Advogada negra denuncia racismo em redes sociais após anúncio de palestra: ‘Teatro dos macaquinhos’


Nas mensagens, o aluno suspeito de cometer o crime justifica o comentário dizendo que apenas ‘dois ou três países da África’ têm ‘DNA negro puro’. Mensagens trocadas no grupo de alunos do curso de direito
Reprodução/redes sociais
Uma advogada de Belo Horizonte denunciou ter sido vítima de injúria racial por um aluno do curso de direito do Centro Universitário UNA, na unidade da Avenida Cristiano Machado, Região Nordeste da capital.
Olívia Felício é mestra em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e foi convidada para palestrar sobre educação e direitos humanos, com ênfase em diversidade e inclusão, para alunos do quarto período da faculdade. Em um grupo de rede social, um dos estudantes falou que o evento seria um “teatro dos macaquinhos”.
A mensagem do aluno foi encaminhada logo abaixo da foto com o anúncio da palestrante, que é uma mulher negra.
Segundo o boletim de ocorrência registrado pela vítima, o suspeito de cometer o crime é Márcio Henrique Pereira Maia, de 37 anos. Nas mensagens, ele minimizou o comentário dizendo que apenas “dois ou três países da África” têm “DNA negro puro”.
Márcio Henrique também explicou que a fala sobre “macacos” não trata das características da convidada, mas faz referência à performance “Macaquinhos”, onde nove atores tocam os ânus uns dos outros em uma roda na frente de uma plateia.
Mensagens trocadas no grupo da turma de direito
Reprodução/redes sociais
‘Coisa racial’
Em outra troca de mensagens, o suspeito afirma que não irá na aula do dia e que teria risco de sair da sala “preso” (veja mais abaixo). A Polícia Civil afirmou que o caso será apurado pela delegacia especializada em Belo Horizonte.
A vítima registrou uma denúncia na polícia. Ao g1, Olívia Felício contou que precisou de tempo para compreender que foi vítima de injúria racial e que os demais alunos agiram de forma correta em rechaçar o comportamento do suspeito.
“Hoje que consegui pensar, tomei um fôlego. Me deixou muito chateada, a gente espera que jamais isso vá acontecer. Já aconteceu muitas situações de racismo, mas eram todas veladas. É um baque ser chamada de macaco em 2024. Mas era só uma fruta podre no meio de muitos bons alunos”, contou a advogada.
Olívia Felício é advogada e mestra em Direito pela UFMG
Reprodução/redes sociais
Representantes da turma de direito procuraram a direção da UNA para denunciar o crime. De acordo com Olívia, o centro universitário a atendeu de pronto e afirmou que abrirá um procedimento interno para apurar o comportamento do estudante.
Procurado pela reportagem, Márcio Henrique disse que não vai se posicionar sobre o ocorrido. O g1 entrou em contato com o Centro Universitário UNA e aguarda retorno.
Mensagens trocadas no grupo de alunos do curso de direito
Reprodução/redes sociais
Repúdio
Por nota, o diretor da Comissão de Igualdade Racial da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas, Marcelo Colen, repudiou o comportamento racista do aluno acusado e afirmou que a comparação da cor da pele com o animal macaco ultrapassa o limite da crueldade.
“Essa comparação ultrapassa o limite da crueldade, reforça estereótipos racistas e tem impacto devastador não apenas sobre a vítima direta, mas em toda a comunidade negra. É um tipo de violência que precisa ser combatida de forma incisiva, pois atinge a dignidade e os direitos humanos de um grupo que já enfrenta desafios históricos e sociais”, afirmou.
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