Teste: Novo Honda CR-V é o melhor da Honda no Brasil, menos o preço

Honda CR-V Advanced Hybrid 2024 volta ao Brasil após três anos de ausênciaLuiz Forelli Santana/iG

A sexta geração do Honda CR-V fez sua estreia no Brasil ontem (26) , com preço inicial de R$ 352.900 e sendo importado da Tailândia, apresentando um sistema de propulsão quase elétrico. Aliás, a Honda não poderia deixar de equipar seu veículo topo da gama sem o sistema híbrido que equipa o Accord e Civic. No entanto, as mudanças não se limitam a isso. O SUV médio recebeu uma nova plataforma, interior renovado, espaço interno ampliado, tecnologia e segurança, trocando a alma do SUV que saiu de linha em 2021.

Nós do iG Carros, passamos um dia inteiro para testar o modelo e compartilhar nossas primeiras impressões. Avaliamos se vale a pena investir o montante exigido no primeiro SUV híbrido da Honda ou considerar seu concorrente direto, o Toyota RAV4, que já utiliza o motor híbrido desde maio de 2019. Ele é oferecido por R$ 3,6 mil a menos, custando R$ 349.290.

Partimos de São Paulo em direção a Mogi Guaçu, interior do estado, percorrendo mais de 400 km ao longo do trajeto. Encaramos diversos cenários, desde áreas urbanas, marginais, rodovias até o tráfego intenso da capital paulista.

A traseira remete ao Volvo XC60Luiz Forelli Santana/iG

SENSAÇÃO AO VOLANTE:

A experiência ao volante da sexta geração do CR-V é uma combinação de conforto e uma pitada de agilidade, devido aos motores elétricos de tração, que agrada em retomadas e acelerações em velocidades mais baixas que cativa até os motoristas mais exigentes, apesar de seu peso de 1.819 kg.

Não é surpresa, considerando a reputação da Honda na entrega de produtos de alta qualidade com tecnologia híbrida. O destaque aqui é a tração integral, que oferece estabilidade extra em curvas e melhor desempenho em saídas, além da presença de duas relações fixas de engrenagem: uma intermediária e outra Overdrive.

CR-V é o primeiro SUV híbrido da Honda Luiz Forelli Santana/iG

Sob o capô, o Honda CR-V abriga um motor a gasolina 2.0 aspirado, que produz 147 cv e 19,4 kgfm de torque a 4.500 rpm. Esse motor trabalha em conjunto com dois motores elétricos, fornecendo até 184 cv e 34,2 kgfm de torque. A potência máxima combinada é de 207 cv e torque máximo de 34,2 kgfm. A transmissão e-CVT, com sua embreagem única, abriga os dois motores elétricos do modelo – um gerador e outro de tração de alta potência.

Apesar da potência similar ao do Accord, o conjunto do CR-V se mostra bem equilibrado em diversas situações. O torque do motor elétrico é especialmente útil em retomadas, fazendo 80 km/h a 120 km/h, ou 60 km/h a 100 km/h em cerca de 6 segundos. O CR-V demora para apresentar um ”cansaço”, fazendo ele andar bem em diversos tipos de velocidades, além de ser estável, sem demonstrar fraqueza. Aquele barulho alto do motor CVT não existe mais – agora você sente o veículo pronto para qualquer obstáculo na estrada. 

Dianteira traz traços agressivos e ao mesmo tempo elegantesLuiz Forelli Santana/iG

O consumo do Inmetro é de 14,2 km/l no ciclo urbano e 11,6 km/l no ciclo rodoviário. Em nossos testes de consumo, seguindo as velocidades das vias, alcançamos 14,8 km/l na cidade, sem trânsito, e 12,1 km/l na estrada. No trânsito pesado da capital paulistana cheguei aos 18 km/l, devido à maior utilização do motor elétrico. Porém, com a bateria fraca, o consumo cai para cerca de 10,2 km/l, em razão do uso do motor a combustão. 

O equilíbrio da plataforma, combinado com uma ótima suspensão e aliado ao excelente isolamento acústico oferece uma sensação de suavidade e conforto, mesmo em altas velocidades, trazendo uma certa tranquilidade e conforto. A firmeza do veículo é favorável, garantindo estabilidade nas retas e controle eficaz em velocidades elevadas. A carroceria mantém-se estável nas retas, sem balanços, algo que é comum nos SUVs, e o controle em altas velocidades é também um ponto forte.

Faróis e lanternas são full LEDLuiz Forelli Santana/iG

A estabilidade é resultado da suspensão McPherson na dianteira e do sistema Multilink na traseira (suspensão independente nas quatro rodas), integrados à plataforma Honda Architecture, assim como os irmãos sedãs. 

E as curvas não são um desafio para o CR-V, mesmo sendo um SUV de porte médio. O modelo é estável e confiável, mesmo em velocidades mais altas. Ele mantém sua trajetória com precisão, sem demonstrar nenhum desejo de sair de frente ou de traseira. O comportamento também é ágil em situações que requer mais agressividade ao virar o volante, que por sinal, há uma bela empunhadura e ótima calibração. Tudo isso graças aos pneus largos – 255/55 R19.  

SUV possui sensores dianteiros e traseiros, mas não nas laterais Luiz Forelli Santana/iG

Ao enfrentar buracos, a suavidade da suspensão proporciona conforto aos passageiros, sem comprometer a cabine. É como se o CR-V estivesse andando sobre colchões, tamanha é a sensação de conforto e maciez.

O isolamento acústico merece destaque, com a Honda investindo em materiais de absorção sonora na carroceria e nas caixas de rodas, além de vidros duplos nas portas dianteiras e para-brisa acústico, o que garantiu uma cabine silenciosa mesmo em acelerações. No modo Sport, entretanto, o som do motor a combustão é amplificado pelos alto-falantes, assim como Accord, o que traz uma impressão de esportividade e sorriso no rosto. 

Em comparação com o concorrente direito, o Toyota RAV4, o Honda CR-V possui 1 cm maior de entre-eixos e 1 litro a mais Luiz Forelli Santana/iG

INTERIOR E ESPAÇO INTERNO: 

O espaço interno do Honda CR-V é típico de um SUV médio. Lembrando que o entre-eixos aumentou 4 cm em comparação a geração anterior, além do SUV estar 40 cm mais largo. São 4,70 m de comprimento, 1,86 m de largura, 1,69 m de altura e um entre-eixos de 2,70 m. O porta-malas é de 581 litros.

Com espaço suficiente para três ocupantes na parte traseira, graças à ausência de um túnel central, o CRV conta com duas saídas USB-C de 3,0 A e saídas de ar-condicionado. O espaço atrás, com o banco do motorista, ajustado para minha altura de 1,88 m, deixou três dedos de espaço entre meus joelhos e o banco da frente. Ou seja, há bastante espaço e conforto disponíveis. Além disso, o banco traseiro é reclinável, o que oferece ainda mais versatilidade para os ocupantes.

Interior se assemelha, em muitos pontos, com os irmãos sedãs Luiz Forelli Santana/iG

No entanto, o acabamento das portas deixa a desejar, pois é feito de plástico duro em vez do material soft-touch, como nas portas dianteiras.

À frente, destaco os bancos, que são bastante confortáveis e proporcionam um bom apoio ao condutor. Apesar das placas de resina aplicadas nos bancos pela Honda, após quase 7 horas de percurso, é inevitável não sentir certo cansaço. Eles são revestidos em couro legítimo na maior parte e material sintético nas laterais. Tanto o banco do motorista quanto o do passageiro contam com ajuste elétrico, sendo que o do motorista possui duas memórias para ajuste.

O acabamento do painel superior e das portas é suave ao toque. O console central apresenta plástico rígido, mas nada que incomode. Todas as peças de montagem são bem encaixadas, sem qualquer rebarba solta. Além disso, há detalhes de imitação de madeira nas portas e no painel, juntamente com iluminação nos porta-copos e uma faixa de LED azul nas portas.

Base da manopla do câmbio não é mais elevada como as gerações anterioresLuiz Forelli Santana/iG

A base da alavanca de câmbio alta, característica marcante dos modelos anteriores do CR-V, foi substituída por uma alavanca minimamente elevada. Ao lado dela, encontram-se os três modos de condução (ECON, NORMAL, SPORT), o freio de estacionamento eletrônico e o sistema auto hold. O compartimento central oferece espaço para 9 litros, sendo este um ponto interessante do modelo, que conta com diversos porta-objetos distribuídos pelo carro, com tamanho suficiente para acomodar itens do dia a dia.

Volante leva uma boa empunhadura Luiz Forelli Santana/iG

O volante com assistência elétrica progressiva é extremamente confortável, leve e bem calibrado em velocidades mais altas. Nele, encontram-se as funções do piloto automático adaptativo Stop & Go (anda e para), que é muito bem ajustado, evitando aquelas freadas bruscas quando um carro surge à frente. Além disso, oferece assistência em permanência de faixa com centralizador que pode ser ativado aos 73 km/h e desativa automaticamente aos 63 km/h. Do outro lado, estão as funções para mudar as informações do painel de instrumentos de 12,2’’, que é fácil de mexer e muito intuitivo, assim como o sistema multimídia de 9’’. É uma pena que o Android Auto seja por cabo, enquanto o Apple CarPlay é sem fio.

O sistema de som é de alta qualidade, o que era de se esperar, afinal, o CR-V utiliza caixas de som fornecidas pela Bose. Isso faz com que aquele ambiente silencioso seja preenchido por graves profundos e médios muito bem equilibrados.

Painel de instrumentos de 12,2” é de alta definição, intuitivo e fácil de mexerLuiz Forelli Santana/iG

Quanto ao ar-condicionado de duas zonas, automático, ele oferece boas posições de saída de ar. No entanto, senti falta de ventilação nos bancos, algo presente em outros modelos da mesma faixa de preço ou até mesmo mais baratos. Diga-se de passagem, essa seria uma adição bastante útil no Brasil. Também não há saídas de ar no baú e porta-luvas. Porém, para refrescar a cabeça, o modelo conta com um teto solar panorâmico, embora apenas metade dele possa ser aberta.

Pelo valor, também poderia ter sido adicionado câmeras 360°, sensores laterias, e ”Park Assist”, para condutores que possuem mais dificuldade de estacionar o veículo. 

O LaneWatch também é integrado ao HR-V de série, ZR-V, Civic e agora no CR-VLuiz Forelli Santana/iG

Por fim, uma crítica importante diz respeito ao auxiliar de ponto cego que não possui no veículo. É difícil compreender a escolha da Honda em trazer esse recurso para o Brasil. Eles mencionam que o auxiliar é o LaneWatch, introduzido no HR-V Touring 2019, que consiste em uma câmera instalada apenas no retrovisor direito do veículo. Ao acionar a seta, a câmera é exibida no multimídia.

Porém, se você estiver navegando pelo mapa, pode perder sua rota, pois a câmera é ativada no multimídia, obstruindo a visão do mapa. Isso pode levar o condutor a se distrair e perder a rota. Para desativar ou ativar a câmera manualmente é necessário clicar em um botão na haste da seta, o que pode ser bastante incômodo.

Além disso, o recurso está disponível apenas no lado direito, enquanto lá fora a Honda oferece o sensor comum de ponto cego. Embora o recurso em si seja interessante, a forma como é implementado acaba sendo menos prática do que em outros modelos, como o Hyundai Creta, onde a câmera aparece no painel de instrumentos, não interferindo na visualização do mapa.

Um veículo com preço superior a R$ 350 mil sem um sensor de ponto cego comum é frustrante, algo que já deveria estar presente, assim como nos modelos vendidos no exterior.

Bancos de couro em cinza claro depende da cor do veículo: Preto Cristal Perolizado e Prata Platinum Metálico, o interior é em couro preto. O Branco Topázio Perolizado, Azul Astral Metálico e Cinza Basalto Metálico, o interior leva couro cinza claro, como na foto acimaLuiz Forelli Santana/iG

RESUMO DA ÓPERA

Apesar do curto período de tempo que tivemos com o CR-V, foi possível tirar conclusões sobre o veículo. O Honda CR-V Advanced Hybrid representa o que a fabricante tem de melhor a oferecer em um carro em termos de conforto no mercado brasileiro. A tecnologia do Honda Sensing, versatilidade, conforto e espaço interno amplo combinam com uma das melhores conduções em SUV deste porte, reforçado, agora, por um motor que se alinha perfeitamente ao pacote geral do carro. 

O motor híbrido, embora possa ser menos econômico na estrada em comparação com seu antecessor, continua sendo altamente eficiente na cidade, graças aos motores elétricos. Não é atoa que cheguei perto dos 20 km/l. A engenharia por trás do CR-V é indiscutivelmente impressionante.

No entanto, é preciso considerar o preço elevado do CR-V, que ultrapassa os R$ 350 mil. Esse valor pode ser difícil de justificar para muitos consumidores, especialmente quando comparado com outros veículos de luxo alemães, como Mercedes-Benz GLA (parte de R$ 348.900), Audi Q3 Sportback (parte de R$ 343.990) ou BMW X1 (parte de R$ 299.950). Embora o CR-V não possa competir diretamente com esses carros em termos de sofisticação, acabamento e tecnologia, ainda é capaz de superar alguns concorrentes chineses em termos de dirigibilidade. Mas alguns recursos simplórios, visto em modelos mais baratos, poderiam já ser incluídos nesta nova geração.

Por fim, o Honda CR-V é uma escolha atraente para aqueles que valorizam a qualidade de engenharia da Honda e desejam um veículo espaçoso e tecnologicamente avançado para pessoas que não querem chamar aquela atenção ”do tapete vermelho”. Seu preço elevado pode limitar seu apelo a um público mais restrito, composto por entusiastas da marca e aqueles dispostos a pagar por seu desempenho, segurança e confiabilidade reconhecidos.

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