4 livros de Édouard Louis entram para lista dos mais vendidos no Brasil

4 livros de Édouard Louis entram para lista dos mais vendidos no BrasilHumberto Maruchel

O escritor francês Édouard Louis alcançou a lista dos mais vendidos do mercado editorial brasileiro com quatro de suas obras. O autor, que esteve no Brasil recentemente para divulgar seu último lançamento, Monique se liberta, tem despertado grande interesse entre os leitores brasileiros por relatar, de forma íntima, sua infância marcada pela pobreza, homofobia e as transformações que a literatura trouxe para sua vida.

Entre os títulos mais vendidos estão Mudar: Método, Lutas e metamorfoses de uma mulher, Monique se liberta e Quem matou meu pai. Mudar: Método chegou à 5ª posição na categoria de ficção. Em outubro, Édouard participou da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), onde discutiu temas como a autoficção.

No início do ano, às vésperas do lançamento de Mudar: Método, a Bravo! entrevistou o autor para discutir seu estilo literário, homofobia e luta de classes. “Tenho um compromisso político com a autobiografia. Esse é o núcleo do meu projeto literário. E acredito que a autobiografia, seja na literatura, filosofia ou política, tem uma maneira particular de confrontar as coisas. Tenho a impressão de que a ficção oferece um colete salva-vidas que a autobiografia não permite”, afirmou Louis.

Mudar: Método é um relato direto dos desdobramentos de sua vida após conseguir escapar da pobreza. Apesar da ascensão social, a violência continuou presente, embora de outras formas — como quando precisou se prostituir para sobreviver ou foi vítima de estupro. Além de dialogar com seus leitores, Édouard se dirige diretamente aos seus pais em várias de suas obras, especialmente nesta última.

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Confira um trecho do livro abaixo:

“Tinha falado com ele pela primeira vez havia cerca de duas horas por um site. Fora ele que entrara em contato. Tinha me dito que gostava de garotos como eu, jovens, magros, louros, de olhos azuis — especificara: tipo ariano. Havia pedido que eu me vestisse como um estudante e fiz isso, pelo menos como a ideia que ele tinha de um estudante, eu usava uma blusa com capuz grande demais que peguei emprestado de Geoffroy e um par de tênis azul-anil, meu preferido, tinha me dobrado a seu desejo porque esperava que ele me pagasse mais do que havia prometido, para me recompensar por minha dedicação.

Fiquei esperando.

Ele enfim abriu a porta e, vendo seu corpo, tive que contrair os músculos do rosto para não fazer uma careta — ele não se parecia com as fotos que tinha me enviado, seu corpo era flácido, pesado, nem sei como dizer, como se caísse ou, melhor, como se escorresse para o chão.

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Ele sofria só por ter se deslocado até a porta, eu via o cansaço, a falta de ar, a transpiração na forma de dezenas de gotículas minúsculas que brilhavam em sua testa; tentei olhar para ele o mínimo possível, queria evitar ver os detalhes de seu rosto; pensava Em menos de uma hora você vai estar longe daqui com o dinheiro. Seu cheiro chegava até mim, um cheiro artificial de baunilha, de leite azedo. Eu me concentrava nessa frase, Em menos de uma hora, o dinheiro, quando de repente ouvi vozes atrás dele, no apartamento. Eram vozes de homens, havia alguns ali, talvez três ou quatro; perguntei a ele quem eram; ele sorriu e disse: Não é nada. Você pode agir como se eles não estivessem aqui, eles estão acostumados, sempre chamo prostitutos, você não é o primeiro. Vamos para o meu quarto, pode ignorá-los.

Pensei: não quero que os outros vejam meu rosto — a vergonha começou a subir, a invadir meu corpo desde a ponta dos dedos até a nuca, como um fluido morno, paralisante, eu reconhecia sua ardência. Eu o ameacei dizendo que ia voltar para casa. Achei que minha frase o machucaria ou irritaria, mas ele não tentou me segurar, me propôs, calmamente, me dar cinquenta euros pelo deslocamento se eu quisesse dar meia-volta e ir embora, e eu o odiei por não ter se irritado. Precisava de mais do que cinquenta euros. Eu disse Tá bom, vamos direto para o seu quarto, eles não vão me ver, eu ponho o capuz.”

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