Boulos: criminalizar linguagem neutra é “chicana da extrema direita”

São Paulo – Candidato à Prefeitura da capital paulista, o deputado federal Guilherme Boulos (PSol) afirma, em sabatina promovida pelo Metrópoles, que embora não utilize o gênero neutro em seu vocabulário, acha “chicana da extrema direita” a criminalização da linguagem neutra e reitera não ter sido adequado alterar o Hino Nacional durante comício da sua campanha.

Em agosto, durante o primeiro comício de Boulos ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na campanha, na zona sul da capital, uma cantora utilizou a linguagem neutra na letra do Hino Nacional e ao invés de cantar “dos filhos deste solo és mãe gentil”, alterou para “des files deste solo”. Após a repercussão do episódio, o psolista declarou que a ação foi um “absurdo” e feita sem o consentimento de sua campanha.

“Você já me viu usando linguagem neutra?”, responde Boulos ao ser questionado na sabatina do Metrópoles se sua reação após esse episódio havia sido genuína ou planejada para evitar perder votos entre eleitores mais conservadores.

“Veja bem, eu respeito as pessoas que usam, não estou entre aqueles que acham que tem que criminalizar uma pessoa que opte por usar linguagem neutra. Isso é a chicana da extrema direita, não entro nessa”, afirma Boulos.

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Marta, Boulos, Lula, Erundina e Haddad durante convenção PT/PSol
Guilherme Boulos e Natalia Szermeta, sua esposa
Lula e Boulos na convenção do PSol e do PT que oficializou chapa em SP
Boulos, Marta e o deputado estadual Antônio Donato (PT) comem bolo durante agenda de campanha em SP
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Lula, Marta e Boulos em comício no Campo Limpo, na zona sul de SP

Leandro Paiva/Divulgação Boulos

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Marta, Boulos, Lula, Erundina e Haddad durante convenção PT/PSol

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Guilherme Boulos e Natalia Szermeta, sua esposa

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Lula e Boulos na convenção do PSol e do PT que oficializou chapa em SP

Ricardo Stuckert

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Boulos, Marta e o deputado estadual Antônio Donato (PT) comem bolo durante agenda de campanha em SP

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O candidato Guilherme Boulos (PSol) durante comício

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Boulos e Marçal partiram para ataques em debate

Reprodução

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Fernando Haddad e Guilherme Boulos utilizando “pulseirinhas da amizade”

Leandro Paiva/@leandropaivac

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Boulos e Marta em ato na Praça da Sé, no centro de SP

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Boulos mostra camisa do Corinthians emoldurada em sua casa

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Boulos também alega ter rompido com a produtora Zion, que havia sido contratada para o evento, e para a qual a campanha já pagou R$ 720 mil.

“Eu não uso e não acho adequado usar no Hino Nacional. Isso não foi uma decisão da nossa campanha, foi uma produtora que chamou uma cantora que tomou essa decisão e essa produtora não está mais trabalhando conosco”, acrescenta.

Boulos foi o quarto a participar da série de sabatinas do Metrópoles com os cinco candidatos à Prefeitura de São Paulo mais bem colocados nas pesquisas eleitorais. Além de Boulos, Ricardo Nunes (MDB), José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) já participaram. A entrevista com Pablo Marçal (PRTB) está marcada para a próxima semana. As sabatinas vão ao ar entre os dias 10 e 25 deste mês. O primeiro turno ocorre no dia 6 de outubro.

Confira abaixo os principais assuntos da sabatina e a íntegra da entrevista no canal do Metrópoles no YouTube:

Rejeição e crescimento na periferia

Apesar de contar com 38% de rejeição no último Datafolha, sendo o segundo candidato mais rejeitado pelos eleitores paulistanos, atrás apenas de Pablo Marçal (PRTB), Boulos minimiza os dados e afirma que eleições polarizadas são, naturalmente, “eleições de rejeições altas”.

Além disso, o psolista acrescenta que ainda deve crescer entre o eleitorado da periferia, no qual o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem liderado em intenções de votos, por entender que “parte da população começou a pensar em tomar a sua decisão agora” e que e o contato direto com a militância, e não apenas a exposição na mídia, deve alterar o cenário até o dia da votação.

“Se você for ver, as candidaturas de esquerda, do campo progressista, historicamente, têm um crescimento em reta final. São candidaturas de chegada”, afirma.

MTST e a alcunha de radical

Boulos declara ter “orgulho” de sua trajetória no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), do qual foi líder até entrar na política, e admite que, quando se trata de “representar a voz de pessoas que nunca foram ouvidas” é possível que as situações “saiam do controle”.

A frase foi dita para justificar ações do MTST que resultaram em depredação ao prédio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista, em 2016, e na invasão a prédios do Ministério da Fazenda, em 2015, em protesto contra cortes nos recursos destinados a programas sociais.

Boulos também afirma que, durante o tempo em que esteve à frente do MTST, o movimento entregou mais de 15 mil moradias sem a “caneta na mão” e nega que, mesmo com a entidade sendo a mais contemplada com verbas do governo federal para ações de moradia popular, isso possa ser considerado uso da máquina pública.

“São coisas totalmente diferentes você ter recurso público de moradia para construir moradia e você usar a máquina pública para fazer política eleitoral”, afirma.

Aliado investigado por suposto elo com o PCC

Questionado sobre não mencionar a Transunião, empresa ligada ao vereador do PT Senival Moura, seu aliado, quando promove ataques à gestão Ricardo Nunes (MDB) pela infiltração do PCC nos contratos com empresas de ônibus, Boulos declara que o petista não foi indiciado, mas que punirá irregularidades caso sejam comprovadas.

“No caso da empresa que tem essa ligação com o Senival, não houve indiciamento, não houve operação do Gaeco, não houve operação da Polícia Civil. No caso da UpBus e da Transwolff, os donos foram presos com armamento pesado encontrado, com ligação com o crime organizado comprovado”, afirma.

Boulos também nega que uma visita feita nesta semana à produtora Lovefunk, investigada por supostamente lavar dinheiro para o PCC, seja comparável a situações como a de seu adversário Pablo Marçal (PRTB), cujo presidente do partido, Leonardo Avalanche, teve áudios revelados dizendo manter vínculos com integrantes do PCC.

Saúde

A campanha de Boulos promete entregar 16 “Poupatempos da Saúde” em áreas descentralizadas da cidade com maior demanda e diz que os equipamentos públicos funcionarão como policlínicas para exames e consultas com a finalidade de reduzir as filas de atendimento.

Boulos promete entregar alguns deles ainda em 2025, caso seja eleito, com adaptações de imóveis já existentes. Para suprir a demanda por especialistas de forma rápida, ele planeja utilizar editais de credenciamento, inspirados no programa Mais Médicos. Ele também diz que pretende promover novos concursos públicos e manter contratos com as Organizações Sociais de Saúde (OSS), mas com fiscalização mais rígida.

Ele afirma que o custo estimado para colocar o “Poupatempo da Saúde” em prática é de R$ 4,4 bilhões, entre custeio, investimentos e contratações, divididos nos quatro anos de gestão. Ele também afirma discutir com o governo Lula a possibilidade de uma parceria com o governo federal para financiar o projeto.

Transporte público

Uma das promessas de campanha de Boulos é a de tornar 50% da frota de ônibus da cidade elétrica ou híbrida. O modelo híbrido é o mais defendido pelo candidato por combinar baterias elétricas ao motor a etanol, permitindo a auto recarga e reduzindo a dependência de estações de recarga, que necessitam da construção de estruturas especiais.

Para viabilizar a eletrificação da frota, que atualmente tem cerca de 13 mil ônibus em circulação, Boulos diz já ter conversas para buscar financiamento junto ao BNDES e ao Banco do Brasil. O psolista alega que, apesar do alto custo inicial para adquirir os veículos, a longo prazo a manutenção se mostrará mais barata e permitirá, inclusive, a manutenção da tarifa congelada e a ampliação, de forma gradativa, das passagens gratuitas.

Boulos também declara que, se eleito, vai “passar um pente fino” nos contratos de ônibus e alterar os contratos que preveem a remuneração das empresas por passageiros transportados, e não por viagens realizadas, o que, segundo ele, incentiva a superlotação dos coletivos.

Cracolândia

Para enfrentar a Cracolândia, na região central da cidade, o psolista defende a criação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) móveis, que levem o tratamento aos dependentes químicos combinando o tratamento da saúde mental com a intervenção social: “O dependente químico de crack não vai até o CAPS marcar uma consulta, marcar um horário, pegar uma senha. Isso não existe. Você tem que ir até ele”, diz.

Boulos defende que o tratamento seja feito caso a caso, e não “no atacado”, e diz querer encontrar soluções de moradia e emprego para os dependentes em tratamento, citando, como exemplo, o programa “Braços Abertos”, feito na gestão Fernando Haddad (2013-2016). Sua diferença seria a de colocar os dependentes vivendo em locações mais distantes das cenas de uso, para evitar a reincidência.

O candidato do PSol afirma que, caso seja eleito, criará um gabinete integrado para lidar com a Cracolândia, envolvendo diversas secretarias municipais, e que todas responderão diretamente a ele.

Segurança Pública

Boulos declara que o governo estadual precisa “fazer a lição de casa” em relação ao crime organizado, colocando a Polícia Civil “para investigar o crime organizado para valer” e defende mais parcerias com o governo federal para investigar o tráfico na Cracolândia.

Além disso, ele se compromete a fortalecer a Guarda Civil Metropolitana (GCM), dobrando o seu efetivo, e disse que a manterá armada. “A GCM em São Paulo é armada, isso não é de hoje, e seguirá armada no meu governo”, diz.

Infraestrutura

O psolista propõe a redução de distâncias em São Paulo a partir de um conceito conhecido como “Cidades de 15 minutos”, no qual se defende que a população possa acessar, a pé ou de bicicleta, qualquer equipamento público de uma cidade em até 15 minutos, e que é adotado em cidades como Paris e Xangai.

Boulos afirma que isso não necessariamente significa que o deslocamento para qualquer equipamento público terá uma duração literal de 15 minutos. A lógica por trás do conceito, e que o candidato pretende implantar na capital, é incentivar geração de empregos nas regiões mais periféricas, criação de parques, centros de cultura e equipamentos de saúde, reduzindo o tempo de deslocamento da população.

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