Polícia suspeita que rival de “novo Marcola” foi morto e carbonizado

São Paulo – A Polícia Civil investiga se um dos dois corpos encontrados carbonizados em um carro, há cerca de dois meses em uma área rural de Ipeúna, interior paulista, seria de Murilo Batista Prado, o Irmão Soneca, de 25 anos. O jovem, apontado em registros policiais como um criminoso cruel e ambicioso, teria promovido uma matança na região de Rio Claro.

A série de homicídios, conforme denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e obtida pelo Metrópoles, resulta da tentativa de Irmão Soneca em assumir a liderança de uma organização criminosa, conhecida como Bando do Magrelo, após a prisão do chefão Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo, no ano passado.

Fontes ligadas à investigação do caso afirmaram à reportagem, em sigilo, nesta quarta-feira (23/10), que Irmão Soneca teria tentado se aliar, sem sucesso, ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção com a qual o Bando do Magrelo disputa a hegemonia do tráfico de drogas na região. Magrelo, inclusive, chegou a afirmar almejar ser o “novo Marcola”.

11 imagens

Suspeita é a de que jovem foi executado após tentar assumir liderança do crime na região

Polícia aguarda laudos para confirmar identidade das vítimas
Murilo Batista do Prado, 25 anos, que tenta substituir Magrelo na liderança do grupo
Carro foi incendiado em área rural supostamente com corpo de Murilo dentro
Anderson Ricardo, o Magrelo, chefe do Bando do Magrelo, preso em 2023
1 de 11

Veículo queimado tinha dois corpos no porta-malas

Reprodução/Polícia Civil

2 de 11

Suspeita é a de que jovem foi executado após tentar assumir liderança do crime na região

Reprodução/Polícia Civil

3 de 11

Polícia aguarda laudos para confirmar identidade das vítimas

4 de 11

Murilo Batista do Prado, 25 anos, que tenta substituir Magrelo na liderança do grupo

Reprodução/MPSP

5 de 11

Carro foi incendiado em área rural supostamente com corpo de Murilo dentro

Reprodução/Polícia Civil

6 de 11

Anderson Ricardo, o Magrelo, chefe do Bando do Magrelo, preso em 2023

Reprodução

7 de 11

Adalberto Aldivino Batista do Prado, o Divino, pai de Murilo

Reprodução/MPSP

8 de 11

Leandro Agostinho Fernandes, conhecido como Filho do Turco. Ele seria aliado de Murilo na disputa pelo Bando do Magrelo

Reprodução/MPSP

9 de 11

José Orlando Rodrigues, o Zóio, aliado de Murilo e morto em retaliação a um ataque supostamente comandado pelo jovem

Reprodução/MPSP

10 de 11

Michael Diego de Moraes, uma das supostas vítimas do grupo “dissidente” de Magrelo. Ele desapareceu em 29 de abril de 2024 depois de receber um telefonema

Arquivo Pessoal

11 de 11

Reprodução/Polícia Civil

 

Murilo, o Irmão Soneca, era membro da quadrilha rival da maior facção criminosa do Brasil, realizando negócios com o chefão Magrelo, com o qual chegou a ir ao Paraguai — onde teria negociado e transportado cargas de drogas para o interior paulista.

Mas, sem respaldo do PCC e considerado um traidor, Irmão Soneca teria sido julgado e condenado à morte por um “tribunal do crime”, promovido por criminosos do bando liderado por Magrelo.

Oficialmente, o jovem está com o paradeiro desconhecido. Porém, a polícia e o MPSP aguardam laudos oficiais que constatem a identidade dos dois corpos encontrados no veículo incendiado. A perícia também irá determinar se as vítimas foram queimadas vivas.

O corpo do jovem, conforme fontes afirmaram em sigilo, foi reconhecido por familiares, que também aguardam os laudos.

Carro queimado

No dia 19 de agosto passado, funcionários de uma usina avistaram fumaça e temeram que o fogo pudesse se alastrar. Ao se aproximarem, os trabalhadores constataram que um carro estava em chamas e identificaram dois corpos no porta-malas.

Por volta das 10h30, policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), de Rio Claro, se deslocaram até a área rural de Ipeúna, cidade localizada na mesma região, para avaliar a cena do crime.

Na ocasião, já desconfiavam que os dois corpos seriam do sexo masculino, por causa da estrutura óssea de ambos. Suspeita-se que o outro corpo seria do padrasto de Irmão Soneca, Valdivino Rodrigues da Fonseca.

Matança no interior

Conforme mostrado pelo Metrópoles, com Magrelo atrás das grades, Murilo se dispôs a tomar o lugar do chefão no controle do tráfico de drogas da cidade de Rio Claro, o que culminou em uma onda de assassinatos na região.

A briga entre integrantes do mesmo grupo criminoso deixou cinco mortes “oficiais” de junho até os dias atuais.

Em 2 de junho, Maicon Donizete do Nascimento, o Zóio Verde, de 36 anos, e Valdeir Silva dos Santos, o Val, 39, foram mortos no bairro Parque Universitário.

Ambos eram sócios de um depósito de bebidas. No dia da morte deles, dois pistoleiros desembarcaram de um carro verde e atiraram. A dupla assassina fugiu.

Registros da Polícia Civil indicam que Zóio Verde foi alvo de 18 tiros. No carro dele, foram encontrados R$ 23 mil em dinheiro. Já Val foi alvo de sete disparos.

Uma denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, obtida pela reportagem, chegou a afirmar que os comparsas dos mortos “se vingariam no próximo fim de semana”.

Val e Zóio Verde foram executados em um domingo. Como denunciado pelo Gaeco, seis dias depois, em um sábado, José Orlando Rodrigues, o Zóio, foi assassinado. Ele tinha saído do sistema carcerário no início do ano. Na ocasião, uma pedestre, sem nenhum envolvimento com o crime, foi ferida por uma bala perdida.

5 imagens

Criminosos de quadrilha do interior posam com pistolas

Willian Ribeiro de Lima Diez, o "Feio", apontado como braço direito de Magrelo
Criminoso segura fuzil em sala de casa
Anderson Ricardo de Menezes, o "Magrelo", apontado como líder da quadrilha que se opõe ao PCC no interior de SP
1 de 5

Rafael Freitas dos Santos, o “Nariz Torto”, posa segurando dois fuzis

Reprodução/MPSP

2 de 5

Criminosos de quadrilha do interior posam com pistolas

Reprodução/MPSP

3 de 5

Willian Ribeiro de Lima Diez, o “Feio”, apontado como braço direito de Magrelo

Reprodução/MPSP

4 de 5

Criminoso segura fuzil em sala de casa

Reprodução/MPSP

5 de 5

Anderson Ricardo de Menezes, o “Magrelo”, apontado como líder da quadrilha que se opõe ao PCC no interior de SP

Reprodução/MPSP

 

Testemunha sigilosa

Uma denúncia anônima ajudou a polícia a identificar os criminosos envolvidos na matança.

Conforme relatado pela testemunha sigilosa, Zóio Verde e Val teriam sido mortos por Leandro Agostinho Fernandes, o Filho do Turco, de 32 anos; Adalbert Aldivino Batista Prado, o Divino, 56, pai de Murilo; e José Orlando Rodrigues, o Zóio – morto seis dias após suposto envolvimento nos homicídios. Murilo é quem teria guiado o carro que levou os pistoleiros para o local do crime.

O quarteto também estaria envolvido, de acordo com o MPSP, nos assassinatos de um criminoso identificado somente como Gago e também no desaparecimento de Michael Diego Moraes em 29 de abril, após receber um telefonema. Depois da ligação, testemunhada pela mãe, o rapaz teria saído de casa e nunca mais foi visto.

Michael teria sido enterrado, clandestinamente, em um sítio pertencente ao Filho do Turco, onde também eram guardadas armas do grupo “dissidente” liderado por Murilo.

A mãe de Michael afirmou ao Metrópoles, nessa terça-feira (22/10), que o corpo do filho teria sido encontrado em agosto. Desde então, ela aguarda pela liberação, que deverá ser feita somente após a conclusão de exames de DNA.

Registros do TJSP mostram que Filho do Turco segue em liberdade, da mesma forma que Divino. O paradeiro de Murilo é desconhecido. As defesas dos três não foram localizadas. O espaço segue aberto.

Bando do Magrelo versus PCC

Quando estava em liberdade, na disputa pela hegemonia criminosa em Rio Claro, o Bando do Magrelo teria se envolvido em ao menos 30 homicídios de integrantes do PCC.

Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo mostram que, em 2020, foram assassinadas 21 pessoas em Rio Claro. O número praticamente dobrou no ano seguinte devido à atuação da quadrilha liderada por Magrelo.

Em outra denúncia, também obtida pelo Metrópoles, o Gaeco afirmou que as execuções promovidas por Magrelo e o bando dele, em via pública, em plena luz do dia, com disparos de fuzil, “colocam tristes holofotes na cidade.” Além dos homicídios, a quadrilha é alvo de inquéritos que apuram o crime de organização criminosa com associação para o tráfico de drogas.

Magrelo foi preso em 23 de maio do ano passado, usando documento falso, na cidade de Borborema, a cerca de 210 km de distância de Rio Claro e a quase 380 km da capital paulista.

Seis dias antes, ele havia fugido da polícia por um buraco no muro da mansão em que morava, em Ipeúna, durante uma operação conjunta do Gaeco e da PM.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.