A Antártida já foi habitada por humanos na pré-história?

A Antártida já foi habitada por humanos na pré-história?Augusto Dala Costa

Será que seres humanos pré-históricos já chegaram a viver na Antártida? Apesar de sermos criaturas altamente adaptáveis, só conseguimos habitar a região em tempos modernos, com tecnologia e recursos, já que o continente é extremamente frio e hostil ao nosso organismo. Há milhões de anos, a região chegou a ser habitável, mas o Homo sapiens é recente demais na história evolutiva para ter conseguido aproveitar o período.

Mesmo assim, a teimosia da nossa espécie é notável — ambientes pouco convidativos não costumam nos assustar. Evidências de que conhecemos a Antártida há milhares de anos existem, mas são questionadas e não significam que já a tenhamos habitado ou sequer pisado nela. Como foi nosso relacionamento com o continente na pré-história, então?

A Antártida, massa de terra mais ao sul do mundo, tem se mantido numa posição estável por muito mais tempo do que qualquer outro continente. Seu gelo, no entanto, não é tão permanente quanto parece — durante o período Cretáceo, há mais de 145 milhões de anos, o mundo era mais quente, permitindo que a enorme ilha abrigasse florestas úmidas ao longo da costa.

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A chegada até o continente seria mais difícil durante épocas mais quentes, já que o alto nível do mar gerado pelo derretimento parcial do continente e da Groenlândia teriam gerado um oceano ainda maior e mais proibitivo às viagens. Desde o fim da última Era do Gelo, no entanto, a espécie humana começou seu conturbado relacionamento com a Antártida, bem antes da chegada dos europeus.

Os polinésios e a Antártida

A navegação polinésia e seus feitos incríveis na exploração dos mares levaram o povo a locais como a Nova Zelândia, o Havaí e Rapa Nui (Ilha de Páscoa), o que nos faz perguntar se uma viagem ao continente sul não seria possível. Pesquisadores como Priscilla Wehi, da Universidade de Otago, estudam a conexão dos maori da Nova Zelândia à Antártida: há evidências de que eles sabiam de sua existência.

Essa população tem, nas baleias, um papel cultural central, incluindo espécies que se alimentam na costa antártica e migram para o norte para se reproduzir. Há histórias de um marinheiro chamado Hui Te Rangiora, que levou uma embarcação até os confins do Mar do Sul, provavelmente seguindo a migração das baleias.

A viagem, datada de 1.400 anos atrás, pode ter chegado próxima da Antártida, embora não saibamos o quanto. Os marinheiros trouxeram de volta o nome Te tai-uka-a-pia, maori para “oceano congelado”, que pode indicar que algum participante viu icebergs ou gelo flutuante, talvez até mesmo o próprio continente.

Sul-americanos e a Antártida

A Península Antártica é muito mais próxima da Terra do Fogo, na América do Sul, do que a Nova Zelândia é do leste antártico. O povo yámana, que vive na costa mais ao sul e ilhas próximas do Cabo Horn, não embarcava em viagens extraordinárias como os polinésios, e, até recentemente, acreditava-se que não haviam saído para longe da própria costa.

Descobriu-se, no entanto, que nativos americanos visitaram as Ilhas Malvinas e até mesmo ficaram por algum tempo durante o século XIV. Algumas evidências mais duvidosas sugerem visitas milhares de anos antes disso.

Embora tais teorias não sejam aceitas com unanimidade na comunidade científica, caso estejam certas, seria bem mais plausível acreditar que a população teria chegado ao continente antártico antes dos europeus. A Passagem de Drake, entre as Ilhas Shetland do Sul e a América do Sul, tem cerca de 800 km, menos do que o dobro da distância entre as Malvinas e a América continental.

Embora a passagem seja bastante difícil, não é impossível que o arquipélago tenha sido alcançado no mesmo período em que as Malvinas foram visitadas. De lá, a Antártida é relativamente fácil de se alcançar. De qualquer forma, se os yámana não conseguiram se estabelecer nas Malvinas com a tecnologia da época, o continente antártico seria muito mais difícil, ou mesmo suas ilhas.

Povos antigos podem ter descoberto a Antártida e até mesmo pisado nela, mas as provas disso continuam escorregadias, e eles com certeza não ficaram por lá. Atualmente, a arqueologia segue focando no legado dos europeus, que chegaram nos séculos XIX e XX, e tinham propósitos menos pacíficos para com as baleias. Por enquanto, provas da chegada indígena na pré-história continuam difíceis de se achar.

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