Retratos da Região: população de Ilha Comprida, SP, pede mais infraestrutura e pode eleger primeira mulher prefeita


Ao todo, são cinco candidatos à prefeitura de Ilha Comprida (SP). Atualmente, a gestão da cidade é de uma prefeita, mas ela não foi eleita para o cargo. Prefeitura de Ilha Comprida, SP
Carlos Abelha/TV Tribuna
Ilha Comprida, no litoral de São Paulo, é uma cidade repleta de belezas naturais, mas os moradores enfrentam muitos desafios com a falta de infraestrutura em áreas distantes do município. O último prefeito eleito na cidade teve o mandato cassado, deixando a administração com a vice, que pode ser a primeira mulher eleita prefeita na eleição deste ano. Ela concorre à prefeitura com outros quatro concorrentes.
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Ilha Comprida é o penúltimo município do litoral de São Paulo antes da divisa com o Paraná. O acesso é feito de três formas: balsa pela parte sul, ponte pela área norte e barco por ambas.
A construção civil é um setor que gera emprego, afinal, a Ilha é uma cidade em desenvolvimento e são muitas as áreas disponíveis para construção. Entre 2010 e 2022, a população aumentou 48%. Rafael Rangel é corretor de imóveis e também constrói casas. Ele mora em Ilha Comprida há 14 anos e vê um perfil de novos moradores do município.
“Das últimas três casas que eu fiz, duas eram para pessoas aposentadas que pretendiam resolver tudo que tinha para vir morar para cá”, disse em entrevista em entrevista ao repórter Rodrigo Nardelli, da TV Tribuna, afiliada da Globo, na série de reportagens Retratos da Região.
Micaela Fernandes Marques não se encaixa no perfil citado pelo corretor, mas os pais dela sim. A família mudou da capital para o litoral paulista há poucos meses. “A gente veio para cá para descanso mesmo, a cidade é muito tranquila, é um lugar menos agitado que São Paulo e meu pai precisa descansar, então a gente veio por isso”, afirmou.
Pedrinhas é uma comunidade caiçara de Ilha Comprida (SP)
Carlos Abelha/TV Tribuna
Comunidade
Apesar do crescimento populacional, Ilha Comprida tem menos de 13,5 mil moradores. Muitos deles estão espalhados ao longo de 74 quilômetros de praias. Na cidade, a área de maior movimento e comércios não é central, mas ao norte, próximo da ponte que dá acesso a Iguape.
Pedrinhas é uma comunidade caiçara que fica bem no meio de Ilha Comprida. Lá, há um centrinho com posto de saúde, muitos pescadores e diversas opções para os turistas.
De acordo com o pescador Marcos Pontes Ramos, há passeios de barco ecológicos e pescaria esportiva. “A gente aluga o barco, vende isca viva, tem de tudo um pouco aqui. Tem o pessoal do artesanato também”.
Apesar disso, o morador diz que o acesso até a comunidade precisa de melhorias. “A gente queria melhorar um pouco mais o acesso nas estradas”, disse, informando que crianças sofrem, pois os ônibus escolares quebram no caminho.
“A gente depende do turismo aqui. Quando chove muito, a estrada fica meio ruim e não tem como vir pela praia, só pela estrada por dentro, então dificulta um pouco o turismo”, afirmou Marcos.
Sul da Ilha
Pedrinhas também marca o fim da estrada. Para a ponta sul da Ilha, o único caminho é pela faixa de areia que é o único permitido para tráfego de veículos. No entanto, os motoristas precisam ter cuidado para não atolar nem serem surpreendidos pela cheia da maré.
O passeio na praia termina no Boqueirão Sul, onde uma avenida leva moradores e turistas para a travessia de balsas entre Ilha Comprida e Cananéia. A cidade vizinha é que costuma atender quem mora nesta área da ilha.
“A Ilha Comprida não oferece nada para nós. Nós dependemos só de Cananéia”, disse o aposentado Edvaldo Mota Matos, que vive na cidade desde 1974. “A única coisa boa que nós temos somos nós mesmos, que moramos aqui. Nós cuidamos disso”, lamentou.
De acordo com ele, a parte sul da ilha não recebe recursos e, por isso, não tem estrutura. Edvaldo, por exemplo, não possui energia em casa.
“Tenho uma casinha lá, estou dependendo da luz e não tenho. Sou uma pessoa que tem problema de saúde e eu não tenho uma geladeira dentro de casa, não tenho uma luz. Tudo que eu tenho que fazer, tenho que fazer na hora para comer”. Ele também diz que a estrada precisa melhorar, pois a população se sente praticamente abandonada na região.
Ilha Comprida (SP) é a penúltima cidade do litoral de São Paulo antes do Paraná
Carlos Abelha/TV Tribuna
Transporte
José Ramos da Cruz é comerciante na parte norte da ilha e vai até o trabalho de bicicleta, pois alega problemas no transporte público. “A condução aqui é mais difícil, demora muito, de duas horas e meia até três horas. O pessoal sofre muito com a condução. Quando eu vim morar aqui, tinha mais ônibus, não demorava tanto, mas agora demora muito”.
A aposentada Susimar Guilhermino mora em Ilha Comprida, mas faz as tarefas do dia a dia em Iguape, como mercado, banco e padaria. Ela diz que opta pela cidade vizinha, pois mora na área central. “Sou transplantada. Se eu vou no Boqueirão é muito longe para mim e eu já quase infartei”.
Os mais jovens conseguem ir andando, mas também se queixam da falta de um transporte. “Acho que precisa de um transporte público integrado junto com Iguape para fazer a economia das duas cidades crescer. Demanda tem muito”, disse Gabriel José Silva, profissional de TI.
Turismo
No comércio na área norte da cidade, José Ramos sente falta de investimento em turismo. “Os turistas aqui são só no fim de ano, mês de abril até agosto não tem. […] Quem comanda a cidade não faz nada para trazer o turista para cá e nós ficamos dependendo de aparecer alguém”, lamentou.
Na área mais urbanizada, um grande empreendimento gera empregos. Porém, somente a construção civil não é suficiente para a vida de uma cidade, principalmente com uma vasta área para ser preservada.
O corretor de imóveis Rafael Rangel crê que o turismo pode ser fundamental na geração de empregos, pois vê o setor funcionando bem em outras regiões do país, como o Nordeste. “Grande parte da população vive do turismo e aqui a gente está investindo pouco, usando pouco a beleza que a gente tem para gerar emprego. Isso que eu sinto falta, a gente podia usar muito mais”, disse.
Eleições
Ilha Comprida pode eleger pela primeira vez uma mulher para o cargo mais alto da prefeitura. Apesar de Maristela Osório ser a atual prefeita, ela havia sido eleita vice e só assumiu a gestão quando o então prefeito eleito em 2020 teve o mandato cassado neste ano.
Maristela (Republicanos) é candidata a prefeita ao lado de Milton Furação (PT), Ric (PL), Rodrigo Giz (Podemos) e Sassá Tupinambá (PSOL).
Enquanto Ric e Sassá estreiam em eleições municipais, Milton concorreu a vereador em 2020, mas não foi eleito. Em contrapartida, Rodrigo foi vereador em 2008, mas não venceu quando saiu candidato a prefeito em 2016.
Na disputa pela Câmara Municipal, há 98 candidatos, sendo dois considerados inaptos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Confira detalhes clicando aqui.
Retratos da Região
Esse conteúdo faz parte da série de reportagens ‘Retratos da Região’. A TV Tribuna, afiliada da Globo, percorreu 4.100 quilômetros para ouvir moradores das nove cidades da Baixada Santista e 20 do Vale do Ribeira.
O apresentador Rodrigo Nardelli e o cinegrafista Carlos Abelha viajaram por um mês para mostrar as características e problemas de cada cidade e, então, descobrir o que os moradores desejam para o futuro, pensando nas Eleições 2024.
A série ‘Retratos da Região’ é exibida no Jornal da Tribuna 1ª Edição, que começa às 11h45. A nova série estreou no dia 2 de setembro.
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