‘Achei que ia morrer’, diz mulher que acusa ex de agredi-la e jogá-la para fora de carro em movimento


Gabriele Carolina Gonçalves ficou 22 dias internada por causa de ferimentos graves na cabeça ao ser vítima de tentativa de feminicídio em Cajuru, SP. Agressor está preso há duas semanas. A comerciante Gabriele Carolina Gonçalves, que acusa o ex-marido de jogá-la de um carro em movimento em Cajuru (SP) após uma série de agressões, falou pela primeira vez sobre o caso nesta segunda-feira (31). Ela diz que pensou que fosse morrer e se emocionou ao lembrar do ataque em janeiro deste ano.
“Pedi muito a Deus para me salvar, eu achei que ia morrer. Lembrar todos os dias o que ele fez comigo dói muito.”
Denis Cipriano de Carvalho Silva, de 31 anos, está preso desde o dia 16 de março por descumprir uma medida protetiva expedida pela Justiça. A defesa nega que ele tenha desobedecido à ordem para ficar longe de Gabriele e também afirma que ela pulou do carro por vontade própria.
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Gabriele sofreu graves ferimentos na cabeça que a deixaram internada por 22 dias. Ela é categórica ao acusar o ex de ter tentado matá-la.
“Eu não me joguei, eu tenho certeza absoluta que eu não me joguei. Eu me lembro exatamente de tudo o que ele me fez, dele me jogar para fora. Foi difícil. É um milagre estar andando, conversando novamente. Deus foi bom comigo por me deixar viva pra eu poder contar o que houve comigo.”
A comerciante Gabriele Carolina Gonçalves foi vítima de tentativa de feminicídio em Cajuru, SP
Aurélio Sal/EPTV
Na sexta-feira (28), a Justiça acolheu a denúncia do Ministério Público e Denis virou réu no processo por tentativa de feminícidio. A defesa protocolou um habeas corpus, mas o pedido ainda não foi analisado.
Socos e cabeça contra o painel
Gabriele afirma que Denis é ciumento e possessivo. Mesmo com uma loja de moda country para cuidar, ela não podia conversar com as pessoas. No dia do crime, ela e Denis participavam da “Festa de São Sebastião” quando ele começou a discutir por causa do contato dela com clientes.
Para evitar conflito, ela decidiu ir embora e já estava perto da casa deles quando foi surpreendida por Denis. Segundo ela, as agressões começaram no meio da rua.
“Ele falou ‘monta no carro’. Eu disse não. Nesse momento, começou a agressão, socos muito fortes no meu rosto. Meu olho ele socou tão forte que eu cheguei a ajoelhar de tanta dor. Eu fui arrastada pra dentro da caminhonete, ele me puxou pelo cabelo, segurou o meu braço e me colocou pra dentro. Eu vi uma moça e pedi socorro pra ela. Nesse momento, eu comecei a ser batida dentro da caminhonete, bateu a minha cara no painel. Quando eu vi as pessoas [na rua], eu comecei a gritar socorro pra elas poderem me resgatar, mas eu apanhava, apanhava, apanhava mais”, diz.
A comerciante Gabriele Carolina Gonçalves mostra o corte da cirurgia feita na cabeça após ser vítima de tentativa de feminicídio em Cajuru, SP
Aurélio Sal/EPTV
Queda do carro em movimento
Gabriele conta que para escapar das agressões, pensou em saltar do carro. A comerciante acreditou que Denis pararia o veículo diante da fala dela e ela teria a chance de sair e buscar socorro. Mas, no momento em que avisou que ia pular, a comerciante diz que foi jogada.
“Na hora que eu disse ‘Denis, para a caminhonete senão eu vou abrir a porta e vou me jogar’, eu abri a porta. Quando eu abri a porta, ele me deu um empurrão. Foi tão forte aquele empurrão, tão forte, que eu caí olhando para o rosto dele. Ele estava muito nervoso comigo. A minha cabeça bateu no chão e o meu pé esquerdo ficou travado dentro da caminhonete. Foi aonde ele saiu me arrastando por alguns metros e quando eu consegui soltar meu pé, eu saí rolando daquele jeito.”
Uma câmera de segurança perto da Rua Capitão José Ferreira Diniz, no Centro de Cajuru, registrou o momento em que Gabriele caiu rolando no asfalto (assista ao vídeo abaixo). Denis parou o veículo e foi até a mulher, que estava imóvel, e tentou levantá-la.
Mulher é jogada de carro em movimento em Cajuru, SP
Segundo a comerciante, mesmo gravemente ferida, Denis a ameaçou. Gabriele acredita que só está viva porque outras pessoas chegaram e impediram que ele a tirasse do local.
“A hora que ele chegou em cima de mim ele disse: ‘Você quer sofrer? Você vai sofrer em casa agora.’ E me pegou daquele jeito. Eu sentia o sangue na minha boca, sentia que estava sangrando muito e não conseguia me mexer pra ficar longe dele. Provavelmente ele sumiria com o meu corpo [se não tivessem pessoas no local], porque provavelmente eu teria morrido. Ele teria sumido comigo para longe de todo mundo, eu teria morrido”, diz.
Espera por justiça
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) com base no prontuário médico atestou que Gabriele sofreu traumatismo craniano e uma lesão cerebral que resultou no acúmulo de sangue. Ela precisou ser operada para drenar o líquido.
À Polícia Civil, parte das testemunhas disse ter visto Gabriele sendo agredida dentro do carro e ouvido os pedidos de socorro. Outras testemunhas contaram que Denis estava alterado, sob efeito de bebida alcoólica e chegou a ficar agressivo no momento em que a polícia foi mencionada.
Gabriele voltou ao trabalho no início de março, foi quando houve o descumprimento da medida protetiva porque Denis passou a sondar a loja dela.
Denis e Gabriele estavam juntos há seis meses em Cajuru, SP, quando crime aconteceu
Arquivo pessoal
Ainda em recuperação, a jovem espera que o ex-companheiro seja julgado e condenado.
“A condenação precisa existir para ele não poder fazer isso com mais nenhuma mulher. O que ele fez comigo ele precisa pedir perdão a Deus, o que ele fez comigo não foi bom. Eu quero que a justiça seja feita.”
O que diz a defesa do acusado
O advogado de defesa de Denis nega todas as acusações, desde as agressões dentro do carro ao empurrão que a vítima alega ter recebido quando caiu do carro em movimento.
Maurício Lins Ferraz argumenta que, além de seu cliente negar, não há nenhum testemunho ou evidência que prove que Denis agrediu Gabriele dentro do carro.
“Ela foi submetida a exame de corpo de delito e o exame não constatou qualquer vestígio de agressão no rosto dela, que certamente haveria, tivesse ela sido vítima de violências dessa ordem. Isso não acontece, não tem. Os únicos vestígios são na cabeça, onde ela sofreu cirurgia e evidentemente isso decorreu do choque dela quando ela bate a cabeça no chão”, diz.
O advogado Maurício Lins Ferraz, que defende Denis Cipriano em Cajuru, SP
Aurélio Sal/EPTV
Sobre o empurrão para fora do carro, argumenta que a própria Gabriele admitiu ter aberto a porta do carro para tentar pular e que ela tinha bebido naquela noite.
“Ela estava em um momento de desequilíbrio emocional, estava muito embriagada, nós temos evidências disso nos autos e isso que levou ela a praticar esse gesto, que alias já era uma atitude que algumas vezes ela tinha dito que poderia praticar”, afirma.
O advogado também nega que Denis tenha sido agressivo quando se aproximou da namorada após a queda no asfalto, bem como a alegação de que não prestou socorro. Segundo ele, seu cliente desceu do automóvel para socorrer a vítima, mas foi alertado por outras pessoas de que precisaria deixá-la imóvel.
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