
Nos últimos anos, uma nova febre tomou conta de empresários, executivos e aventureiros da internet: o home trader. O nome soa sofisticado, mas na prática significa gente apertando botões freneticamente na tela do celular, torcendo para ficar rico sem sair do sofá.
Essa modalidade se popularizou especialmente no day trade, um estilo de investimento que, em teoria, permite comprar e vender ativos no mesmo dia para maximizar lucros. Na prática? Para a maioria, é só um jeito acelerado de perder dinheiro e ganhar gastrite.
O home trading oferece uma variedade de ativos, como ações, commodities, moedas (forex) e derivativos, tudo embalado por um tempero especial: a alavancagem. Esse mecanismo mágico permite que você movimente valores muito superiores ao que realmente possui.
Quer um exemplo? Com uma alavancagem de 100x, um dólar seu vira 100. Parece um sonho? Sim, mas apenas até o momento em que o mercado resolve te dar uma rasteira e seu 1 dólar se transforma em menos 100 dólares. O lucro pode ser gigante, mas o prejuízo também – e a conta chega rápido.
Sem falar que você pode apostar tanto na alta quanto na baixa dos ativos. Parece inteligente, mas, para iniciantes, isso só significa dobrar as chances de errar. O resultado? Uma mistura de adrenalina, desespero e a certeza de que talvez vender bolo caseiro seja uma opção de carreira mais segura.
A Dura Realidade do Mercado
O mercado financeiro é um campo de batalha onde algoritmos milionários e investidores experientes competem pelo seu dinheiro. E, adivinhe só? Eles normalmente ganham. Para ser um home trader bem-sucedido, é preciso entender de tudo: tendências de preço, indicadores econômicos, balanços de empresas, até fenômenos climáticos que podem influenciar commodities. Mas, sejamos sinceros, a maioria das pessoas entra no mercado sem o mínimo de conhecimento.
Estima-se que 65% dos iniciantes perdem dinheiro. O outro percentual provavelmente está esperando um milagre ou ainda não percebeu que já está no prejuízo. Além disso, operar pode ser bem fácil. Basta baixar um app, transferir dinheiro e, em poucos cliques, começar a investir. O problema? Essa mesma facilidade pode te levar a um rombo na conta bancária antes mesmo de perceber o que está acontecendo.
E tem mais: entre taxas escondidas, spreads (aquela diferença sutil entre compra e venda) e custos da alavancagem, você pode descobrir que, mesmo acertando algumas operações, ainda está no vermelho. Parabéns, você acaba de ganhar o prêmio de “perdeu, mas perdeu bonito”.
Os Sintomas do Home Trader de Primeira Viagem
Depois de alguns dias operando, os sinais começam a aparecer. Se você se identifica com pelo menos três deles, talvez seja a hora de reavaliar suas escolhas:
-Você virou um economista de plantão. Antes, sua única preocupação financeira era se o boleto do cartão já venceu. Agora, você acorda citando PIB, inflação e impacto da crise chinesa no setor de commodities.
-Seu celular virou uma extensão da sua alma. Não importa onde esteja – no trabalho, no elevador ou no banheiro – a cada cinco minutos você confere a cotação.
-Você sente picos de adrenalina. Um ganho de 10% e você já está escolhendo seu iate. Uma perda de 15% e você começa a pesquisar vagas de emprego.
-Seu humor oscila mais que o mercado. De manhã, euforia. À tarde, desespero. De noite, insônia.
-Dormir? Nunca mais. Você acorda de madrugada só para ver se a Nasdaq se mexeu. Sua qualidade de vida caiu, mas, pelo menos, agora você tem olheiras dignas de um investidor hardcore.
-Você experimenta a verdadeira impotência. Seu dinheiro desapareceu, e você percebe que tinha mais controle jogando no cassino do que no mercado financeiro.
-Você já considerou vender um rim. Afinal, a margem de garantia da corretora precisa ser reposta de alguma forma, certo?
O Treinamento Jedi para Sobreviver ao Mercado
Brincadeiras à parte, operar no mercado financeiro exige mais controle emocional do que análise técnica. Se não souber lidar com perdas e ganhos, o mercado vai te engolir sem piedade.
O segredo? Disciplina, paciência e um pouco de humildade. Aceitar que, no começo, você provavelmente vai perder dinheiro (e muito). Aprender a controlar a euforia nos lucros e o pânico nas perdas. E, claro, nunca investir mais do que pode perder – a menos que você esteja confortável em morar com a sogra.
No fim das contas, o home trading pode ser emocionante, mas definitivamente não é para qualquer um. Se a ideia de ver seu saldo indo de “milionário” para “vendendo almoço para pagar a janta” em questão de minutos te assusta, talvez seja melhor reconsiderar.
Agora, se você está disposto a estudar, ter sangue frio e resistir à tentação de se achar o novo Warren Buffett só porque acertou uma operação… bem, boa sorte! O mercado está sempre à espreita, pronto para testar sua sanidade mental.
*Coluna escrita por Fabio Ongaro, economista e empresário no Brasil, CEO da Energy Group e vice-presidente de finanças da Camara Italiana do Comércio de São Paulo – Italcam
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