Três (assuntos) em um

Há alguns assuntos que circulam com muito mais ênfase dentro da mídia segmentada e entre um público específico. E, consequentemente, ali são abordados com mais profundidade. 

1. O caso Amazon: a vice-presidente da Amazon apareceu em um vídeo promocional da empresa, nessa semana, portando um colar cujo pingente mostra o mapa de Israel pintado com as cores da Palestina. Ou seja, a representação gráfica do slogan From the River to the Sea (Do Rio ao Mar), que prega o fim do Estado judeu. Ao fazê-lo, ela abriu um novo precedente: agora é permitido expressar o antissemitismo ou o antissionismo (o que é, convenhamos, a mesma coisa) no mundo corporativo. 

Foto da vice-presidente da Amazon com o pingente representando a Palestina sobre o mapa de IsraelReprodução

Para piorar a crise, a Amazon, em lugar de simplesmente desculpar-se e argumentar que não apoia o ocorrido, divulgou uma nota afirmando que o vídeo não pretendia ser uma declaração política – o que foi, então, sabe lá Deus. Para complicar, há um outro aspecto que não nos permite perdoar a Amazon: um dos funcionários da empresa, Sasha Troponov, é mantido refém em Gaza desde o 7 de outubro de 2023, sem que a Amazon tenha feito uma única manifestação a esse respeito. Aparentemente, o mundo corporativo também está perdendo o juízo.

2. Os túneis do Hezbollah: o avanço do Exército de Israel no sul do Líbano permitiu que o mundo conhecesse a cidade terrorista subterrânea escavada ali pelo Hezbollah. Muito, mas muito maior, mais bem construída e mais armada do que a escavada pelo Hamas. 

“Como é possível que o tipo de escavação pesada necessária para criar esses túneis tenha acontecido literalmente bem debaixo do nariz da ONU? Eles não estavam olhando? Eles sequer se importaram?

A resposta parece ser um “não” bem óbvio. Eles decidiram não olhar. A força internacional de manutenção da paz tem sido uma piada por anos.” (Douglas Murray).

No entanto, o Hezbollah tem uma razão adicional para temer o exército israelense, a qual passa pelo bolso: ele é o maior produtor (Síria está em segundo lugar) de uma droga chamada Captagon, vulgarmente conhecida como “cocaína de pobre”. A venda do Captagon representa 40% da entrada de recursos financeiros que garantem as atividades do grupo terrorista. 

Captagon, vulgarmente conhecida como “cocaína de pobre”Wikimedia

O Captagon é um tipo de anfetamina, um neuroestimulante que diminui a sensação de perigo e aumenta a de coragem, além de permitir que o usuário permaneça acordado por longos períodos. Ela foi a droga usada pelos terroristas do Hamas antes da invasão do sul de Israel. Seu principal mercado consumidor é o Oriente Médio e ela é largamente consumida em países como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Jordânia. 

Uma vez que sua produção está concentrada no sul do Líbano, esta indústria está sendo prejudicada pela presença do exército israelense ali. Apesar de pouco ouvido fora do Oriente Médio, o tema é tão importante que os Estados Unidos aprovou, em 2021, o Ato Captagon, uma moção que tem como objetivo desmobilizar sua cadeira produtiva.

3. A relação entre a resposta de Israel ao Irã e a libertação dos reféns em Gaza: muitos não entendem a relação direta que existe entre a guerra entre Israel e o Irã, e a libertação dos reféns israelenses mantidos há mais de um ano nos túneis de Gaza. 

Para entendê-la, é preciso lembrar que, ainda hoje, o objetivo do líder do Hamas, Yahya Sinwar, é provocar uma guerra ampla no Oriente Médio. Segundo seus planos, o Irã, o Hezbollah e os Houthis, grupo terrorista baseado no Iêmen, atacariam Israel simultaneamente no dia 7.10 – e os motivos pelos quais isso não aconteceu ainda são apenas elocubrações. 

Muito ainda há de acontecer no conflito Israel x Irã e, assim, Sinwar não perdeu as esperanças de ver a escalada da guerra. E enquanto essa possibilidade ainda estiver em pauta, ele não dará ouvidos a nenhum tipo de proposta que objetive a libertação dos 101 reféns que permanecem em Gaza.

O Oriente Médio é um lugar complicado, não? Para dizer o mínimo.

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