Corregedoria decide pela demissão de PM que matou músico durante discussão por causa de barulho no ES


Guilherme Rocha, de 37 anos, levou um tiro quando reclamou do barulho que era feito pelo policial Lucas Torrezani, ao lado do seu apartamento, em abril de 2023. Torrezani ainda pode recorrer. Corregedoria decide pela demissão de PM que matou músico no ES
O Conselho de Disciplina da Corregedoria da Polícia Militar do Espírito Santo decidiu pela demissão do soldado Lucas Torrezani de Oliveira, que está preso por atirar e matar o músico Guilherme Rocha, em abril de 2023, num condomínio em Vitória. O soldado ainda pode recorrer da decisão.
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O crime aconteceu na madrugada do dia 17 de abril de 2023 e a ação foi filmada, mostrando inclusive o momento em que o policial militar atirou no vizinho. Lucas atirou em Guilherme após a vítima reclamar do som alto em frente ao seu apartamento, dentro do condomínio em que os dois moravam no bairro Jardim Camburi.
Guilherme Rocha foi morto pelo vizinho PM com um tiro em Vitória.
Reprodução/Redes sociais
A Polícia Militar informou que a solução do conselho foi pela demissão do policial militar. No entanto, para a efetivação, ainda deve haver a homologação por parte do Comando Geral.
O policial ainda pode apresentar recurso administrativo contra a decisão. Enquanto isso, permanece preso no presídio militar localizado no Quartel Geral, até que ocorra o trânsito em julgado administrativo.
O soldado Lucas Torezani de Oliveira terá 15 dias para apresentar recurso administrativo contra a solução relativa ao conselho de disciplina. A homologação por parte do Comando Geral só poderá ocorrer após a devida análise dos recursos administrativos, quando se der o trânsito em julgado administrativo.
Os advogados foram procurados pelo g1 nesta segunda-feira (23), mas não se pronunciaram se vão recorrer da decisão.
O crime
Na madrugada do crime, após a vítima pedir por três vezes para que Lucas Torrezani, Jordan Ribeiro de Oliveira e um terceiro amigo que estava no local diminuíssem o barulho, uma discussão aconteceu.
Durante a briga, Jordan deu um empurrão em Guilherme que o fez perder o equilíbrio, sem chance de se defender.
Na sequência, o disparo foi feito por Lucas, e não esboçou nenhuma reação, continuou segurando a arma, deu um gole na bebida e apenas assistiu à agonia de Guilherme no chão.
Janela da cozinha onde Guilherme Rocha morava era ao lado do local onde Lucas Torrezani estava com os amigos na madrugada do crime. Espírito Santo
TV Gazeta
Um ano após a morte do marido, a esposa Janaína Morais contou ao g1 que estava na janela da cozinha e ouviu toda a discussão.
“Eu gritava e implorava pra ele não fazer nada, quando vi que o Lucas estava armado. O Guilherme tava de bermuda, sem camisa, colocou as mãos para trás”, lembrou.
PM impediu esposa de se aproximar da vítima
O inquérito apresentado pela Polícia Civil aponta que, após o tiro, Lucas impediu que a esposa da vítima saísse para prestar socorro. Um vídeo mostra o momento.
“Quando eu saí de casa e vi o Guilherme eu queria socorrer ele, encostar virar o rosto dele, pra ajudar que ele respirasse… Eu lembro que eu gritei muito, empurrei a porta, mas o Lucas deu um chute e fechou a porta. A minha filha também veio e foi ela quem me puxou pra dentro de casa. No meu desespero, foi ela quem conseguiu me levar para dentro de casa. Quem diria que uma menina de 12 anos ia ter esse discernimento. O meu medo era o quê? Dele entrar e matar nós duas. Ele já tinha feito né”, falou Janaína.
A síndica do condomínio Mônica Bicalho também chegou à cena do crime logo após ouvir o disparo de casa. Ela e os outros moradores também não conseguiram se aproximar de Guilherme.
Soldado da PM, Lucas Torrezani, de 28 anos, matou vizinho com tiro em condomínio de Vitória
Reprodução/TV Gazeta
Antes de ser preso, ainda no dia do crime, o soldado da PM criou um grupo em uma rede social para combinar versões do crime com amigos. E zombou da morte de Guilherme, escrevendo “Não queria silêncio? Eu dei a ele o silêncio eterno”.
Uma semana após o crime, a síndica instalou mais uma câmera externa na entrada de cada um dos blocos do condomínio.
“Eu dou graças a Deus que tinha pelo menos uma câmera interna ali, se não ia ser como? Como essa história ia ficar? A gente não ia saber o que aconteceu, ia valer o que fosse contado”, disse Mônica.
O soldado foi notificado pelo condomínio algumas vezes. Contra ele havia seis reclamações por barulho feitas nos primeiros meses de 2023, sendo cinco reclamações feitas por Guilherme.
O soldado Lucas Torrezani está preso no Quartel de Maruípe, em Vitória. Espírito Santo
A Gazeta
Desde o dia do crime, Lucas Torrezani está preso no Quartel da Polícia Militar, em Maruípe, Vitória. Ele responde a dois processos, um na primeira vara criminal de Vitória, pelo assassinato de Guilherme Rocha, e também um processo administrativo disciplinar na Polícia Militar.
O soldado seguia recebendo salário integral enquanto aguarda decisão sobre o seu processo demissionário, que, de acordo com o Portal da Transparência, era de R$ 6.481,29.
Ainda de acordo com o portal, constam cinco licenças médicas consecutivas desde o dia 26 de maio de 2023 até agora, período em que Lucas já estava preso. O soldado entrou para a Polícia Militar em 2020.
A família questionava a morosidade do processo militar.
Glicio da Cruz do Soares, pai de Guilherme Rocha, fala sobre a morte do filho.
TV Gazeta
“Para quê mais testemunhas? Ele é réu confesso. Foi preso em flagrante. A melhor testemunha é a imagem. […] Eu não estou preocupado se o assassino vai ficar preso ou não, eu tô preocupado que o caso se encerre, que tenha um ponto final”, desabafou o pai Glício Soares.
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Jordan Ribeiro de Oliveira, amigo do PM, também responde por homicídio, mas em liberdade. De acordo com a Polícia Civil, o terceiro rapaz que era participante do grupo não participou da briga e, com isso, vai responder apenas como testemunha do crime.
Mãe e filha vivem o luto e o trauma
Guilherme Rocha e Janaina Moraes ficaram juntos por quatro anos. Espírito Santo
Arquivo pessoal
Atualmente, Janaina mora com a mãe, a filha agora com 13 anos e a cachorrinha Nala, que era do marido. Ela e a filha fazem tratamento psiquiátrico e uso de remédios.
“A minha filha está traumatizada. Semana passada, por exemplo, teve um evento na escola com uma palestra da Polícia Civil – não era nem PM – e ela teve uma crise, precisou ser retirada de sala, começou a chorar muito, lembrou do ocorrido. Além de não poder ver a polícia, ela não fica sozinha mais, quando eu saio ela pergunta se eu vou voltar”.
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A volta para a casa da mãe foi um consenso entre a família e foi logo depois do ocorrido. “A intenção era eu ficar até tudo se acalmar, mas hoje eu não tenho pra onde ir”.
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Depois que Janaína saiu do apartamento em Jardim Camburi, a administradora só voltou para a reconstituição do crime. Quem voltou e tirou os objetos pessoais foi a família e quem resolveu o aluguel foi o corretor.
Quem era Guilherme Rocha
Guilherme Rocha foi morto após levar um tiro no dia 17 de abril de 2023, em Vitória. Espírito Santo
Arquivo pessoal
Guilherme Rocha, de 37 anos, era músico, bacharel em direito, capoeirista e empresário. Nas redes sociais, Guilherme divulgava o seu trabalho como percussionista em bandas e blocos de Vitória.
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