Crítica Zorro | Um herói cativante dentro de uma trama fraca

Crítica Zorro | Um herói cativante dentro de uma trama fracaDiandra Guedes

Vestido com capa, máscara e chapéu pretos, Zorro se tornou um dos heróis mais cativantes dos últimos tempos, protagonizando várias séries e filmes e ganhando fama quando foi interpretado por galãs como Antonio Banderas. Agora chegou a vez do Prime Video lançar a sua versão do mascarado que, apesar do charme latino, foi criado por um autor estadunidense em 1919.

Ganhando vida com Miguel Bernardeau (o Guzmán de Elite), o personagem estrela uma série homônima de 10 capítulos ambientada em uma Califórnia colonizada e dividida. De um lado, os indígenas querem proteger suas terras e de outro os rancheiros querem desmatar e criar gado. E essa é só uma das diversas disputas ideológicas que permeiam a narrativa que, embora tenha uma boa premissa, deixou muito a desejar.

Escrita por Carlos Portela — o mesmo que assina a maravilhosa As Telefonistas — a trama de Zorro até parece promissora nas primeiras cenas, mas fica andando em círculos e custa a sair do lugar, fazendo com que os capítulos de 50 minutos pareçam ainda maiores.

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Bernardeau dá o seu melhor e isso é nítido, mas o seu Zorro pouco convence, e a culpa não é dele, mas do texto que não cria elementos suficientes para que o público acredite nas suas boas intenções e nem se apegue ao personagem.

Isso porque logo depois que o último Zorro foi morto, o espírito do justiceiro decidiu encarnar em seu corpo sem muita explicação. Diego de La Vega até reluta, mas rapidamente aceita sua missão e se torna o homem mais destemido de toda a Califórnia. Embora a ideia de trabalhar o legado de Zorro tenha sido boa, a forma como La Vega recebeu a missão foi trabalhada de forma pobre e deixou uma lacuna no enredo.

Outro ponto que incomoda é que os recursos narrativos também foram mal utilizados. Há um triângulo amoroso entre La Vega, Lolita (Renata Notni), sua amiga e paixão de infância, e o policial Monasterio (Emiliano Zurita) que nunca vai para frente em termos de romance. Não há beijo, e o único duelo entre os dois homens não é para disputar o coração da amada.

Assim, mesmo querendo entregar um texto novelesco, Portela não consegue construir bem seu pensamento. Uma pena, pois em As Telefonistas seu enredo é impecável.

Há ainda outras pontas soltas, como a história por trás de Mei (Chacha Huang) — a chinesa que se torna governanta de Zorro — e a própria trama da sociedade secreta que poderia ter sido melhor trabalhada.

Mais moderna e mais feminista

Já o grande acerto fica por conta da obra ter escolhido modernizar um pouco a história de Zorro e trazer mais feminismo para a trama. Além de Diego de La Vega, há outra pessoa disputando a máscara preta. É Nah-Lin (Dalia Xiuhcoatl), uma mulher indígena, irmã do antigo Zorro que foi assassinado.

Ela pleiteia o papel do herói por ser uma pessoa nascida e criada naquelas terras e a única capaz de entender e defender os interesses dos povos indígenas, ao contrário de La Vega que é um homem branco, criado na Espanha.

Sua participação é um contraponto interessante na história e torna a vida do protagonista mais difícil. A solução adotada para o impasse — omitida aqui para não dar spoiler ao leitor — também agrada.

E ainda falando em acertos, Paco Tous (o Moscou de La Casa de Papel) dá vida a Bernardo, uma espécie de padrinho de La Vega, e apesar de não dizer uma palavra em cena, já que seu personagem é mudo, é uma das melhores participações da série.

Muito diálogo e pouco duelo

Ainda que a série tente focar mais na carga dramática por meio dos diálogos, faz falta que uma série que carrega o nome do herói que pula, bate e deixa seu Z marcado no corpo dos seus inimigos com uma espada tenha mais cenas de ação, ou pelo menos mais duelos. Infelizmente eles são poucos, e diluídos entre os capítulos quase passam despercebido.

Sendo assim, Zorro do Prime Video se firma como uma adaptação mais moderna da história do herói que, embora traga boas críticas sociais, tem um enredo mal desenvolvido que a torna cansativa. O final deixa gancho para uma segunda temporada, chance para o roteirista Portela e o diretor Javier Quintas (La Casa de Papel) esmiuçarem melhor a história.

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