Tati Oliva, a rainha dos contatinhos profissionais que revoluciona marcas

Tati Oliva, a rainha dos contatinhos profissionais que revoluciona marcasPedro Morani

Aos 18 anos, o sonho de Tatianna Oliva era cursar a faculdade de publicidade. Mas o desejo esbarrou em uma insistência do pai, que queria a independência financeira da filha: ela teria de fazer Direito. “Em Santos [cidade natal dela] todo mundo fazia direito, então meu pai achava importante que a gente fizesse também. Mas eu fiz torto para caramba”, brinca. Nem mesmo os professores botavam fé que a garota das calças jeans rasgadas daria certo no ambiente jurídico – como contou em seu livro “Um mais um é maior que dois”.

Com os pais morando em São Paulo, Tati se dividia entre um curso que não gostava e uma vida boêmia em Santos, na casa da avó, que não percebia que a neta voltava só de madrugada. A mãe apareceu por lá e acabou com a farra: teria de transferir o curso para a capital.

Independente, como o pai a criou, arrumou emprego em uma agência paulistana – a Fashion – e virou promotora de feiras. Certa vez, assumiu o lugar temporariamente de uma coordenadora. Deu tão certo que conquistou a vaga definitivamente.

Em um dos eventos da Fashion, trabalhou em parceria com o Banco de Eventos, agência de marketing promocional e comunicação, criada em 1988 por José Victor Oliva. Teve seu trabalho reconhecido por todos de lá.

E, assim, aos 25 anos, recebeu uma ligação de Zé Victor, que mudaria de vez sua vida: era o convite para uma entrevista de emprego no Banco de Eventos. Tati entrou na área de atendimentos e, em pouco tempo, conquistou uma vaga na equipe. Morria ali o sonho do pai em ver sua filha com o diploma de advogada.

“Naquela época, meu pai pagava minha faculdade. E eu falei que eu mesma ia começar a pagar. Aí piorou tudo: pagava por uma coisa que eu odiava. Aí eu abandonei mesmo”, relembra.

Foi no Banco de Eventos que começaram a se referir a Tati como “a menina das parcerias”. Numa dessas, fez uma revolução nos abadás do Camarote da Brahma, um dos mais disputados da Sapucaí. Em vez de encomendar camisetas padrões com fornecedores, ela deu vida às camisetas, com a estampa desenhada pela Rosa Chá, uma marca de moda praia. Dali em diante, outras marcas quiseram a mesma visibilidade, como Ellus, Farm e Água de Coco.

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Enquanto ganhava espaço e destaque na empresa, Tati e Zé Victor se apaixonaram. E ela conta que o romance só dificultou ainda mais suas promoções. “Tudo foi sempre muito mais difícil para mim trabalhando ali. Vieram pessoas que não entendiam do negócio e eu seguia no mesmo cargo. Fui virar diretora do Banco de Eventos só nove anos depois que entrei”, conta.

Com o nascimento da segunda filha, Manuela, hoje com 18 anos, Tati decidiu que queria abrir o próprio negócio. Criou um plano de negócios de três páginas e pediu demissão ao marido.

“Eu já tinha executado um modelo de negócio no Banco de Eventos, já tinha visto que dava certo. E o Zé Victor só não montava uma empresa de parceira porque ele não sabia fazer aquilo. Aí pedi as contas para o meu marido e vivi o maior aviso prévio da história: fiquei um ano até sair”, diz. “Meu business plan tinha três páginas, foi na loucura, na intuição. E também por que eu precisava. A história virou com os meus pais: eu comecei a sustentá-los.”

O nascimento da Cross Networking

A princípio, ela não queria abrir a empresa sob a aba da empresa do marido, a Holding Clube, a qual pertencia também o Banco de Eventos. Mas, especialista em parceria, voltou atrás da decisão.

“Parceria é você buscar o que realmente precisa naquele momento. E eu estaria associada a uma empresa com mais de 20 anos de reputação no mercado. Além disso, eu ia trazer para a Cross projetos nos quais eu já atuava e que eles não conseguiriam continuar, como o Super Casas Bahia e o Camarote da Brahma”, justifica.

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“E a Holding já tinha testado o modelo e acreditava muito naquilo. Então o Zé Victor só me falou: “Tati, não vai me dar trabalho, hein? Eu não vou te encher o saco, desde que você não prejudique o que temos dentro das empresas do grupo.”

Não prejudicou. Pelo contrário, transformou a empresa em uma fonte de dinheiro e cases de sucesso. Quando a Cross Networking surgiu, ela valia R$ 70 mil – era só ela e dois estagiários. Hoje, Tati conta que a empresa custa R$ 5 milhões por ano. Em 2023, alcançou um faturamento de R$ 50 milhões – e a expectativa é que, este ano, fature o dobro.

“Foi um início difícil, porque eu não mudei meu estilo de vida, adaptei depois. E facilitei muito para os clientes no começo, porque ainda não sabia direito quanto cobrar, não sabia o que eu tinha de fato em mãos. Quando entendi, eu me posicionei para o mercado, porque quem não se valoriza não é valorizado”, afirma. “Eu estabeleço metas ousadas. Teve um ano que eu puxei uma meta de crescimento de quase 35% para o ano seguinte. Eu banquei essa história, a gente precisa pensar grande para ficar grande. Ainda quero internacionailzar o meu negócio.”

Ao longo dos 16 anos da empresa, ela fechou parcerias inusitadas e deu às marcas novas fontes de renda. Em 2015, a Maizena, por exemplo, procurou a Cross para expandir seu público e atingir também os mais jovens. “A gente foi desafiado pelo presidente da época. Eles já eram líder de mercado, mas a marca estava ficando muito velha, mais coisa de avó. E fomos entender o que era o jovem na cozinha. Nossa pesquisa mostrou que o jovem, quando vai montar sua casa, ele quer mais decorar a cozinha do que performar nela”, lembra.

Foi daí que tiveram a ideia de juntar a marca a uma loja de móveis descolada e cobiçada: a Tok & Stok. A parceria rendeu uma coleção de utensílios de cozinha com a estampa das embalagens de Maizena.

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“Quando levei a ideia para o pessoal da Tok & Stok, eles surtaram! Porque a marca já tinha essa coisa meio vintage. A Maizena antes só ganhava dinheiro com amido de milho, hoje eles vendem também outros produtos para a cozinha. E parceria é isso: é para mexer o ponteiro do seu negócio. Deu tão certo que, em um documentário da Anitta, ela aparece comendo em um prato da Maizena. Não pagamos nada por isso.”

Com a carreira bem-sucedida, a pandemia fez Tati refletir sobre a necessidade de fazer conexões também em prol da solidariedade. Em 2021, a empresária uniu a estilista Cecília Prado à Unicef, que contratou três estudantes como jovens aprendizes e lançou uma coleção de xales e ponchos feitos com materiais têxteis reutilizados. E doou 70% da receita de vendas para a organização.

O DJ Alok também fechou parceria com a Cross: virou uma skin no jogo Free Fire. E usou todo o recurso para abrir seu próprio Instituto, o Instituto Alok. Há ainda outros casos: Pedro Sampaio foi visitar crianças doentes em um hospital infantil, parte do cachê que Sabrina Sato recebeu da Cacau Show foi para o instituto da apresentadora – ela doou mais de 30 mil chocolates e 13 mil panetones para instituições sociais.

“Eu quero um mundo muito mais parceiro. Porque parceria bem-sucedida, quando dá certo mesmo, é ganha-ganha para todos os envolvidos. Quando você vê a m*rda que esse país tá, é porque falta parceria! Se as pessoas não pensarem no todo, não só nelas, nunca vão ter aquele futuro que elas tanto falam que querem”, finaliza.

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