Treino e obras: o “plano anticaos” da nova operadora da Linha 7-Rubi

São Paulo — A concessionária TIC Trens será responsável pela Linha 7-Rubi em menos de um ano e o histórico recente de problemas envolvendo a entrega das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda para a iniciativa privada levanta uma série de dúvidas sobre o que pode acontecer. O prazo maior, escalonado e com comando compartilhado com a CPTM até o repasse total da operação são algumas das apostas para evitar novos dias de caos sobre os trilhos.

A TIC tem como principais novidades o trem que ligará São Paulo a Campinas em 64 minutos, além do TIM, entre a maior cidade do interior paulista e Jundiaí. Mas é a Linha 7-Rubi, que também ficará sob responsabilidade da concessionária, que trará impacto direto sobre o maior número de pessoas.

“Estamos falando de uma linha que transporta hoje 400 mil pessoas em média por dia, uma linha extremamente pendular, com um movimento de Jundiaí para São Paulo de manhã e inverso, todo centralizado ali no pico da tarde, e que precisa de uma modernização”, diz Pedro Moro, diretor de operações e manutenção da concessionária.

Segundo o executivo, foram aprendidas algumas lições justamente para aprimorar a transição, que deverá ocorrer ao longo de 18 meses, separados em momentos distintos, enquanto o período do qual dispôs a ViaMobilidade foi de sete a oito meses. Moro foi presidente da CPTM até a metade do ano, quando deixou o serviço público e passou a trabalhar na iniciativa privada.

O martelo foi batido em fevereiro, vencido pelo único grupo participante do leilão, com investimentos de R$ 14,2 bilhões por 30 anos de concessão.

Cronograma

Na primeira etapa, encerrada em 30 de novembro, a concessionária teve que demonstrar ao longo de seis meses seus planos de operação e manutenção. Já os próximos três meses serão de treinamento teórico em sala de aula, visitas e provas nos centros de controle e oficinas da CPTM.

Na sequência, serão seis meses de operação compartilhada entre TIC Trens e CPTM. A concessionária começará a tomar conta de fato da Linha 7-Rubi na fase posterior, que durará três meses e terá ainda a supervisão da empresa do governo estadual.

A concessionária terá também, nos seus primeiros seis meses de operação, a presença de funcionários da CPTM em seus pátios. Também conseguiu a prorrogação dos contratos de manutenção pelo mesmo período, como forma de evitar riscos.

O curso para a formação de maquinistas teve a carga horária ampliada e, atualmente, funcionários da TIC estão em treinamento. “Esses caras que estão lá hoje vão ajudar a gente a fazer essa multiplicação de conhecimento para os maquinistas que vêm”, afirma Moro.

O diretor diz também que 30% dos funcionários, principalmente maquinistas e pessoal de manutenção, devem vir justamente do quadro da CPTM, por já terem experiência no trecho.

Obras

A Linha 7-Rubi é um pedaço da antiga ferrovia Santos-Jundiaí, tem estações em situação precária e ainda convive com a passagem de trens de carga, como aquele que descarrilou e transformou o último dia 18 em um inferno na capital paulista. Portanto, tem tudo para ser mais difícil de se operar do que a Linha 9-Esmeralda, que até a concessão para a iniciativa privada era considerada pelo governo estadual a mais próxima do “padrão metrô” de qualidade.

Moro adianta que, em um primeiro momento, o desafio principal será manter em ordem operação e manutenção dos trens, justamente o que levou a ViaMobilidade a receber uma enxurrada de críticas nos seus primeiros meses à frente das linhas 8 e 9. Mas também há todos os encargos que fazem parte da concessão, como a modernização das estações.

Como o Metrópoles já mostrou, há locais como a Estação Vila Clarice, na zona norte, onde passageiros são obrigados a saltar dos vagões, tamanho desnível e distância entre trem e plataforma. A acessibilidade é um grande gargalo nas estações da Linha 7 os projetos conceituais apresentados pela concessionária levaram isso em consideração, segundo Moro.

“Nossa preocupação não foi fazer uma estação portentosa, grande. É uma estação funcional, as pessoas tem que ter conforto para entrar, conseguir acessar a plataforma e o mais rápido possível entrar no trem”, diz o diretor da TIC Trens.

Um problema detectado pela concessionária foi a pequena janela de tempo para fazer as intervenções sem afetar a operação no dia a dia. O tempo equivalente a uma partida de futebol, durante a madrugada, é aquele que estará disponível todos os dias.

“Não é o horário mais tranquilo de se trabalhar. Você tem que trazer equipe, trazer iluminação, fazer um monte de coisa, então a gente está pensando quais são as formas de conseguir ampliar essas janelas sem prejudicar o passageiro”, diz. “A gente tem estudado bastante, ainda não está com isso fechado, mas dentro do nosso programa a gente consegue fazer essa modernização nos próximos cinco anos, que é o que está previsto no contrato que eu tenho”, afirma.

No caso das estações, uma das opções é modernizar uma plataforma de cada vez, deixando a outra em funcionamento, o que permite até o “embarque negativo” (pegar o trem no sentido contrário, desembarcar na estação seguinte e retomar o percurso desejado na outra direção).

Segundo Moro, mais do que as obras estruturais nas estações, o maior é refazer o sistema de sinalização. “Você tem que fazer adequações no campo, na via permanente [trilhos], nas estações, no centro de controle, nos trens, e tudo isso funcionar harmonicamente”, diz. “E aí, não é nem a troca dos equipamentos, é o teste desses equipamentos, que demoram bastante. Você não pode abrir mão do antigo enquanto o novo não estiver 100% testado”, afirma.

Crimes e inundações

A Linha 7 também enfrenta problemas que típicos de áreas metropolitanas, como os furtos de fios, tanto aqueles que alimentam os trens quanto os que fazem parte do sistema de sinalização. A concessionária afirma que tem pensado em alternativas para combater esse tipo de crime e que já mapeou, com apoio da CPTM, os locais de maior incidência.

Uma das alternativas é trocar o cobre dos fios por outro tipo de material sem valor comercial, como se tem tentado em outros lugares do mundo, sem perder a qualidade. “Hoje tem duas alternativas que já apresentam uma produtividade boa, mas esse é um desafio que a gente tem”, disse.

Moro também aponta as inundações, como na região de Franco da Rocha, na região metropolitana, como desafiadoras. “A estação de Franco da Rocha hoje não fica embaixo da água, mas o entorno dela fica”, diz

Segundo o diretor da TIC Trens, é preciso conversar com as prefeituras para que façam a macrodrenagem.

Fim do trem 710

A concessão da Linha 7-Rubi deverá encerrar, até o fim de 2025, o serviço 710, que hoje leva os passageiros diretamente do ABC até a região de Jundiaí, no interior de São Paulo, sem a necessidade de baldeação.

Com a mudança, os trens que seguem de Jundiaí param na Barra Funda e aqueles que vêm do ABC, a Linha 10-Turquesa, têm como destino a Luz.

“A gente sabe que é um serviço extremamente vantajoso para a população, não tem que fazer nenhum tipo de baldeação, mas esse é o formato que está no edital. Nós estamos nos preparando para trabalhar desse jeito e a CPTM preparada para levar a Linha 11-Coral para a Barra Funda”, diz.

Questionada sobre fim do 710, a CPTM diz que o serviço seguirá operando normalmente até o encerramento da operação assistida da Linha 11-Coral na Estação Palmeiras-Barra Funda.

“Após esse período, a Linha 10-Turquesa passará a operar no trajeto Luz-Rio Grande da Serra. Para os passageiros da Linha 7-Rubi que desembarcam na Estação Palmeiras-Barra Funda, estarão disponíveis as opções de integração com o Expresso Aeroporto e as linhas 11-Coral da CPTM e 3-Vermelha do Metrô”, diz.

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