque Estadual do Rio Doce na última sexta-feira (4). A ação faz parte da celebração dos 35 anos de parceria entre a ONG e a empresa parceira.
Indivíduos de jacutinga foram soltos próximos ao Parque Estadual do Rio Doce
Edgar Fernandez
De acordo com o biólogo Edgar Fernandez, integrante da equipe do Crax, 140 indivíduos da espécie foram reintroduzidos à natureza em 35 anos de atuação dos técnicos, incluindo 59 filhotes oriundos das aves reintroduzidas que puderam ser observados em vida livre.
Os cinco casais soltos em abril vieram da sede do Crax, localizada em Contagem (MG), onde são realizados os procedimentos de reprodução assistida. O monitoramento posterior e a realização de ações de educação ambiental com a comunidade serão realizados pela Cenibra.
Ave foi classificada como Em Perigo (EN) pela avaliação do ICMBio
Edgar Fernandez
“A gente usa o termo ilha genética, né? Se um dia acontecer alguma coisa no criador, um dia acontecer uma fatalidade, a gente tem indivíduos geneticamente distribuído em várias áreas para poder iniciar um novo trabalho”, comenta Edgar sobre a importância de aumentar o banco genético da espécie para que a população cresça de forma saudável.
Além do projeto com a jacutinga, a ONG mantém iniciativas com espécies como o mutum-do-sudeste, mutum-de-alagoas, ararinha-azul, choquinha-de-alagoas, gato-do-mato-grande, macaco-prego-galego, mico-leão-preto, tamanduá-bandeira, cervo-do-pantanal, entre outras.
Uma espécie em perigo
Dados do Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (Salve) do ICMBio mostram que a Aburria jacutinga ocorre originalmente no nordeste da Argentina, sudeste do Paraguai e Brasil, da Bahia ao Rio Grande do Sul.
Cinco casais da espécie foram reintroduzidos pelos técnicos do projeto
Edgar Fernandez
No entanto, essa ocorrência foi diminuindo continuamente devido à caça de exemplares e à perda de habitat. Classificada como Em Perigo (EN), a ave chegou a ser extinta em diversas áreas de sua distribuição, como no extremo sul da Bahia, em todo o Espírito Santo e no centro-oeste do Paraná.
“A partir de estimativas para a principal subpopulação existente em florestas montanhosas de São Paulo, infere-se que na população brasileira haja menos de 2.500 indivíduos maduros, sendo que há menos de 250 deles em cada subpopulação”, informa o Salve.
Roberto Azeredo, fundador da Crax Brasil, destaca que o número de filhotes nascidos pode ser ainda maior, visto que os pais têm uma habilidade notável em camuflar seus filhotes ao perceberem a presença humana.
Cinco casais da espécie foram reintroduzidos pelos técnicos do projeto
Edgar Fernandez
A espécie desempenha um papel importante como dispersora de sementes, segundo ele, se alimentando de, pelo menos, 41 tipos diferentes de frutos. Além de manter o equilíbrio ecológico do bioma, a ave auxilia na restauração de áreas degradadas.
A jacutinga
Nativa da Mata Atlântica, a ave habita florestas até 1.850 metros de altitude, se concentrando em altitudes medianas, até 900 metros. É muito encontrada em florestas ricas em palmito (Euterpe edulis) ou outras palmeiras, além de áreas próximas à córregos ou rios.
Ocorre solitária ou em pequenos grupos de até 12 indivíduos, se reproduzindo entre agosto e novembro. Seu ninho é uma plataforma simples, construída com galhos e ramos no alto das árvores. A fêmea coloca de dois a três ovos de casca branca, que se torna marrom com o passar do tempo.
Se alimenta de frutos, principalmente do palmito, mas também sementes, grãos e brotos. Ocasionalmente, consome insetos e moluscos. Regurgita as sementes ingeridas ou as elimina juntamente com as fezes, por isso tem um papel ecológico essencial no bioma.
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