Nunes inicia 2º mandato com ala bolsonarista e núcleo político pessoal

São Paulo — O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), inicia o segundo mandato com uma ala bolsonarista e uma presença maior de políticos de sua cota pessoal. A cerimônia de posse de Nunes, do vice Mello Araújo e dos 55 vereadores eleitos ocorre na tarde desta quarta-feira (1º/1).

O emedebista assumiu em maio de 2021 após a morte de Bruno Covas (PSDB) e manteve políticos que lembravam o perfil do ex-prefeito, mais ao centro. Agora, trouxe representantes do conservadorismo à sua gestão e imita seu principal aliado político, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), no ímpeto privatista e linha-dura na segurança.

Reeleito com mais de 3 milhões de votos no segundo turno, Nunes desenhou um secretariado que se parece mais com seu perfil político e também paga o pedágio à ala bolsonarista que o apoiou na campanha. A começar pelo vice, coronel Mello Araújo, que assumirá a pasta de Projetos Estratégicos. Araújo foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que apoiou timidamente Nunes durante a campanha.

Outra integrante dessa ala na gestão é a advogada Angela Gandra, nova secretária de Relações Internacionais. Filha do jurista Ives Gandra Martins, Angela foi secretária da Família no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos sob a gestão de Damares Alves (Republicanos), durante o governo Bolsonaro.

Ela chegou ao cargo por indicação da vereadora eleita Zoe Martínez (PL), nome de confiança da família Bolsonaro.

Um terceiro representante do PL é o ex-prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi, este mais ligado à ala do presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto.

Nas redes sociais, Nunes tem adotado um perfil com acenos ao bolsonarismo raiz e também à ala ligada a Tarcísio, que foi o principal fiador da campanha à reeleição do prefeito. Recentemente, Nunes fez propaganda do Smart Sampa, sistema de vigilância inteligente da cidade, com legenda: “Sem chance para a bandidagem”.

 

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Uma publicação compartilhada por Ricardo Nunes (@prefeitoricardonunes)

O governador também é presença cotidiana nas postagens do prefeito, enaltecendo parcerias entre prefeitura e Estado. Uma das publicações recentes do perfil oficial de Nunes mostra um discurso feito por Tarcísio elogiando as ações conjuntas entre eles, no qual classifica o emedebista como “grande companheiro”.

Apesar dos elogios mútuos em público, o Metrópoles mostrou que, nos bastidores, Tarcísio teria manifestado desconforto com a postura de Nunes após a reeleição, alegando que a vitória do prefeito teria “subido à cabeça”. Oficialmente, o governo nega.

Outra agenda cara a Tarcísio que tem ganhado cada vez mais espaço na Prefeitura paulistana, as parcerias público-privadas estão no radar para diferentes áreas da administração municipal. Na última semana do ano legislativo, por exemplo, foi aprovado um projeto de lei de autoria do Executivo municipal que inclui ciclovias e centros esportivos no Plano Municipal de Desestatização.

Cota pessoal no núcleo político

O núcleo político de Nunes, por outro lado, tem políticos da cota pessoal do prefeito como Edson Aparecido (Governo) e Enrico Misasi (Casa Civil). Aparecido foi coordenador da campanha do prefeito, enquanto Misasi dirige o MDB municipal, máquina controlada por Nunes.

Fabrício Cobra, hoje sem partido, foi movido da Casa Civil para as Subprefeituras. Já o vereador emedebista Sidney Cruz assume a cobiçada pasta da Habitação.

Fernando Padula (Educação) é outro nome considerado da cota pessoal do prefeito. Herdado do secretariado de Bruno Covas, de quem era amigo, e com um histórico de atuação em governos tucanos, Padula foi mantido por Nunes ao longo do primeiro mandato e está confirmado para o início do segundo mandato.

A despeito do desempenho considerado ruim em indicadores de ensino, Padula resistiu ao assédio de partidos como o PL sobre a pasta, que tem orçamento de R$ 25 bilhões previsto para 2025, o maior da gestão. Apesar da continuidade do titular, há um temor entre aliados de que o prefeito possa usar escalões inferiores da Educação e de outras áreas estratégicas para abrigar o bolsonarismo.

Nunes ainda tem acenado para uma agenda mais liberal na educação, com a ampliação de concessões da gestão de escolas à iniciativa privada. O prefeito da capital também pretende adotar o modelo de escolas cívico-militares proposto por Tarcísio de Freitas, que prevê colocar PMs aposentados para trabalharem como monitores nas escolas públicas.

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Ricardo Nunes, Baleia Rossi e Tarcísio de Freitas levam salgados e bolo para jornalistas na porta do Palácio dos Bandeirantes

Tarcísio de Freitas, Jair Bolsonaro, Ricardo Nunes e Coronel Mello Araújo após almoço na Prefeitura de São Paulo
Tarcísio, Nunes, Bolsonaro e bolsonaristas jantando em SP
Milton Leite, presidente da Câmara de SP, Tarcísio, Nunes e Kassab, secretário de Governo
Tarcísio e Nunes recebendo uma bênção
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O governador Tarcísio de Freitas e o prefeito de SP, Ricardo Nunes

Divulgação/Prefeitura de São Paulo

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Ricardo Nunes, Baleia Rossi e Tarcísio de Freitas levam salgados e bolo para jornalistas na porta do Palácio dos Bandeirantes

Juliana Arreguy/Metrópoles

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Tarcísio de Freitas, Jair Bolsonaro, Ricardo Nunes e Coronel Mello Araújo após almoço na Prefeitura de São Paulo

Juliana Arreguy/ Metrópoles

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Tarcísio, Nunes, Bolsonaro e bolsonaristas jantando em SP

Divulgação

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Milton Leite, presidente da Câmara de SP, Tarcísio, Nunes e Kassab, secretário de Governo

Mônica Andrade/Governo do Estado de SP

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Tarcísio e Nunes recebendo uma bênção

Reprodução/Canção Nova

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Nunes, sua mulher, a primeira-dama do Estado e Tarcísio, juntos no The Town

Reprodução/Instagram

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Nunes e Tarcísio

Marcelo S. Camargo / Governo do Estado de SP

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O governador Tarcísio e o prefeito Ricardo Nunes

Mônica Andrade/Governo do Estado de SP

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O prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio de Freitas

Fernando Nascimento/Governo de São Paulo

 

Ex-prefeitos na gestão

As alas bolsonarista e da cota pessoal do prefeito são acompanhadas do núcleo formado por ex-prefeitos da Grande São Paulo que encerraram seus mandatos em 2024 .

Além do ex-prefeito de Suzano no Meio Ambiente, o agora ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, foi escolhido para a Secretaria de Segurança Urbana. A indicação ocorreu dias após Morando anunciar sua saída do PSDB, ao qual era filiado há quase 20 anos, alegando desavenças com a cúpula nacional do partido.

Outro ex-prefeito que fará parte da prefeitura da capital é Rogério Lins (Podemos), que cumpriu dois mandatos no comando de Osasco. Ele assume a Secretaria de Esportes e Lazer.

Promessas

Nunes se comprometeu com uma série de propostas ao longo da campanha para o próximo mandato à frente da Prefeitura de São Paulo. Boa parte dessas promessas não estavam detalhadas no plano de governo do candidato e foram crescendo à medida que os assuntos ganhavam destaque na eleição, principalmente com críticas e ataques dos rivais.

Após o primeiro turno, por exemplo, quando Nunes tentava firmar o apoio dos eleitores de Pablo Marçal (PRTB), que ficou em terceiro lugar, o prefeito passou a prometer a transformação de todos os Centros Educacionais Unificados (CEUs) em centros de qualificação profissional.

Na área da saúde, pela qual foi alvo de duras críticas dos adversários, Nunes fez promessas milionárias, incluindo a construção de quatro unidades do Paulistão da Saúde – o primeiro centro desse tipo, em construção em Santana, na zona norte, já custou mais de R$ 52 milhões e ainda não foi inaugurado.

Um dos primeiros impactos da nova gestão será um reajuste de R$ 0,60 no valor da tarifa de ônibus em São Paulo. A passagem passará de R$ 4,40 para R$ 5, aumento de 13,64%, após ficar quatro anos congelada.

Confira a nova composição do secretariado de Nunes :

  • Assistência Social: Eliana Gomes
  • Casa Civil: Enrico Misasi
  • Comunicação: Fábio Portela
  • Cultura e Economia Criativa: Totó Parente
  • Educação: Fernando Padula (mantido)
  • Esportes: Rogério Lins
  • Desenvolvimento Econômico: Rodrigo Goulart
  • Gestão: Marcela Arruda
  • Governo: Edson Aparecido (mantido)
  • Urbanismo e Licenciamento: Elisabete França (mantida)
  • Infraestrutura e Obras: Marcos Monteiro (mantido)
  • Meio Ambiente: Rodrigo Ashiuchi
  • Mobilidade e Trânsito: Gilmar Miranda (mantido)
  • Projetos Estratégicos: Coronel Mello Araújo
  • Relações Internacionais: Angela Gandra
  • Saúde: Luiz Carlos Zamarco (mantido)
  • Segurança Urbana: Orlando Morando
  • Subprefeituras: Fabrício Cobra (atual Casa Civil)
  • Pessoa com Deficiência: Silvia Grecco (mantida)
  • Procuradoria-Geral: Luciana Sant’Ana Nardi
  • Transporte e Mobilidade Urbana: Celso Jorge Caldeira
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