Rebatismo de fogo

Rebatismo de fogoEduardo Rocha

Renovação identitária

Mais que uma troca de nome, Q8 e-tron evolui na autonomia, no visual e na qualidade de condução

Marcelo Palomino, de Munique

Autocosmos.com/Chile

Exclusivo no Brasil para Auto Press

O e-tron foi o primeiro carro elétrico da Audi, um SUV de grande porte que foi revelado em setembro de 2018 e desembarcou no Brasil em outubro de 2020, já com carroceria Sportback, uma das muitas alternativas que a gama recebeu. Depois de alguns bons anos no mercado, a Audi naturalmente atualizou o modelo e reformular alguns aspectos que vinham sendo criticados pelos usuários. Afinal, nos dias atuais, cinco anos de mercado é uma eternidade.

Com as mudanças, a marca tenta aproximar o modelo, que está sendo oferecido no Brasil desde agosto, dos elétricos premium mais modernos. Mas aí surgiu uma questão: o nome do modelo acabou virando uma designação de gênero, que identifica os veículos elétricos da marca. Por isso, fez todo o sentido para a marca rebatizar o seu maior SUV com o mesmo nome do modelo a combustão. Assim, a partir de agora, o SUV e-tron e o e-tron Sportback (cupê) passam a se chamar Q8 e-tron e Q8 e-tron Sportback, e as versões S passam a se chamar SQ8 e-tron.

Os modelos foram testados na Alemanha para que a suposta evolução pudesse ser avaliada. Segundo a marca, essas melhorias podem ser agrupadas em quatro áreas: autonomia, tempo de carregamento, renovação visual interna e externa e dinâmica. Foram experimentadas as versões Q8 e-tron 55 SUV e Sportback, intermediárias em termos de potência e as que oferecem maior autonomia. São exatamente essas as versões vendidas no Brasil por R$ 669.900 na carroceria SUV e R$ 699.900 na Sportback.

O modelo da Audi chega com a oferta de uma versão Launch Edition, que adiciona R$ 12 mil ao valor final e adiciona alguns itens visuais, como revestimento com pespontos e borda dos cintos em vermelho em vez de cinza e detalhes em fibra de carbono no painel. Ela agrega ainda frisos e capa de retrovisores em preto brilhante, grade com moldura da cor do veículo e logomarca em grafite. As rodas também têm um design específico.

As dimensões da novo Q8 não mudaram, nada em relação ao seu antecessor – até porque não se trata de uma nova geração, mas apenas de uma atualização. O modelo mede 4,91 metros de comprimento com 1,94 m de largura, 1,63 metro de altura e 2,92 metros entre os eixos. Trata-se de um SUV grande, com muito espaço para passageiros e carga. O volume do porta-malas tem 569 litros na carroceria do SUV e 529 litros no caso do Sportback. Soma-se a isso os 62 litros adicionais sob o capô dianteiro.

Relativamente ao design, a marca define que esta nova identidade chegará aos modelos restantes da Audi, elétricos ou não. Em outras palavras, o Q8 e-tron seria um ponto de referência, o que reflete sua importância. No entanto, muitas mudanças em relação ao e-tron anterior parecem dispensáveis e totalmente desnecessárias. A marca enfatiza que o design focou em melhorar a eficiência aerodinâmica.

A dianteira ostenta uma nova grade singleframe – ou bocão, como é conhecido no Brasil ‑, que ficou um pouco mais fechada que a anterior. As aberturas têm fechamento progressivo e automático, de acordo com as necessidades de resfriamento. O logotipo foi redesenhado para torná-lo bidimensional, como se fosse impresso em cromo sobre um fundo em preto brilhante. A moldura, que pode ser em preto ou na cor da carroceria, se estende para a parte inferior dos faróis. Na parte superior da moldura aparece uma faixa de led que conecta visualmente os dois faróis ‑ que podem ser matriciais por um adicional de R$ 25 mil.

Os faróis também foram abordados em seu design e ganhou quatro pequenos traços horizontais em led, que funcionam como DLR. Novos dutos e defletores na frente das quatro rodas, foram instalados para eliminar turbulências e manter o fluxo de ar para a baixo do assoalho e ajudar a resfriar a bateria. Essas pequenas mudanças melhoraram o coeficiente de arrasto de 0,26 para 0,24 cx para o Q8 e-tron Sportback, e de 0,28 para 0,27 cx no caso do Q8 e-tron.

Segundo a Audi, essa nuance chegou a alterar sutilmente a performance do modelo, que agora consegue acelerar de zero a 100 km/h em 5,6 segundos, 0,1 s a menos que antes. A máxima se manteve em 200 km/h – até por que a motorização é exatamente a mesma utilizada anteriormente. Ambas as carrocerias do 55 e-tron têm dois motores síncrono, um em cada eixo, com 150 kW ou 204 cv cada – é o mesmo usado em outros modelos do Grupo Volkswagen. No total, são até 408 cv, com um torque máximo de 67,8 kgfm.

De maneira geral, o SUV da Audi parece moderno, elegante e tecnológico, especialmente quando equipado com retrovisores digitais. Na silhueta há novas faixas decorativas nos estribos e a inscrição do carro no pilar central. Na traseira fica um novo para-choque que aprimora o design do difusor e as lanternas receberam o mesmo desenho de quatro linhas horizontais da dianteira. No interior não há mudanças no design, que ainda é muito tecnológico e moderno, mas na percepção de luxo, que agora melhorou.

O cockpit do Q8 e-tron traz tudo à mão, graças à disposição dos elementos do MMI Touch, que tem tela de 10,1 polegadas para central multimídia e 12,3 polegadas para o painel digital, o famigerado Virtual Cockpit, que tem diversas configurações e pode exibir, além de dados do veículo, o mapa do GPS. Uma terceira tela, de 8,6 polegadas, é exclusiva para o controle de temperatura, que tem quatro zonas. É um sistema personalizável, rápido de responder e fácil de usar. Há ainda, dependendo da configuração, mais três telas podem ser adicionadas: head-up display colorido e as duas pequenas telas nos cantos do painel para os espelhos virtuais.

Esses espelhos, aliás, são como um tiro no pé, já que é preciso pagar mais R$ 15 mil e eles trazem de retorno favorável apenas uma sensação de alta tecnologia. Por outro lado, ficam em uma posição ergonomicamente antinatural, tiram a sensação de profundidade do condutor e têm imagem fixa, sem possibilidade de ajuste. Mas este Q8 e-tron renovado oferece ainda até 40 sistemas de assistência ao motorista, cinco sensores de radar, 12 sensores ultrassônicos e luzes led Digital Matrix. Ou seja: tudo que a Audi tem a oferecer em recursos – o que se justifica pelo fato de o carro-chefe da eletrificação da marca.

Na parte de habitabilidade, o modelo traz bancos traseiros muito espaçosos e confortáveis, com boa reclinação do encosto. Atrás, há muito espaço na cabeça e para colocar os pés sob os bancos dianteiros. Inclusive, pela largura, o quadrado central é utilizável, embora seja um pouco difícil. Estes assentos têm saídas de ar e suas próprias configurações de ar-condicionado.

Mas de todas as evoluções do modelo, a Audi indica que a questão da autonomia foi a mais necessária. E par isso incorporou novas baterias com química melhorada, maior densidade de energia e uma nova estrutura em camadas, maior capacidade em um volume menor. Para o Audi Q8 e-tron vendido no Brasil, de uma bateria de 95 kWh para outra de 114 kWh. E com isso, a autonomia subiu 32%, para 332 quilômetros no sistema adotado pelo InMetro. Esse aumento resultou em um acréscimo de 65 kg no peso total do modelo, que chega agora a 2.720 kg (por lei, nem poderia nem usar vagas de rua destinadas a carros de passeio).

A Audi também melhorou os tempos mínimos de carregamento foram reduzidos, por conta da maior capacidade de carregamento em corrente contínua. Agora o modelo admite cargas de até 170 kW. Com isso, oferece uma recuperação de 20 a 80% em 26 minutos e 10 a 80% em 31. São tempos semelhantes aos anteriores, mas com uma bateria maior. Já em relação aos carregadores normais, como os que acompanham o modelo, com 11 kWh, uma carga completa, de zero a 100%, consumiria cerca de 12 horas. (Texto de Marcelo Palomino, Autocosmos Chile. Fotos de divulgação. Exclusivo no Brasil para Auto Press).

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Impressões ao dirigir

Bocão meia-boca

A Audi sempre primou pela imagem esportiva, muito representada pela hiperbólica grade singleframe, rebatizada no Brasil como bocão. Por isso, a marca retrabalhou vários elementos do chassi para oferecer uma dinâmica condutora mais em sintonia com essa imagem. A direção reconfigurada teria alcançada uma melhoria de 10% na agilidade, manobrabilidade, capacidade de resposta e comunicação. Mas também teria retrabalhado a suspensão pneumática para reduzir em 10% a rolagem lateral da carroceria. Mas no texto proposto, realizado quase que exclusivamente pelas retas alemãs e Autobahns de velocidade infinita, dificilmente se pôde pôr à prova essas qualidades.

Pôde-se apenas constatar que o novo Q8 e-tron é ágil, rápido nas reações e comunicativo, ao transmitir muito do que acontece sob as rodas para as mãos do motorista. São 2,7 toneladas de peso que praticamente não são percebidas nos movimentos laterais produzidos pelas mudanças de trajetória. A rolagem é bastante controlada e o modelo oferece uma grande sensação de equilíbrio e estabilidade. É, no entanto, um pouco decepcionante constatar que o modelo não se comporta como um míssil quando o acelerador é pisado até o fundo – como acontece com os BMW i7 e iX. Talvez o excesso de peso o torne um pouco lento para reagir. O modo Sport até começa mais rápido, mas, novamente, não comprime o condutor contra o encosto.

Obviamente, o modelo acelera e muito. Ele é capaz de atingir 200 km/h em pouco tempo e ficar por lá, já que é limitado a essa velocidade. Ou se recuperar muito rapidamente para uma ultrapassagem. É um carro com muita potência, até mais torque, que é capaz de transmiti-lo mais do que bem para as rodas. Um ponto à parte é a qualidade do manuseio, que é superlativa. A cabine é extremamente bem insonorizada e o silêncio de condução só é matizado com algum ruído de rolamento e vento nos retrovisores. Mas obviamente quando dirigimos a versão com câmeras laterais, esse som desapareceu completamente. Além disso, os assentos são uma delícia, confortáveis, com bom apoio, múltiplos ajustes e até ar-condicionado, para tornar a viagem agradável.

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