Audiência pública na Câmara Municipal discute fechamento do centro socioeducativo da Fundação Casa em Presidente Bernardes


Encontro reuniu autoridades políticas e sindicais, professores, famílias de jovens internados e ex-internos da instituição, na manhã deste sábado (24). Audiência pública na Câmara Municipal discute fechamento do centro socioeducativo da Fundação Casa em Presidente Bernardes (SP)
Reprodução/TV Fronteira
Uma audiência pública para discutir o fechamento do centro socioeducativo da Fundação Casa, em Presidente Bernardes (SP), foi realizada na manhã deste sábado (24), na Câmara de Vereadores da cidade.
O encontro reuniu autoridades políticas e sindicais, professores, famílias de jovens internados e ex-internos da instituição, cuja suspensão das atividades ocorre em 29 de março, conforme determinação do Governo do Estado de São Paulo.
O anúncio do fechamento da unidade na região veio após a constatação de “baixa demanda” pelo centro socioeducativo, que atende cerca de 30 jovens, enquanto possui capacidade total de 64 vagas, segundo a Secretaria de Justiça e Cidadania.
Para um dos ex-internos, que não foi identificado, todo o trabalho que recebeu na Fundação Casa “o ajudou a dar um novo rumo para a vida”, como, por exemplo, a conquista de um trabalho com carteira assinada.
“Eu consegui participar de bastante cursos, consegui ser reintegrado à sociedade, à escola, para concluir o projeto que eles acabaram desenvolvendo para mim junto aos adolescentes do meio, concluí o ensino médio, sendo encaminhado para o mercado de trabalho, terminando os estudos, o que foi o mais importante mesmo”, enfatizou em entrevista à TV Fronteira.
Audiência pública na Câmara Municipal discute fechamento do centro socioeducativo da Fundação Casa em Presidente Bernardes (SP)
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Como alguém que teve a vida transformada depois de passar pela instituição, o jovem lamentou o fechamento da unidade em Presidente Bernardes.
“Com certeza é um desperdício, porque muitos meninos lá conseguem sair com serviço. Presidente Prudente é uma cidade grande, a região é grande, então tem muita oportunidade para todos eles”, afirmou.
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‘Recursos financeiros’
Conforme representantes dos poderes Legislativo e Executivo, a cidade corre o risco de perder recursos financeiros, tendo em vista o número de funcionários que contribuem com a arrecadação de Imposto sobre Serviços (ISS).
Em entrevista, o vice-prefeito de Presidente Bernardes, Cleberson Duarte de Souza (PP), disse que a perda de recursos arrecadados com os funcionários do centro socioeducativo “fará muita falta para o município”.
“A gente perder quase 80 pessoas que fazem uso do nosso comércio, do aluguel das nossas casas, não é de um dia para o outro que a gente encontra um lugar assim, que a consegue uma empresa para colocar no lugar dessa”, pontuou.
Já o presidente da Câmara Municipal, Adriano Vicente de Oliveira (PODE), ressaltou que “a Fundação Casa é um bem do município”, e que está em busca de colaborar “para o não fechamento dela”.
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Sindicatos
Para o Sindicato dos Servidores da Fundação Casa, o fechamento da unidade bernardense pode ter vários reflexos não só econômicos, como também afetar na ressocialização dos jovens internados e, além disso, ocasionar uma possível superlotação de outros centros estaduais.
“Nós acreditamos que o Governo do Estado, ele quer… Na verdade, eles falam que é uma PPP [Concessões e Parcerias Público-Privadas], mas, na verdade, é uma privatização da Fundação Casa. Nós lutamos muito para que houvesse a descentralização do sistema socioeducativo, para que esses adolescentes estivessem próximos de suas residências. Hoje, estamos vendo uma centralização, trazer de novo aqueles grandes complexos, com 80, 100 adolescentes, que você não consegue aplicar as medidas socioeducativas”, observou a secretária geral do Sindicato dos Servidores da Fundação Casa, Aline Salvador Luz.
Dentro das unidades, todo o trabalho educativo é realizado com internos. Neste sentido, os professores que fazem parte dessas ações também estão inseguros diante do anúncio do fechamento.
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À TV Fronteira, o coordenador regional do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), William Hugo Correia dos Santos, ressaltou que o fechamento da unidade é prejudicial até mesmo para os profissionais, que terão de ser transferidos no meio de um ano letivo já iniciado.
“Nós ficamos muito tristes, porque teve uma primeira atribuição, nós pegamos todas as aulas que tinham de ser pegas na fundação, eu estou há sete anos na casa, e, de repente, essa surpresa, essa notícia, e a gente está desempregado, praticamente desempregado”, disse a professora Milene Suriani.
Visitas
Além de alegar que a unidade está operando com baixa demanda, o Governo do Estado ressalta que o Oeste Paulista conta com outra unidade em Irapuru (SP), no entanto, para as mães que precisam visitar os filhos, a distância pode dificultar o contato.
“O local fica tipo num sítio, então, não tem condições. Para mim, fica bem difícil”, atestou Silvia Aparecida, mãe de um interno.
O ex-interno, que não foi identificado, enfatizou que as visitas ajudam no processo de ressocialização.
“A visita é muito essencial na parte da ressocialização. Por conta disso, a família tem que ‘tá’ presente. Se ela não estiver presente, a gente se sente abandonado, acaba ficando muito triste, muita coisa acaba passando pela cabeça, e isso interfere muito no processo”, desabafou.
Fundação Casa, em Presidente Bernardes (SP)
Reprodução/TV Fronteira
Outro lado
A TV Fronteira solicitou um posicionamento oficial da Fundação Casa a respeito da possível privatização dos centros socioeducativos, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve resposta.
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