‘Papo de Tênis’ reflete sobre influência do hip-hop na cultura de tênis

‘Papo de Tênis’ reflete sobre influência do hip-hop na cultura de tênisSofia Duarte

V

ocê sabe de onde vem a chamada ‘cultura de tênis‘ e quais são as origens dastendênciasurbanas que vemos hoje nostreetwear? As raízes disso tudo remetem ao crescimento dohip-hopcomo movimento cultural nos anos 1970 e 80, e é com o objetivo de fazer esse importante resgate que surge o projeto ‘Papo de Tênis‘.

Idealizado pelo profissional de marketingVictor Santo, o Papo de Tênis nasceu quando o hip-hop completou 50 anos, com a proposta de promover encontros para reconhecer e amplificar vozes que pavimentaram o caminho. Diante de um incômodo em relação àperda de representatividade e ao esvaziamento de significados e referênciasque acontecem nos dias atuais, Victor Santo organiza diálogos que refletem sobre hábitos de comportamento, vivências pessoais e acolhimento, a partir de uma peça de moda em comum, os tênis.

“De uns anos pra cá, a cultura de tênis começou a se popularizar no Brasil, e o hip-hop é um dos principais vetores responsáveis por isso. E, aí, eu percebo que outros grupos, principalmente criadores de conteúdo, começam a ter… Não a se apropriar, mas partir dessa narrativa”, afirma Victor em entrevista àCAPRICHO. “Mas, a partir do momento em que criadores de conteúdo falam em um determinado contexto sobre cultura e não exaltam aqueles que vieram antes, a gente tem um problema. […] O hip-hop ainda influencia massivamente o comportamento das pessoas, e o meu desconforto é perceber esse esvaziamento de referências”, completa.

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O Papo de Tênis já teve 4 temporadas com 4 episódios que aconteceram em espaços físicos na cidade de São Paulo e abordaram assuntos como moda nas periferias, o hip-hop como ferramenta de transformação, marketing de influência, apropriação cultural e vivências de mulheres e pessoas pretas convidadas a reassumirem seu protagonismo nessa cena. “A magia do Papo de Tênis é que convidamos pessoas para falar que nem sempre aparecem, mas que têm sua relevância nesse universo da cultura, principalmente de moda. As discussões e vivências partilhadas são muito enriquecedoras e acabam influenciando e tocando tantas outras pessoas. A grande maravilha é que falamos de temas que nem sempre são explorados e, se são, não são da forma como deveriam”, declara Victor.

Os papos já reuniram nomes como a rapperDrik Barbosa, a stylistAndreza Ramos, o cantorRashid, o estilistaJubba Sam, entre outros, e também já envolveram marcas parceiras que reconheceram a relevância desses encontros.

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Os tênis são marcadores dehistórias, de vivências e de momentos nas nossas vidas, sejam através do esporte, sejam através de momentos familiares ou com amigos e até viagens”, acrescenta o idealizador do Papo de Tênis. Diante dessa perspectiva, é interessante entender que, embora Victor acredite que o consumo sem embasamento, só pela estética, seja válido, isso complica quando se trata de criadores de conteúdo influentes que esvaziam significados e pregam o consumo pelo consumo. “Tudo bem, use [um tênis] porque écool, mas saiba que aquilo é carregado de alguma coisa.”

Victor Santo enxerga a autenticidade no comportamento de grande parte dos jovens da geração Z; apenas os alerta para uma ilusória sensação de ‘pertencimento’ que determinadas tendências podem gerar. “É preciso tomar cuidado com a forma com que você se deixa influenciar. Às vezes, você acha que precisa pertencer, precisa consumir, mas você não precisa. Por que você precisa ser visto como tal? Você pode ser visto pura e simplesmente do jeito que você é.”

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Os tênis que as suas influenciadoras favoritas usam hoje em dia possivelmente têm uma história por trás que é fundamental que seja relembrada. “É a história dos Mizunos Prophecy, dos Asics, do Nike Shox TL.Agora os influenciadores estão usando e é supercoolusar, mas a quebrada já estava usando isso há 10 anos. […] O meu desconforto é no sentido de que, por exemplo, New Balance é consumido desde 1900 e ‘bolinha’ por pessoas pretas, e essas pessoas igualmente fazem a cultura andar e não são exaltadas.”

A5ª temporada do Papo de Tênisvai rolar depois do Carnaval, em março de 2025, e um dos temas a serem abordados vai girar em torno de como a cultura de tênis impacta profissionais da beleza – maquiadores e trancistas. O público geral é convidado a participar de forma gratuita através de ingressos limitados que são disponibilizados pelo projeto. “Nunca é só sobre tênis”, finaliza Victor Santo.

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