Quem é MC Menor JP, cantor de 16 anos que viralizou no TikTok com ‘funk raiz’ inspirado em MC Daleste


Ao g1, ele diz que ‘tudo se alinhou para dar certo’. Cantor é seguido por Xamã, fará parceria com Mr. Beast e teve sua voz crua ouvida em set do festival Tomorrowland. Cantor de 16 anos viraliza com versão de hit de MC Daleste
Em setembro de 2024, o jovem paulista MC Menor JP publicou um vídeo cantando uma música feita a partir de “Mina de Vermelho”, do MC Daleste, funkeiro precurssor do estilo ostentação. Depois de posts sem muitas visualizações, ele torcia muito para que este fosse finalmente o sucesso que ele precisava. “Eu botei uma fé, falei: ‘Nossa, Deus, por favor me ajuda nessa’”, conta ele ao g1.
Menos de um mês depois, Menor hoje tem vídeos com até 50 milhões de visualizações. Ele é seguido por artistas como Xamã e o porto-riquenho Nicky Jam, foi trilha sonora de vídeos virais e já teve sua música tocada na edição brasileira do festival Tomorrowland.
Além disso, Menor embarcou em sua primeira viagem internacional: nesta segunda-feira (14) foi ao Equador para gravar um vídeo com Mr. Beast, o YouTuber com mais inscritos no mundo.
Enquanto se prepara para lançar a versão oficial da música, MC Menor JP ainda tenta entender como conseguiu tanto sucesso em tão pouco tempo.
MC Menor JP
Reprodução/Instagram
De Igarapava para o mundo
MC Menor JP tem 16 anos e é natural de Igarapava, no norte do estado de São Paulo. A cidade fica a 85 km de Franca (SP) e tem cerca de 26 mil habitantes, de acordo com o IBGE. “Uma cidade que ninguém viu, agora vai ser reconhecida”, diz o cantor, brincando.
O funkeiro conhecido como “menor” não só é menor de idade, como é o irmão mais novo de quatro filhos. Ele conta que morava com o pai mas, após a morte da mãe, passou a morar com vários membros da família ao longo dos anos. “Estava mudando de casa como se fosse de cueca. É uma ‘pá’ de ‘fita’ que já passei, ainda sendo novo”.
O jovem diz que sempre sonhou, desde novo, em ser cantor. Tinha interesse especialmente no funk ostentação e no chamado “funk consciente”, subgênero mais “sério” e melódico.
“Meu irmão sempre cantava Daleste, eu já pegava, já catava a visão. A partir dos 7 anos já comecei a escrever minhas letras, meus ‘funk ostentação’. Eu nunca curti proibidão. Porque, querendo ou não, eu sou menor de idade. Só fui escrevendo ‘consciente’ e deu certo”.
Menor conta que nem sua família acreditava que ele se daria bem no funk. “É que eu ainda sou ‘de menor’. E nunca ninguém lá da cidade saiu para fazer um trampo para fora, ou em São Paulo”. Mas o jovem mesmo assim vinha tentando estourar. Um dia, se inspirou em MC Daleste, um de seus principais ídolos, para escrever seus próprios versos.
Menor aproveitou a melodia e um trecho dos versos de “Mina de Vermelho (Quem É?)”, sucesso do MC paulista. O hit, que já inspirou “Vermelho”, de Gloria Groove, foi a virada de chave na vida de Menor.
Daniel Pellegrini, o MC Daleste, tinha 20 anos quando foi baleado em um palco improvisado em Campinas (SP). Ele era precursor do funk ostentação, sub estilo que mistura a batida do funk carioca com letras sobre carros, motos, óculos, roupas e bebidas. Daleste também causou polêmica ao cantar o estilo “proibidão”, com referências a violência, sexo e drogas.
Nos vídeos de “Menina de Vermelho”, nome dado à sua versão, Menor não usa nenhum grande recurso ou produção. Ele reproduz a batida do funk batendo palmas, enquanto canta na rua mesmo – o que é comum em videos do “funk raiz”. “Eu queria puxar esse funk das antigas de agora para a nova geração, dar uma modernizada”, explica.
“Tinha pedido [para esse vídeo fazer sucesso] porque o mundo tá acabando, né? Falei ‘Senhor do céu, vira a minha vida, pelo amor de Deus’. Pelo menos dá um tempinho para me virar.”
Sucesso fora do Brasil
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O primeiro vídeo de “Menina de Vermelho” foi publicado no TikTok no dia 16 de setembro. No dia 21, o dançarino e influencer francês Akamz – que tem 24 milhões de seguidores – fez sua própria versão do post do brasileiro. Ele está andando na rua quando “encontra” o funkeiro, não resiste à música e começa a dançar.
Menor acredita que foi esse vídeo (hoje com mais de 21 milhões de visualizações no TikTok) que o levou às pessoas de fora do Brasil. Hoje, muitos comentários nos perfis do brasileiro, no TikTok e no Instagram, são em inglês.
“Quando eu vi o primeiro vídeo do gringo dançando, eu ‘rachei o bico’. Falei: ‘Mentira, chegou lá’”.
Outro criador chamado Madara Dusal, que tem mais de 12 milhões de seguidores, brincou fingindo ser o “cinegrafista” de Menor. O vídeo no TikTok passou de 41 milhões de visualizações.
Mas o sucesso não é só culpa dos gringos. A voz do funkeiro também chamou muita atenção – ele garante que nunca fez aula de canto e treinava em casa, se inspirando na irmã. O jeito “funk das antigas”, com o vocal cru e sem efeitos, também atraiu fãs brasileiros.
“O funk é isso! Beat na palma da mão, voz boa, sem autotune, pelos becos e vielas e cantando o papo reto”, diz um comentário no perfil do cantor.
Além disso, um motor para o sucesso é justamente a voz “sozinha” no vídeo. Músicos de vários países aproveitaram para remixar ou criar arranjos para complementar a voz do funkeiro, em diferentes gêneros musicais.
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Agora, Menor é parte da “Sobre Funk”, página de conteúdo especializado em funk e que tem um selo. Com eles, o funkeiro produziu mais um vídeo, acompanhado de uma figurante e influenciadora de vestido vermelho. E até a participação dela, que mexe no cabelo com frequência, chamou a atenção na internet. “Tudo se alinhou para dar certo”, reflete MC Menor.
E agora, Menor?
A “virada” na vida de Menor aconteceu “muito cedo”, acredita ele. De fato, aconteceu antes do funkeiro ter uma página oficial do Spotify, antes da música ser lançada oficialmente, e antes, ainda, de Menor fazer seu primeiro show fora da sua cidade.
Até então, ele só tinha se apresentado “naqueles bailinhos de quebrada”. “Mas lá na cidade era só briga. Tipo me toquei das 2 às 5 da manhã, só dava briga, morte. Aí, eu nem ficava”.
MC Menor JP
Reprodução/Instagram
Com o sucesso, Menor já subiu no palco no Festival Sobre Funk, durante o show de MC Daniel. E tudo indica que ele deve aparecer muito por aí: artistas de vários lugares estão correndo atrás do jovem funkeiro.
“Tô recebendo mensagem de todos os artistas de todos os país imagináveis querendo gravar com ele”, revela o assessor.
Até o PSV, time de futebol holandês, quer que o cantor grave um vídeo usando uma camisa da equipe. E claro, surgiu o convite de Mr. Beast.
Pego de surpresa com o sucesso internacional, Menor vai se virando. “Eu não sei nem falar [inglês]. Só respondo ‘I’m From Brazil’, é a única coisa que eu sei falar”, brinca. Mas o que realmente o emocionou foi o reconhecimento de MC Hariel, um dos seus ídolos. “Na hora que o Hariel e MC Gui comentaram no meu vídeo, falei ‘Mentira, pai do céu'”.
Para investir na sua carreira, o funkeiro se mudou para São Paulo, capital, e está se organizando no meio de tantos convites e promessas. Seu principal objetivo é ajudar sua família, que hoje o apoia.
“Eu penso que, quando eu ganhar meu primeiro caixa, vou pagar minha casa. Lá em Igarapava, minha família tá quase perdendo a casa com R$ 30 mil de dívida. Então, com o primeiro dinheiro, eu quero já ajudar minha família nisso.”
Com tantas mudanças em tão pouco tempo, Menor está animado e promete que vai fazer valer todo o reconhecimento. “Tô vindo em peso. Segura, família. Obrigado a todos que estão me acompanhando, vocês são ‘zica’. Ó o pai na Globo!”

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