Agricultor volta a enxergar após doação de células-tronco da irmã


Deusdete Lino Pereira recuperou a visão após seis anos depois da doação de células-tronco de uma irmã, na Paraíba. Agricultor do Sertão da PB volta a enxergar após doação de células-tronco da irmã
Divulgação/Help
O agricultor Deusdete Lino Pereira, de 54 anos, teve a vida transformada quando perdeu a visão e, após uma doação da irmã Eliete Pereira, voltar a enxergar. Morador de Igaracy, no Sertão da Paraíba, ele realizou o sonho de recuperar a visão.
“Ele agora está independente. Graças a Deus! É um tempo novo para ele. Ele disse que renasceu de novo”, celebrou Eliete, doadora.
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A vida de Deusdete começou a mudar em 2014, quando o agricultor estava trabalhando pintando uma casa e o balde de tinta virou sobre Deusdete e atingiu um de seus olhos. De acordo com Eliete Pereira ao g1, após o acidente, Deusdete procurou ajuda médica em algumas cidades, como Patos, João Pessoa, Recife e Brasília, mas os tratamentos realizados não surtiram efeito e o agricultor perdeu a visão do olho atingido pela tinta.
“O [primeiro] doutor falou que era caso cirúrgico. Passou para meu irmão algumas injeções para que depois ele voltasse para fazer a cirurgia. E quando ele voltou, o médico falou que não era necessário. E meu irmão ficou usando um colírio, mas a visão só piorava, até chegar ao ponto de perdê-la. Depois ele procurou outros atendimentos médicos. Os médicos falavam que tinha jeito dele recuperar a visão, porque não tinha sido perca total, mas nada foi resolvido”, explicou Eliete.
Em 2018, Deusdete sofreu outro trauma forte na região dos olhos. Ele estava trabalhando num roçado e o olho esquerdo foi atingido por uma pedra. O trauma na região foi irreversível e Deusdete precisou remover o olho esquerdo. Segundo Eliete, para o agricultor, mesmo sem enxergar mais nada, ele ainda tinha esperança de, um dia, poder ver novamente.
“Ele ficou muito triste, mas não reclamava, só dizia que tinha entregado toda aquela situação para Deus. Que ia voltar a enxergar, porque Deus estava cuidando de tudo”, explicou.
Com a cegueira de ambos os olhos, Deusdete passou a depender de terceiros. Ele era guiado pela esposa, que o auxiliava em várias atividades durante o dia. A família do agricultor o ajudou de várias formas, sendo uma delas através de campanha solidária.
Doação de células-tronco devolve a visão para Deusdete
A força de vontade de Deusdete em voltar a enxergar, aliado com o conhecimento médico, fez esse sonho se tornar realidade. Depois de uma pesquisa na internet, Deusdete conheceu o caso de uma paciente na cidade de Itaporanga, próximo a região de Igaracy, que havia feito um transplante de célula-tronco do limbo em Campina Grande e queria tentar essa alternativa.
Em Campina Grande, Deusdete foi atendido pelo médico Diego Gadelha, que avaliou a situação como grave, mas que podia ser reversível. Ao g1, o médico explicou que precisou de um doador em primeiro grau para fazer o transplante e minimizar os riscos de rejeição da parte transplantada.
“Quando se tem uma queimadura química só em um olho, muitas vezes a gente pode fazer o transplante de células-tronco do limbo da conjuntiva do outro olho. Como nesse caso ele não tinha o outro olho viável, a gente precisou lançar mão da utilização de um parente em 1° grau, no caso dele a irmã, que fez a doação”, explicou o oftalmologista Diego Gadelha.
De acordo com o oftalmologista Diego Gadelha, foi retirada células-tronco do limbo da conjuntiva da córnea do olho direito de Eliete Pereira e transplantado para o olho direito de Deusdete. Segundo o médico, a parte que recebeu o transplante precisa cicatrizar, retirar uma membrana e criar condições para que ele volte a enxergar. A doadora foi Eliete, que de prontidão se prontificou a realizar o transplante para Deusdete.
“Quando o médico falou que precisava de um doador que fosse compatível com ele, eu me prontifiquei de primeira. Enquanto ele estava em Campina Grande, a gente daqui [Igaracy] ia mantendo contato. E quando ele chegou, ele me perguntou se eu estava preparada para ser a doadora dele. Eu disse que sim!”, explicou Eliete.
A cirurgia aconteceu em 9 de janeiro, no Hospital HELP (Hospital de Ensino e Laboratórios de Pesquisa), da Fundação Pedro Américo, em Campina Grande. E a recuperação de Deusdete foi rápida. Ainda na sala de cirurgia, ele já conseguiu ver algumas imagens.
“O resultado de cara já foi muito bom, obviamente é um processo lento, pois existem riscos de rejeição, como todo transplante, e a gente está fazendo o trabalho de imunossupressão, acompanhamento clínico”, disse o especialista.
Deusdete recebeu alta hospitalar no mesmo dia do transplante, voltou no dia seguinte para acompanhamento, e está sendo acompanhado uma vez por semana. Segundo o oftalmologista Diego Gadelha, o paciente está enxergando bem, mas ainda não é 100%, pois existe um processo de cicatrização, tendo em vista que a recuperação é boa e Deusdete já tem uma quantidade de visão funcional.
“Foi um momento único em nossas vidas. Motivo de muita alegria e gratidão”, celebrou Eliete.
Com a realização da cirurgia, Deusdete voltou a enxergar gradativamente, pois exige um período de cicatrização. O médico Diego Gadelha especificou que a visão de Deusdete estaria na casa dos 70%, e que pode melhorar com o passar do tempo.
“Se fosse matemática, podemos dizer que ele está próximo de 70% algo assim, mas na prática ele não enxergava nada e agora ele enxerga. O fato é que ele recuperou a visão e essa recuperação da visão pode melhorar ainda mais com o avançar do tratamento”, explicou o oftalmologista.
Deusdete agora vai precisar de pelo menos seis meses para obter a estabilização do transplante e a imunossupressão (diminuição da resposta imune devido ao uso de algumas medicações) deve durar, no mínimo, dois anos.
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