
Denis Cipriano de Carvalho Silva é acusado de tentar matar Gabriele Caroline Gonçalves, em Cajuru, na região de Ribeirão Preto. Defesa dele contesta acusações da polícia e do Ministério Público. Denis e Gabriele estavam juntos há seis meses em Cajuru, SP, quando crime aconteceu
Arquivo pessoal
A Justiça tornou réu nesta sexta-feira (28) o autônomo Denis Cipriano de Carvalho Silva por tentativa de matar a companheira dele, Gabriele Caroline Gonçalves, em Cajuru (SP), a 62 quilômetros de Ribeirão Preto (SP).
Segundo a denúncia, em janeiro deste ano, Denis agrediu a comerciante após uma festa, a empurrou para fora do carro em movimento e ainda a arrastou por alguns metros.
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Ele foi preso há duas semanas após descumprir a medida protetiva expedida a favor de Gabriele logo após o crime.
O advogado Mauricio Lins Ferraz, que representa Denis, contesta todas as acusações, inclusive a de que ele descumpriu a medida protetiva, e defende que Gabriele se jogou do carro por vontade própria. Segundo a defesa, a verdade ficará demonstrada no processo.
Abaixo, o g1 lista as acusações da Polícia Civil e do Ministério Público contra Denis.
O que aconteceu na data do crime?
Gabriele e Denis estavam juntos há cerca de seis meses, sendo que há quatro tinham passado a morar juntos. No dia 12 de janeiro, eles participaram de uma festa em Cajuru e tiveram um desentendimento.
Imagens de uma câmera de segurança (assista ao vídeo abaixo) obtidas pela Polícia Civil registraram o momento em que Gabriele caiu de um carro em movimento na Rua Capitão José Ferreira Diniz, no Centro da cidade.
Mulher é jogada de carro em movimento em Cajuru, SP
Em seguida, pelas imagens, Denis se aproximou e tentou levantá-la da rua, mas a jovem parecia estar inconsciente. Várias pessoas se juntaram no local, e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) levou Gabriele à Santa Casa.
Por causa da gravidade dos ferimentos, ela foi transferida para a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE) em Ribeirão Preto, onde ficou internada por 22 dias.
Na época, um inquérito foi instaurado para apurar a suspeita de lesão corporal.
Qual é a versão de Denis?
Ao prestar depoimento em janeiro, Denis alegou que estava com Gabriele na “Festa de São Sebastião” e que ela mudou o comportamento após conversar com uma pessoa. À Polícia Civil, ele disse que a companheira tinha bebido, sendo que tem baixa tolerância ao álcool e é uma pessoa explosiva.
Para evitar conflitos, ele a repreendeu, mas Gabriele decidiu ir embora sozinha. Ela deixou de atender as ligações dele. Enquanto procurava a mulher, Denis contou que encontrou o pai dela e pediu a ele que mandasse uma mensagem para descobrir onde Gabriele estava.
Imagens mostram queda de mulher de carro em movimento em Cajuru
Reprodução/Câmera de segurança
Ela respondeu, e o pai passou o endereço a Denis, que foi até o local. Ao encontrá-la, pediu que Gabriele entrasse no carro. Segundo o autônomo, a mulher concordou em entrar no veículo, mas durante o caminho, abriu a porta e se jogou na rua.
Denis relatou que várias pessoas chegaram ao local e que foi atrás do Samu sozinho em seu carro, tendo retornado junto com o socorro.
No hospital para onde Gabriele foi levada, Denis relatou ter sido agredido com um soco pelo irmão de Gabriele. Ele alegou ter ficado extremamente preocupado com o estado de saúde da companheira.
Quais são as alegações de Gabriele?
A comerciante sofreu ferimentos graves na cabeça, precisou passar por cirurgia e ficou internada por 22 dias.
Ao ter alta, prestou depoimento à Polícia Civil e contou que se desentendeu com Denis depois que ele começou a ofender uma cliente da loja dela. Ela decidiu ir embora a pé, mas ele a alcançou e a colocou dentro do carro à força.
No caminho, passou a agredi-la com socos e a bater a cabeça dela contra o painel do carro usando a mão direita. Para acabar com as agressões, Gabriele ameaçou se jogar do carro em movimento. Foi quando, segundo ela, o companheiro disse ‘então vai’ e a empurrou para fora.
Gabriele Caroline Gonçalves teve graves ferimentos na cabeça após cair de carro em movimento em Cajuru, SP
Arquivo Pessoal
Gabriele afirmou que chegou a ser arrastada por alguns metros porque o pé dela ficou preso no banco do veículo. Ela também relatou à polícia que já tinha sido agredida em data anterior por Denis, mas que não prestou queixa. Segundo ela, o comportamento ciumento dele a afastou dos amigos.
Quais são as provas contra o acusado?
Além do depoimento de Gabriele, testemunhas relataram à polícia o que viram na noite do crime.
De acordo com a investigação, uma professora que seguia atrás do carro presenciou o momento em que Gabriele caiu no asfalto. Ela prestou os primeiros socorros à vítima e contou que Denis dirigia em alta velocidade, estava alterado, tinha odor etílico e queria remover Gabriele do local antes da chegada da ambulância.
Segundo a testemunha, Denis chegou a ficar agressivo no momento em que outra mulher se aproximou e disse que ia chamar a polícia.
Outras testemunhas apresentaram suas versões sobre o momento que antecedeu a queda de Gabriele do carro. Elas disseram que ouviram os gritos de socorro de uma mulher vindos de dentro do veículo.
Uma delas disse ter visto Gabriele abrindo a porta do carro por duas vezes na tentativa de escapar, mas que ela foi contida pelo motorista que a puxou de volta pelos cabelos.
Inclusive o chapéu que Gabriele usava na festa foi achado no trajeto. A jovem havia dito que perdeu o acessório no momento em que foi colocada à força por Denis no veículo.
Moradores acompanham socorro a Gabriele Caroline Gonçalves em Cajuru, SP
Reprodução/Câmeras de segurança
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) com base no prontuário médico atestou que Gabriele sofreu traumatismo craniano e uma lesão cerebral que resultou no acúmulo de sangue. Ela precisou ser operada para drenar o líquido.
“Concluo que o periciando apresenta lesões corporais de natureza grave pela incapacidade para as atividades habituais por mais de 30 dias e pelo perigo de vida”, aponta o documento.
Descumprimento de medida protetiva
Gabriele obteve na Justiça uma medida protetiva contra Denis. No entanto, ao voltar ao trabalho no começo de março, ela percebeu que ele começou a passar na porta da loja dela repetidas vezes ao longo do dia, o que se mostrou uma ameaça.
Ela comunicou o fato à polícia e uma funcionária da loja confirmou a alegação.
Com base no descumprimento da medida protetiva, a Justiça expediu um mandado de prisão preventiva contra Denis, que foi cumprido no dia 16 de março. Ele passou por audiência de custódia e permanece preso.
Por qual crime Denis responde?
Em março, a Polícia Civil indiciou Denis por tentativa de feminicídio por meio cruel.
“A análise dos elementos probatórios colhidos no inquérito policial evidencia que Denis Cipriano de Carvalho Silva agiu de maneira deliberadamente violenta contra Gabriele Caroline Gonçalves, submetendo-a a uma sequência de agressões que culminaram em sua expulsão de um veículo em movimento, resultando em lesões de extrema gravidade, apenas não vindo a óbito, pois foi socorrida a tempo”, argumentou o delegado Gabriel Freiria Neves.
O promotor Ilo Wilson Marinho Gonçalves Júnior seguiu a conclusão da Polícia Civil e encaminhou a denúncia do Ministério Público à Justiça.
“Entendemos que há crueldade no crime porque houve intenso sofrimento por parte da vítima. Ele a agrediu inúmeras vezes fora do carro, dentro do carro e culminou empurrando, foi um sofrimento completamente desnecessário, enfim, houve excesso de agressividade por parte dele e por consequência lesões graves. Em razão disso, esse intenso sofrimento por ela, esses momentos de terror que ela sofreu configuram sem sombra de dúvidas como uma tentativa de feminicídio por meio cruel”, disse.
O advogado Mauricio Lins Ferraz, que defende Denis, diz que o processo tem provas substanciais que livram o cliente das acusações.
“Gabriele atirou-se voluntariamente do carro em movimento, em momento de desequilíbrio emocional e quando estava embriagada, atitude essa que já prometera que iria tomar. Há, nos autos, provas substanciais que apoiam as negativas de Denis Cipriano e que revelam que as afirmações de Gabriele são falsas. A acusação baseou-se exclusivamente nas palavras de Gabriele, ignorando todas as informações constantes do processo”, disse Ferraz, em nota.
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