Pela boca morre o peixe (Por Bárbara Wong)

Os barões de Silicon Valley apoiam Trump, escreve o Expresso. São os multimilionários, que se mantêm na lista da Forbes — onde esta semana, em tempo real, o nome de Amancio Ortega, o fundador da espanhola Inditex, voltou a constar entre os dez mais ricos, e que promovem a liberdade de pensarmos e de dizermos o que quisermos, mesmo que sejam insultos e mentiras; que se escudam na liberdade e se recusam a ter responsabilidades ou obrigações.

Os governos acordaram tarde para os perigos e para a necessidade de haver regulamentação. Por um lado, tementes ao argumento da liberdade de expressão, de poderem ser acusados de quererem impor a censura; por outro lado, aproveitando toda esta onda de desinformação para criarem as suas próprias narrativas — é ver a forma como tantos políticos se apresentam, baseando o seu discurso em mentiras mais ou menos descaradas, recontando os factos à sua maneira, descredibilizando ainda mais uma classe, desrespeitando toda a sociedade.

Falta sermos, todos, responsabilizados por aquilo que dizemos e foi isso que vimos acontecer no Reino Unido, depois dos tumultos, motins e manifestações da extrema-direita, há semanas, com homens e mulheres a serem condenados a penas efetivas por coisas que disseram nas redes sociais. Nesta semana, no Brasil, uma socialite foi condenada a oito anos de prisão pelo que disse nas mesmas redes sociais sobre uma criança que, na altura, tinha quatro anos. Que boa notícia esta a de não haver contemplações para mensagens de ódio, para mensagens racistas, para mentiras.

“Pela boca morre o peixe”, diz o povo. Sempre impulsiva, em pequena, o meu pai repreendia-me e dizia que eu deveria andar com um botão na boca. Assim, sempre que pensasse dizer alguma coisa, tirava o botão sete vezes. Nunca o fiz. Mas em circunstâncias mais formais, penso muito antes de agir, de escrever, de falar. E, quando olho para as redes sociais, para as declarações de políticos, comentadores ou figuras públicas, penso no conselho do meu pai. Um botão. Sete vezes. Se o fizessem, quão diferente seria tudo o que lemos, ouvimos e fazemos.

Se todos agíssemos com ponderação, Natalia Stichova poderia não ter caído de uma altura de 80 metros e perdido a vida para fazer uma selfie. A princesa Diana talvez ainda estivesse viva — vem aí um novo documentário, mas também não seguiríamos com tanta curiosidade a vida de Camila, que esta semana nos conta como é que lida com dias piores, lendo: “Quando temos um dia de loucura e tudo corre mal, podemos sentar-nos, respirar fundo, pegar num livro e pronto ─ somos transportados para outro mundo.” Faço parte do clube de Camila.

(Transcrito do PÚBLICO)

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