Prefeitura de SP começa a derrubar árvores da Rua Sena Madureira, na Zona Sul, apesar de protesto de moradores


Com base num estudo de uma consultoria ambiental, a gestão não reconhece a área como sendo de preservação permanente, diferentemente do que afirmam documentos assinados pelo próprio município. Prefeitura começa a derrubar árvores da Rua Sena Madureira
A Prefeitura de São Paulo avançou nesta quarta-feira (6) na obra para a construção de dois túneis na Rua Sena Madureira, na Zona Sul. Operários começaram a derrubar as árvores do canteiro central mesmo apesar de protesto feito por moradores.
Com base num estudo de uma consultoria ambiental, a gestão não reconhece a área como sendo de preservação permanente, diferentemente do que afirmam documentos assinados pelo próprio município.
Do alto, é possível ver o clarão em alguns pontos da rua da Vila Mariana. Os cortes no canteiro central começaram hoje, e os tapumes, que cercam a obra, viraram alvo de protesto de moradores do entorno.
A prefeitura autorizou a derrubada das árvores, mediante uma compensação ambiental, ou seja, o plantio de mudas, na mesma região. Os termos deste acordo não estão abertos ao público.
Marco Martins, arquiteto e urbanista, participou do protesto e afirmou que “aquelas árvores enormes que a gente vê na Sena Madureira vão ser substituídas por pequenas mudas, que vão ser colocadas num ponto próximo aqui, depois do término da obra. A gente acha isso inconcebível num cenário de mudança climática. É uma obra que foi pensada para uma cidade qua ja não existe mais. Tem 15 anos esse projeto, a gente não entende pq está sendo feito”.
De acordo com uma lei federal, toda área que fica ao lado de nascentes, rios ou outros cursos d’água é considerada área de preservação permanente. Ao negar que a obra está sendo feita numa área como essa, a prefeitura nega também documentos que ela mesma emitiu no passado.
Em 2019, depois de um desmoronamento na Rua Maurício Francisco Klabin, ao lado da Sena Madureira, a Subprefeitura da Vila Mariana fez uma vistoria no local, e o relatório técnico destacou que “a área é de proteção ambiental, na qual existe um grande vale com nascente”.
Outro documento traz detalhes do terreno e aponta a existência de duas nascentes de água.
“Aqui a gente possui a nascente e o córrego Embuaçu e em nenhum momento, tanto no estudo de impacto ambiental, como no parecer técnico da Secretaria do Verde, isso é considerado”, afirma Martins.
Ainda assim, as árvores da Rua Maurício Francisco Klabin foram as primeiras cortadas para a obra.
O projeto prevê uma ligação entre a Rua Sena Madureira e a Avenida Ricardo Jafet. Para isso, serão construídos dois túneis que, juntos, somam 1,6 km de extensão.
O primeiro vai da Rua Botucatu até a altura da Rua Mairinque, onde começa o segundo túnel, que vai passar por baixo da Rua Domingos de Morais, e chegar até a Rua Embuaçu, perto da Ricardo Jafet.
A prefeitura diz que a obra vai beneficiar mais de 800 mil pessoas que circulam pela região. Por enquanto, a mudança sentida foi nos alagamentos, que começaram a surgir em partes do bairro.
A cozinheira Magda Moreira diz que “desde que a obra iniciou, toda vez que chove é isso. Desce esse lamaçal, o córrego transborda, a lama desce e essa é a consequência que a gente está tendo”.
Em nota, a administração municipal disse que a obra respeita todas as exigências ambientais, que vai cortar 172 árvores e compensar com o plantio de 266 mudas. Informou também que, em nova vistoria, não foi observada a presença de nascente de água dentro da área da obra. Ainda segundo a prefeitura, trata-se de um canal de drenagem de águas pluviais.
Moradores da Vila Mariana protestam contra construção de túnel na Rua Sena Madureira em 30 de outubro
Rafael Calabria/Arquivo pessoal

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