Palestinos no Brasil comentam guerra em Gaza: “Só mais um capítulo”

“A cada contato que fazemos com nossos familiares, temos mais noção da realidade na Palestina. A última vez que falei com meu tio, da Cisjordânia, e perguntei pelos parentes de Gaza, ele me respondeu: ‘No último contato que consegui, estavam vivos… ainda’. Como se sentir diante disso?”, relata Keithe Hamid, que é palestina de 2ª geração.

A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) estima que, atualmente, cerca de 60 mil palestinos vivem no Brasil. O pai de Keithe Hami nasceu na Palestina e aos 25 anos veio para o Brasil como refugiado, “tentar uma nova vida”. Shaban Majed Suliman Abdel Hamid viveu 51 anos no Brasil e, em 2020, na pandemia da Covid-19, veio a falecer. “Nossa última ida à Palestina foi em 2016”, conta Keithe.

Em 7 de outubro deste ano, o conflito Israel-Hamas completou um ano. Ao todo, mais de 42 mil pessoas foram mortas em Gaza – cerca de 115 palestinos morreram todos os dias, durante 365 dias. No início deste ano, um estudo publicado pela revista The Lancet estimava que o número real de mortes em Gaza poderia ser superior a 186 mil, considerando as mortes indiretas, causadas por falta de alimentos, atendimento médico e doenças.

“Estamos diante do maior genocídio televisionado da humanidade. Não tem como não se afligir e se angustiar ao assistir seu povo ser dizimado. Vivemos no Brasil e não acompanhamos uma guerra, porque não é uma guerra. Guerra é a luta entre duas partes. O que ocorre na Palestina é um massacre”, afirma Keithe Hamid. “Acompanhar essa realidade faz parte da nossa vida.”

7 imagens

Pai palestino al-Qumsan foi emitir uma certidão de nascimento para seus bebês gêmeos nascidos há quatro dias e recebeu a notícia de que sua família foi ferida nos ataques israelenses enquanto ele levava para casa a certidão de nascimento

Parentes de palestinos, que perderam a vida após os ataques israelenses a uma casa lamentam enquanto os corpos são levados ao necrotério
Faixa de Gaza
A maioria das pessoas deslocadas em Gaza está vivendo em tendas
1 de 7

ONU pediu que Israel e Hamas façam uma pausa humanitária na guerra para que crianças palestinas sejam vacinadas contra a poliomielite

Ali Jadallah/Anadolu via Getty Images

2 de 7

Pai palestino al-Qumsan foi emitir uma certidão de nascimento para seus bebês gêmeos nascidos há quatro dias e recebeu a notícia de que sua família foi ferida nos ataques israelenses enquanto ele levava para casa a certidão de nascimento

Ashraf Amra/Anadolu via Getty Images

3 de 7

Parentes de palestinos, que perderam a vida após os ataques israelenses a uma casa lamentam enquanto os corpos são levados ao necrotério

4 de 7

Divulgação / IDF

5 de 7

Faixa de Gaza

Majdi Fathi/NurPhoto via Getty Images

6 de 7

A maioria das pessoas deslocadas em Gaza está vivendo em tendas

Unrwa

7 de 7

Filmagem de drone de edifícios destruídos em Jabalia, norte de Gaza

Unicef

O conflito teve início em outubro passado, após o grupo Hamas atacar o sul de Israel e sequestrar 251 pessoas – incluindo 38 crianças. Quase 1,2 mil israelenses e estrangeiros foram mortos durante a ofensiva, incluindo 282 mulheres e 36 crianças, no que ficou conhecido como “o dia mais mortal na história de Israel”.

“Daqui [do Brasil], seguimos resistindo, lutando e trazendo informações que a mídia hegemônica não traz”, conta Keithe Hamid, que é professora no Distrito Federal. Segundo ela, a mídia nacional e internacional não dão espaço para vozes palestinas. Integrante da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Keithe afirma: “Não fomos ouvidos”.

“Mais um capítulo”

Para o também palestino, de 3ª geração, e secretário de relações internacionais da Fepal, Robson Cardoch Valdez, a realidade palestina não é, exatamente, uma novidade. “A atual conjuntura em Gaza, a partir de 7 de outubro de 2023, é só mais um capítulo de décadas de ocupação ilegal de nossos territórios, e é dessa forma que vemos um genocídio em curso”.

No ponto de vista de Cardoch, falta contextualização da situação atual em Gaza.

“Foram décadas de ocupação ilegal de terras palestinas e de instrumentalização gradual de um regime racista de apartheid, conforme expresso em parecer consultivo mais recente da Corte Internacional de Justiça”, afirma. “Os brasileiros, em sua maioria, não conseguem perceber que os palestinos lutam uma guerra de libertação nacional contra a colonização israelense e lutam pela sua autodeterminação como povo e como nação”, complementa Cardoch.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.