Clandestinidade, veículos em mau estado e acidentes: por que a mobilidade preocupa na Região Metropolitana de Ribeirão Preto


Levantamento aponta cerca de 2,1 mil acidentes em rodovias da região em 2024, maior número desde 2016; foram 46 mortes. Artesp diz que intensificou fiscalizações. Em 2023, ônibus com trabalhadores rurais capotou e causou morte em Santo Antônio da Alegria, SP
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O desafio de trabalhar ou estudar em uma cidade diferente da que mora é potencializado pelas diferentes dificuldades que moradores da Região Metropolitana de Ribeirão Preto (SP) enfrentam em relação à locomoção.
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Transportes coletivos lotados e rodovias em más condições são os principais problemas encontrados e que comprometem a segurança do deslocamento viário, mesmo em locais sob concessão da iniciativa privada.
E a falta de segurança é refletida através dos números de acidentes nas estradas. Segundo dados da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) levantados pelo g1, na malha viária concedida da região, foram cerca de 2,1 mil acidentes em 2024, o maior número desde 2016. Destes, houve 46 mortes.
Ribeirão, Sertãozinho (SP), Jardinópolis (SP), Jaboticabal (SP) e Cravinhos (SP) concentram a maioria dos acidentes. Veja no gráfico abaixo:

Ainda de acordo com o levantamento, os tipos de acidentes mais comuns são:
Choques – 529 ocorrências
Colisões traseiras – 524 ocorrências
Tombamentos – 295 ocorrências
Esta reportagem faz parte do especial “Desafios da Metrópole”, série do g1 que mostra os potenciais e os dilemas da região de Ribeirão Preto (SP) nas áreas da inovação, saúde, segurança pública, mobilidade e economia.
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Quais são os problemas do transporte público?
Diretor de Procedimentos e Logística da Artesp, Laercio Paulino Simões pontuou ao g1 que a principal preocupação atual da agência é com a clandestinidade dos ônibus.
“Temos detectado muita coisa. A clandestinidade tem muita coisa a ver nessa região. Isso está nos preocupando muito, a gente acompanha isso de minuto a minuto. Quando não está cadastrado na Artesp, significa que é clandestino. Quando está cadastrado aqui, a gente, periodicamente, dependendo da idade do ônibus, nossos engenheiros fazem vistoria nos ônibus. Quando é clandestino, fica difícil”, destaca.
Diante desse cenário, segundo o diretor, a Artesp resolveu intensificar as fiscalizações nos últimos meses. Veja abaixo os números de outubro a dezembro na região de Ribeirão Preto:
450 fiscalizações
204 autos de infração
37 notificações
34 retenções
4 remoções para o pátio
Simões acredita que retirar de circulação esses veículos irregulares seria uma das soluções contra as ocorrências envolvendo o transporte coletivo. No entanto, ele ressalta que o desafio é complexo, uma vez que até mesmo órgãos públicos se utilizam da prática.
“Quando a gente retirar o transporte clandestino, a gente vai melhorar muito a performance de segurança. O pior é que a gente tem clandestinidade nas próprias prefeituras. Prefeituras pequenas, principalmente, estão transportando trabalhadores em condições precaríssimas. Estamos combatendo [também] prefeituras”, afirma.
Acidente com ônibus de excursão termina em morte e feridos na Rodovia Anhanguera, na região de Ribeirão Preto (SP)
Guilherme Leoni/EPTV
Quais são os outros problemas nas rodovias?
Já em relação aos demais problemas em rodovias que cortam a região, o diretor da Artesp elencou uma série de fatores que, de acordo com ele, põe em risco a segurança de motoristas e pedestres. Os problemas citados foram:
Andarilhos nas rodovias
“As nossas câmeras estão detectando andarilhos nas rodovias, e isso dá uma margem muito forte de acidente. A gente já conversou com as concessionárias, para que, quando eles detectam andarilhos, eles vão até eles, peguem esses andarilhos, tirem das rodovias. Quando não tem jeito, que ele tem que caminhar, eles estão ganhando coletes de segurança.”
Motociclistas em baixa velocidade
“O motociclista é um problema muito sério. Aquele motociclista acima de 125 cilindradas anda em uma velocidade normal na pista. Agora, o problema são as motos de baixa cilindrada. Essa não consegue andar no tráfego. […] Vem uma carreta que está descendo, e ela não consegue desviar de uma moto, vai dar um acidente, porque ela [moto] está em baixa velocidade.”
Rodovia na região de Ribeirão Preto (SP)
Ronaldo Gomes/EPTV
Carros em mau estado de conservação
“Esses carros [em mau estado de conservação] a própria polícia está parando, tirando de circulação, mas nossa legislação, se o carro está em condições documentais, pneus bons, a Polícia Rodoviária não pode tirar o carro só porque ele é velho.”
Caminhões com problemas de sinalização e iluminação
“Nessa região, a gente tem um problema dos caminhões de cana. Esse trafega em uma velocidade muito baixa, principalmente na subida, daí tem muita colisão traseira. Normalmente, esses caminhões saem da roça com uma condição de sujeira das lanternas muito ruim, e o pessoal não enxerga.”
Vítimas das estradas
Ônibus capotou na Rodovia Deputado Cunha Bueno, em Guatapará (SP), e matou nove pessoas
Werlon Cesar/EPTV
Em outubro de 2023, um ônibus que transportava 26 membros de uma excursão religiosa saiu da Rodovia Deputado Cunha Bueno (SP-253), caiu em um barranco de cerca de dois metros de altura e tombou, perto de Guatapará (SP). Nove pessoas morreram.
O laudo do Instituto de Criminalística (IC) apontou que o veículo apresentava má conservação dos tambores de freio da dianteira e da traseira, o que eventualmente pode acarretar perda da eficiência de frenagem do veículo. No local do acidente, a perícia constatou que havia um desnível de 7,3 centímetros entre a pista e o acostamento.
Nesta semana, o g1 conversou com um dos sobreviventes da tragédia. Sem se identificar, ele destacou o trauma e outras sequelas emocionais que o acidente causou.
“Já passou um bom tempo, sofri muito com isso, ainda até hoje sofro com problemas emocionais, ansiedade, vivo à base de remédios. Passei por psicólogo. Estou vivendo a vida. Foi uma das piores coisas que passei na minha vida, nunca imaginei ou sonhei em pensar. E nem gosto de lembrar, porque a cada vez que lembro, parece que estou vivendo o momento novamente”, citou.
As nove vítimas do acidente foram:
Edna de Fátima Ducatti Natalini, de 58 anos
Idalina Ribeiro Neves, de 84 anos
Lindalci Ribeiro da Silva, de 50 anos
Maria Aparecida dos Santos Pereira, de 55 anos
Tereza Amélia Sales dos Santos, de 60 anos
Paulo dos Santos, de 53 anos
Maria de Fátima Batistela Fumes, de 69 anos
Josefa Jovina dos Santos, de 77 anos
Maria Aparecida de Sousa, de 70 anos
Em cima, da esquerda para a direita, Idalina Ribeiro Neves, Edna de Fátima Ducatti, Josefa Jovina dos Santos e Paulo dos Santos; embaixo, da esquerda para a direita, Maria de Fátima Batistela Fumis, Lindalci Ribeiro da Silva, Tereza Amélia Salles dos Santos, Maria Aparecida Santos e Maria Aparecida de Souza guatapará monte alto acidente ônibus
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