Fernanda Torres é Eunice Paiva: vítima da ditadura é símbolo de coragem no filme que pode representar o Brasil no Oscar


‘Ainda estou aqui’, filme original Globoplay, estreia nos cinemas é no dia 7 de novembro. “Ainda Estou Aqui” traz a história da mãe de cinco filhos que não se calou na ditadura
“Ainda estou aqui”, filme original Globoplay, ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza e é o representante do Brasil na disputa por uma vaga no Oscar. A estreia é no dia 7 de novembro nos cinemas. A repórter Sônia Bridi conversou com a atriz Fernanda Torres, que vive Eunice Paiva, com o ator Selton Mello e o diretor Walter Salles.
As cenas provocam uma angústia imensa, pois o tempo todo sabemos que a família está no Rio de Janeiro de 1971. São os anos de chumbo da ditadura militar. A história de Rubens Beyrodt Paiva, deputado federal cassado pelos militares, é conhecida hoje graças à Comissão da Verdade. Em um quartel do Exército, ele foi torturado e morto. É um dos 210 prisioneiros políticos desaparecidos — seus corpos foram ocultados para esconder os crimes cometidos pelo Estado brasileiro.
No vazio deixado pelo pai, a história que o filme conta é a da mãe, Eunice Paiva, mulher de Rubens. Uma mulher que, de repente, se vê sozinha com cinco filhos.
“É uma mulher que nunca quis se vitimizar em público, porque sentia que isso seria dizer para a ditadura que eles tinham vencido sobre ela. Por isso, ela sorri nas fotografias. Por isso, talvez, ela nunca tenha contado aos filhos o que aconteceu”, diz a atriz Fernanda Torres.
Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens, contou em livro a história que Walter reconta no filme.
“Na história dessa mulher, havia uma afirmação de vida, sabe? Uma afirmação de uma identidade muito própria, de uma mulher que, de alguma forma, é uma heroína silenciosa no Brasil”, afirma o diretor Walter Salles.
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Eunice se transforma. A dona de casa vira advogada das causas indígenas e das famílias de desaparecidos. O reconhecimento do Estado brasileiro de que Rubens Paiva havia sido morto só veio em 1996.
“Esse filme tem essa diferença também. Ele é visto pelo ponto de vista da mulher e da família. Raramente narramos questões políticas pelo lado da família e da mulher. E nesse filme, você percebe o quanto isso é político, o quanto o papel da mulher é um papel político”, diz Fernanda Torres.
“É humano, fala de família, de perda. Mesmo que você não tenha tido uma perda parecida com a da família Paiva, as perdas te comovem e fazem você criar essa associação. Acho que esse é o ponto: é um filme que você sente”, afirma o ator Selton Mello.
Fernanda Torres é Eunice Paiva: vítima da ditadura é símbolo de coragem no filme que pode representar o Brasil no Oscar
Fantástico/ Reprodução
Prêmios
“Ainda estou aqui” ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza e o prêmio do público nos festivais de Vancouver e São Francisco. Fernanda Torres levou o prêmio de melhor atriz de filme internacional dos Críticos de Cinema dos Estados Unidos e Canadá.
A atuação, aclamada e premiada por onde passa, exigiu também fisicamente de Fernanda.
“Eu achava que não tinha peso para perder, mas ela tinha obsessão por magreza, porque a família toda engordava. Ela vai para a prisão e perde 11 kg em nove dias. Não consegui chegar no que ela chega de magreza na prisão, mas perdi de 8 a 10 kg”, conta.
“É uma atuação contida, mas com um grau de dramaticidade muito grande, tudo dentro de uma faixa emocional controlada. É preciso oferecer muitas camadas, onde tudo se revela no rosto com um mínimo de expressão. O tempo inteiro ela diz muito, com muito pouco, o que é muito difícil no cinema”, diz Walter Salles.
Fernanda Montenegro interpreta Eunice já no fim da vida, com Alzheimer, e entrega uma performance arrebatadora em poucos minutos.
“Um crítico norte-americano disse que a interpretação dela era uma lição em quatro minutos, um ‘master class’ em quatro minutos, em que muito é dito com tão pouco e com uma força expressiva extraordinária. Só as maiores atrizes, de qualquer cultura, conseguem isso. Sorte a nossa de viver no tempo de Fernanda Montenegro”, afirma Walter Salles.
“Eu acho que o Walter tem essa mágica, uma linguagem profundamente brasileira e, ao mesmo tempo, transcendente, sobre quem somos como caráter, como cultura, como povo, como sobreviventes”, diz Fernanda Montenegro.
Sônia Bridi e Fernanda Torres
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