Viradouro: escola campeã falou da força da mulher negra e levou serpente gigante para a Sapucaí

Escola tem o enredo ‘Arroboboi, Dangbé’, que homenageia a cobra sagrada dos africanos de Benin. Mito diz que serpente ganhou batalha no século XVIII e se tornou deusa para o povo. Viradouro é a última escola a desfilar no carnaval do Rio
REUTERS/Ricardo Moraes
Grande campeã do carnaval carioca deste ano, a escola de samba Viradouro teve como enredo “Arroboboi, Dangbé”, que exaltou a força da mulher negra e retratou o culto ao vodum serpente.
“Esse enredo é centenário. A gente vai até o século XVIII, em Benin, onde nasceu o culto à serpente através de uma batalha”, explicou o carnavalesco Tarcísio Zanon, desenvolvedor do tema.
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O enredo aborda épicas batalhas da costa ocidental africana que influenciaram as lutas das guerreiras Mino, do reino de Daomé, iniciadas espiritualmente pelas sacerdotisas voduns, dinastia de mulheres escolhidas por Dangbé.
No desfile, a força da cobra foi representada por mulheres negras.
Confira a letra do samba:
Eis o poder que rasteja na terra
Luz pra vencer essa guerra, a força do vodun
Rastro que abençoa Agojiê
Reza pra renascer, toque de Adarrum
Lealdade em brasa rubra, fogo em forma de mulher
Um levante à liberdade, divindade em Daomé
Já sangrou um oceano pro seu rito incorporar
Num Brasil mais africano, outra areia, mesmo mar
Ergue a casa de Bogum, atabaque na Bahia
Ya é Gu rainha, herdeira do candomblé
Centenário fundamento da costa da Mina
Semente de uma legião de fé
Vive em mim
A lealdade das irmãs de cor
E a força que herdei de Hundé e da luta Minó
Vai serpenteando feito rio ao mar
Arco-íris que no céu vai clarear
Ayi! Que seu veneno seja meu poder
Bessen que corta o Ayin-agbè
Sagrado Gume-kujo
Vodunsis o respeitam, clamam Kolofée
Os tambores revelam seu afé
Ê Alafiou, ê Alafiá, é o ninho da serpente
Jamais tente afrontar
(preparado pra lutar)

Arroboboi meu pai, Arroboboi Dangbê
Destila seu axé na alma e no couro
Derrama nesse chão a sua proteção
Pra vitória da Viradouro