Quase dois meses depois, corpo de adolescente encontrada enterrada em sítio no interior de SP é liberado para sepultamento


Família foi autorizada a fazer o sepultamento após o exame de impressões digitais confirmar que os restos mortais encontrados no sítio em Nova Granada (SP), no fim de agosto deste ano, são de Giovana Pereira Caetano de Almeida. Dono de sítio e caseiro chegaram a ser presos, mas foram liberados. Corpo de Giovana Pereira Caetano de Almeida, de 16 anos, foi encontrado enterrado em propriedade rural em Nova Granada (SP)
Reprodução/Redes sociais
Quase dois meses após a adolescente Giovana Pereira Caetano de Almeida ter sido encontrada morta e enterrada em um sítio localizado em Nova Granada (SP), o corpo da vítima foi liberado pela Polícia Civil de São José do Rio Preto (SP) para o sepultamento. A menina estava desaparecida desde dezembro de 2023, quando tinha 16 anos.
📲 Participe do canal do g1 Rio Preto e Araçatuba no WhatsApp
A liberação do corpo ocorreu após o exame necropapiloscópico ter confirmado que as impressões digitais encontradas nos restos mortais que estavam enterrados na propriedade rural são de Giovana. A polícia confrontou o resultado do exame com as impressões digitais colhidas quando a vítima pediu a confecção do RG.
Apesar da autorização, até a última atualização desta reportagem, o corpo da adolescente ainda não havia sido sepultado.
À TV TEM, o delegado André Amorim informou que assumiu as investigações recentemente e que pretende ouvir todos os envolvidos no caso novamente. Outros dois delegados já participaram do inquérito, sendo Ericson Salles Abufari e, em seguida, Dimitrius Coelho.
Dono de sítio e caseiro presos
Corpo de Giovana de Almeida foi achado enterrado em sítio no interior de SP
Arquivo pessoal
Giovana Pereira Caetano de Almeida estava desaparecida desde dezembro de 2023. O corpo dela foi encontrado no dia 28 de agosto deste ano.
O caso veio à tona após a polícia receber a informação de que um corpo havia sido enterrado em uma propriedade rural. Policiais foram ao local e encontraram a ossada.
O empresário Gleison Luís Menegildo, dono do sítio, e o caseiro do imóvel, Cleber Danilo Partezani, chegaram a confessar que enterraram o corpo, mas negaram o assassinato. Eles foram presos por ocultação de cadáver, porém, soltos depois do pagamento de uma fiança de R$ 22 mil.
Segundo o primeiro relato de Gleison à polícia, Giovana, que era de São José do Rio Preto , foi até a empresa dele para uma entrevista de estágio. Em determinado momento, de acordo com a versão do suspeito, eles passaram a consumir cocaína.
A princípio, a polícia também informou que o empresário e o caseiro afirmaram que tiveram relações sexuais com a vítima.
Ainda conforme a versão dada pelos suspeitos à polícia, após a adolescente ter ficado sozinha em uma sala, ela teria tido um mal súbito e eles a teriam encontrado já morta. Os dois, então, teriam colocado o corpo em uma caminhonete e o levado até o sítio para enterrá-lo.
Após os dois terem falado com a polícia e dado suas versões, no entanto, a defesa deles negou, por meio de nota, que tenha havido relação sexual com a garota. Também negou que eles a tenham matado e informou que o “laudo necroscópico irá confirmar que ela morreu de overdose”. A defesa não comentou sobre a ocultação do corpo.
Inicialmente, conforme a polícia, o dono da empresa informou não saber a identificação da vítima, mas, com a ajuda dos funcionários, ele encontrou um documento semelhante a um currículo que continha os dados da adolescente.
Contradições
Propriedade rural em Nova Granada (SP) onde a vítima foi encontrada morta
Arquivo pessoal
Em seguida, o então delegado do caso, Ericson Salles Abufari, deu entrevista à TV TEM e falou sobre o depoimento do empresário, que contradisse alguns detalhes da primeira versão dada por ele e pelo caseiro à polícia.
Conforme o delegado, Gleison relatou já ter saído com Giovana meses antes do dia em que ela morreu, depois de eles terem se conhecido por um aplicativo de relacionamento, embora as ferramentas só permitam usuários com 18 anos de idade ou mais. O empresário afirmou ter tido pouco contato com ela, mas, meses após saírem, ela foi à empresa dele levar seu currículo.
“O empresário informou que, há 15 meses, ele conheceu a garota em um aplicativo de relacionamento e teria saído com ela naquela época. Cerca de sete meses depois, no fim do ano, a jovem teria pedido um emprego para ele. Por isso, ele falou: ‘traga seu currículo aqui que nós vamos analisar’. E foi aí que teve um novo encontro com ela, na empresa dele, em São José do Rio Preto”, explicou o delegado.
Embora tenha divulgado a informação de que o empresário e o caseiro admitiram terem tido relações sexuais com a vítima inicialmente, após coletar os depoimentos de ambos, o delegado disse, em entrevista à TV TEM, que o empresário alega que quem teve relações com Giovana foi um funcionário da empresa. O nome dele não foi divulgado.
Segundo o relato de Gleison à polícia, no dia em que ela foi à empresa dele, após a entrevista de estágio, a adolescente começou a fazer uso de droga. Ele disse ter saído para comprar bebida e, quando retornou, foi surpreendido por outra situação.
“Ele disse que ela chegou, eles conversaram e, em um dado momento, ela usou um cigarro de maconha. Após isso, ele teria saído para buscar uma cerveja e, quando retornou, viu um funcionário aos beijos e abraços com ela”, afirmou o delegado.
“Em um dado momento, esse funcionário disse que viu ela passando mal após usar cocaína que estaria na mesa, em um recipiente de remédio. Após isso, ele [empresário] disse que tentou fazer os primeiros-socorros e, como estava em desespero, acabou colocando-a na caminhonete e indo para os outros locais”, continua o delegado.
O empresário teria andado de carro com o corpo por mais de um local até decidir enterrá-lo em seu sítio.
“O empresário disse que, em um primeiro momento, em um ato de desespero, ele teria colocado o corpo dela na caminhonete e ido até o distrito de Macaúba, em Mirassolândia (SP). Ele ia colocar o corpo em um rio que existe na região, mas resolveu depois vir até Nova Granada, na propriedade rural dele. Pediu para o caseiro providenciar uma vala, pois ele teria algo para enterrar. Foi onde depositou o corpo lá e o caseiro fechou com a terra, e por lá permaneceu o corpo.”
Envolvimento do caseiro
Segundo a polícia, o caseiro admitiu à polícia ter ocultado o corpo a mando do empresário, com quem tem vínculo empregatício. Porém, afirmou que, após receber a determinação de abrir a vala, não sabia que o local seria usado para enterrar a vítima.
“O caseiro fala que obedeceu a uma ordem do seu chefe, e que ele não havia dito se tratava de homem ou mulher a vítima, ele apenas fez a vala e depositou o cadáver”, explica o delegado.
Ainda conforme o caseiro, foi só após ter enterrado a adolescente que o empresário o informou de que havia um corpo no local e o ameaçou para que não avisasse a polícia.
De acordo com a polícia, assim como Gleison, Cleber também negou, no depoimento, que tenha tido relações sexuais com a adolescente.
Outros suspeitos
A polícia não dá detalhes sobre a atual linha de investigação, mas informou que ainda apura a dinâmica do crime para saber se há mais envolvidos.
De acordo com o delegado, funcionários que estavam na empresa no momento e viram a movimentação deverão ser ouvidos pela polícia. “Estamos aguardando as provas periciais já coletadas que foram realizadas e aí veremos quais serão os próximos passos dos inquéritos policiais.”
O delegado não confirma se, além do caseiro e do empresário, existem outras pessoas que tiveram participação no crime.
Relato da mãe
Patrícia Alessandra Pereira de Almeida, mãe da adolescente
Reprodução/TV TEM
Em entrevista à TV TEM, a mãe da adolescente, Patrícia Alessandra Pereira de Almeida, de 39 anos, disse que, por coincidência, já havia tido contato com o empresário por conta do trabalho e, quando soube que a filha estava se comunicando com ele por meio de mensagens, no primeiro momento a advertiu.
“Há um tempo, eu peguei no celular dela ela conversando com ele. Eu até chamei atenção. Falei: ‘Filha, esse cara tem mais de 30 anos, 30 e poucos anos e você tem 16 anos… Não precisa disso’. A gente era muito amiga, ela me contava absolutamente tudo. Ela falou: ‘Mamãe, eu saí com ele’. Até a gente discutiu. Ela falou: ‘Ele ofereceu até para me pagar’. Eu falei: ‘Você não precisa disso'”, contou.
A mãe disse que, depois disso, a adolescente nunca mais comentou sobre o empresário.
Embora Gleison tenha dito que a adolescente fez uso de maconha e cocaína na empresa dele, a mãe acredita que a filha tenha sido forçada a consumir os entorpecentes e suspeita que Giovana tenha sido vítima de outros crimes também.
“Você é empresário, está com outros dois sócios. Você chamaria uma menina de 16 anos, às sete e meia da noite, para fazer uma entrevista? Ele confessou que a cocaína era dele, ou seja, não era dela. Ela não usava cocaína. Então, eles drogaram a minha filha. Depois disso, se ela começou a passar mal… Estavam os homens lá, por que nenhum chamou o Samu, se tinha uma criança passando mal?”, questiona a mãe.
Veja mais notícias da região no g1 Rio Preto e Araçatuba
VÍDEOS: confira as reportagens da TV TEM
Adicionar aos favoritos o Link permanente.