Terras Raras: trunfo brasileiro na disputa geopolítica

A oportunidade para o Brasil está em se inserir nessa cadeia ligada ao OcidenteReprodução: Flipar

O Brasil tem uma carta relevante para jogar na sua relação com os países ricos do Ocidente. Com a tensão crescente entre os Estados Unidos e a China, Washington vem buscando desenvolver uma cadeia própria de produção de minerais estratégicos. As reservas brasileiras de terras raras constituem ativo importante e o Brasil pode se tornar um parceiro preferencial. 

As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos com algumas propriedades particulares como magnetismo intenso. São essenciais em aplicações como super-imãs, motores de veículos elétricos, HD de computadores e catalisadores químicos. No setor de defesa são usadas na fabricação de aviões, submarinos, mísseis, drones e lasers.

A China tem as maiores reservas comprovadas com cerca de 44 milhões de toneladas. Em seguida, vêm Vietnã com 22 milhões e Brasil com 21 milhões. As reservas brasileiras podem ser ainda maiores, pois houve pouca prospecção na Amazônia. Quase tudo o que se conhece está em areias no litoral ou perto de vulcões extintos como em Minas Gerais e Goiás.

A Rússia tem dez milhões de toneladas e a Índia sete milhões de toneladas.

Os Estados Unidos detêm dois milhões de toneladas e nenhum país da Europa Ocidental tem reservas importantes. Assim, dos cinco países com maiores reservas, o Brasil é certamente o único aliado confiável dos Estados Unidos. E também o único fora da Ásia e a proximidade e uma segurança adicional.

Além de ter as maiores reservas, a China domina a produção mundial dessa matéria prima. Das 350 mil toneladas produzidas no ano passado, a China respondeu por 240 mil, ou seja, quase setenta por cento seguida pelos Estados Unidos com 43 mil e Mianmar com 38 mil toneladas. O Brasil produziu apenas oitenta toneladas, ou seja, as reservas nacionais são praticamente inexploradas.

O negócio das terras raras é pequeno no momento, mas está crescendo. A produção mundial dobrou nos últimos cinco anos. E provavelmente continuará aumentando já que a demanda global por produtos intermediários que as tem como insumo deve continuar em alta, puxada pela transição energética.

A dependência das terras raras chinesas e uma das maiores vulnerabilidades estratégicas do Ocidente em relação à China.

Num momento em que os Estados Unidos buscam restringir o acesso de Pequim a tecnologias avançadas, como chips modernos, existe sempre a possibilidade de a China retaliar limitando o acesso ocidental às terras raras. Isso em parte já ocorreu. Em 2023, Pequim proibiu a exportação de tecnologia de extração e processamento desses elementos, para dificultar a produção em outros países.

Para enfrentar essa vulnerabilidade, os Estados Unidos vêm buscando desenvolver uma cadeia de produção de terras raras em países aliados, junto com a Alemanha, Japão, Canadá, Austrália e França, entre outros. Os Estados Unidos montaram a Minerals Security Partnership com o objetivo declarado de criar uma cadeia de suprimento diversificada, segura e sustentável para minerais críticos.

A oportunidade para o Brasil está em se inserir nessa cadeia ligada ao Ocidente.

Os principais obstáculos para o Brasil são dificuldades técnicas do processamento que envolvem tecnologias que não dominamos completamente, principalmente no caso dos produtos intermediários, como os super ímãs; os investimentos elevados e a concorrência da China.

É improvável que qualquer país possa concorrer com os chineses em preço.

A questão da concorrência com a China poderá ser contornada diante da necessidade estratégica americana de assegurar o suprimento de terras raras no longo prazo. Se Washington quiser diversificação com relação à China terão de pagar um prêmio.

É mais fácil negociar esse prêmio com empresas de defesa que vendem basicamente para os governos nacionais. Mas é difícil equacionar com empresas de outros setores como carros elétricos, computadores e geradores eólicos. Quem financiará o custo extra dessas empresas? Isso ainda não está claro.

Quanto a tecnologia, parte dela é dominada por empresas ocidentais e parte terá de ser desenvolvida o que também abre uma avenida de cooperação para que empresas e instituições brasileiras participem com empenho.

Há muitas negociações em andamento nesse sentido. Uma delas já rendeu frutos. A brasileira Mineradora Serra Verde, apoiada por capital ocidental, começou neste ano a produção comercial de concentrado de terras raras na sua jazida em Goiás. A empresa pretende produzir cinco mil toneladas anuais com potencial de dobrar a produção até 2030. Isso colocaria o Brasil entre os maiores produtores mundiais.

Mas essa janela de oportunidade pode não durar muito, à medida que essa nova cadeia de suprimento ligada ao ocidente for sendo montada. A Austrália, com cerca de um quarto das reservas brasileiras, anunciou um segundo grande projeto de terras raras.

Governo e setor privado no Brasil precisam se mobilizar para captar rapidamente, se possível for, uma boa fatia dos investimentos futuros.

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