Os bairros de São Paulo que podem definir o resultado do segundo turno

São Paulo — Em uma das eleições mais disputadas da história da cidade, as campanhas de Guilherme Boulos (Psol) e Ricardo Nunes (MDB) preparam estratégias para conquistar, nas próximas duas semanas, votos que decidirão o pleito em São Paulo. Ambos priorizarão bairros com maior potencial de conversão de eleitores, montando um verdadeiro “quebra-cabeça” para definir as agendas e intensificar a presença em regiões estratégicas.

Entre essas áreas, destacam-se os bairros onde o influenciador Pablo Marçal (PRTB) liderou no primeiro turno, enquanto Boulos e Nunes ficaram praticamente empatados. Embora as eleições brasileiras não adotem o sistema de “winner takes all” (o vencedor leva tudo) – como ocorre nos Estados Unidos –, questões locais podem influenciar a decisão dos eleitores.

Alguns destes bairros passaram por mudanças recentes no perfil político e concentram uma parcela significativa do eleitorado paulistano, podendo ser cruciais para o desfecho do pleito em 27 de outubro. Juntos, contabilizaram 130 mil eleitores de Marçal, que agora terão de optar por outro candidato.

Os bairros em questão são Parque do Carmo, Teotônio Vilela, Vila Sabrina, Sapopemba, Ermelino Matarazzo e São Miguel Paulista, todos na zona leste da cidade. No Parque do Carmo, onde Marçal obteve 30,88% dos votos, Boulos superou Nunes por uma diferença de apenas 1,32 pontos percentuais. Em Sapopemba, a vantagem de Boulos foi ainda menor, apenas 0,32 pontos percentuais.

Resultado do primeiro turno

  • Parque do Carmo: 27,44% (Nunes) X 28,76% (Boulos) X 30,88% (Marçal)
  • Sapopemba: 27,51% (Nunes) X 27,19% (Boulos) X 32,58% (Marçal)
  • Ermelino Matarazzo: 28,55% (Nunes) X 28,07% (Boulos) X 31,35% (Marçal)
  • São Miguel Paulista: 28,63% (Nunes) X 28,2% (Boulos) x 31,15% (Marçal)

Diante do cenário, a primeira semana de campanha para o segundo turno começou com ambos os candidatos voltando esforços para os eleitores da Zona Leste. Logo nos primeiros dias após o primeiro turno, a equipe de Guilherme Boulos intensificou as agendas em bairros como Parque do Carmo, onde ele venceu de Nunes por uma margem estreita.

Regiões vizinhas, como Teotônio Vilela, onde o deputado superou Pablo Marçal por uma pequena diferença, devem receber ainda mais atenção nesta fase da campanha.

Ricardo Nunes, por sua vez, também focou as ações na Zona Leste. No programa eleitoral desta segunda-feira (14/10), o prefeito dedicou grande parte do tempo a destacar os feitos de sua gestão na região, mencionando especificamente os bairros onde ficou atrás no primeiro turno.

Transferência de votos

 

Por trás do esforço das campanhas, permanece a incerteza sobre qual estratégia será mais eficaz para conquistar os votos dos candidatos que ficaram de fora do segundo turno. Boulos aposta que a insatisfação dos moradores com a gestão do atual prefeito, Ricardo Nunes, pode resultar em uma migração de votos a seu favor. A conta, no entanto, nem sempre fecha.

Em Sapopemba, a moradora Márcia relatou ao Metrópoles problemas com o sistema de saúde e a segurança. “A gente escuta bastante sobre assaltos por aqui. No último mês, faltaram medicamentos na UBS e no AMA. Tive que comprar alguns remédios para minha mãe, que normalmente pego no posto. De todos que ela toma, só um estava disponível, e não tinha previsão de chegada dos outros.”

Essa insatisfação também é compartilhada por outros moradores, que se queixam das longas filas no posto de saúde. Isabel, que vive no bairro há mais de 40 anos, comenta a espera pela conclusão da UPA Sapopemba, anunciada pela gestão Nunes em junho de 2023 com promessa de entrega até o fim do ano: “Quero que terminem essa UPA logo […] O que tem hoje, você vai lá e fica quase três horas para ser atendido”.

Apesar das críticas, nenhuma das duas moradoras pretende votar em Boulos e estão decididas por Nunes. “Vou votar nele porque não gosto do Boulos. Não vou com a cara dele. É intuição minha”, afirma Isabel, que votou em José Luiz Datena (PSDB) no primeiro turno.

Samuel, outro morador de Sapopemba, escolheu Pablo Marçal no primeiro turno por vê-lo como “um candidato diferente”. Embora critique a falta de atenção da Prefeitura às ruas do bairro, ele seguirá com Nunes: “A ideologia dele é quase igual à do Marçal. Como ficou parecido, vou votar nele”.

Histórico

O nome de Boulos é mais popular entre moradores que mantêm um vínculo com o legado petista na região. Francisca, que trabalha há 20 anos em Sapopemba e mora no Jardim Grimaldi, votou em Boulos no primeiro turno e pretende repetir o voto no segundo. “Eu sempre voto onde o Lula estiver. Não sou petista, mas se o Lula não está na eleição, voto em branco. Não tenho nada contra o Ricardo [Nunes], mas meu voto é no Boulos.”

José Carlos, outro morador, faz referência à gestão de Marta Suplicy, candidata a vice de Boulos, como “a melhor que São Paulo já teve”. Ele não acerta o nome do candidato, mas afirma que votará “onde Marta estiver”. “Eu tenho 70 anos e não preciso votar, mas vou votar nesse Bola. O pessoal jovem se esquece, mas foi a Marta que fez o CEU aqui.”

Nas eleições de 2022, Lula venceu Jair Bolsonaro no primeiro turno nos quatro bairros citados. Em São Miguel Paulista, por exemplo, Lula conquistou 48,39% dos votos, enquanto Bolsonaro obteve 39,07%. Já dois anos antes, em 2020, Boulos perdeu para Bruno Covas (PSDB), que tinha Nunes como vice, também nos quatro distritos no primeiro turno. Em São Miguel Paulista, Covas ficou com 29,49% dos votos, e Boulos com 20,16%.

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