Médicas são suspeitas de apresentar atestado para não trabalhar na rede pública e atender em clínicas particulares em RR


Investigação do Secretaria de Segurança Pública aponta que duas médicas estão trabalhando em clínicas particulares mesmo de atestado para atuar nas unidades públicas. Além disso, cirurgião é suspeito de deixar local de trabalho para ir a motel. Relatório do Deint mostra como agiam as médicas
Reprodução
Duas médicas que atuam em hospitais públicos de Roraima são investigadas pela Secretaria de Segurança Pública (Sesp) por suspeita de apresentarem atestado de incapacidade profissional para atuar na unidade, mas cumprir expediente em clínicas particulares. Além disso, na mesma investigação, um médico é suspeito de usar o horário em que deveria estar trabalhando para fazer coisas pessoais, incluindo encontros amorosos (vejam como os investigados agiam mais abaixo).
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A investigação contra os três médicos iniciou em janeiro deste anos, após a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), solicitar, via ofício, que os casos fossem apurados. No entanto, o médico já era monitorado pela Deint desde outubro devido à uma denúncia anônima.Relatório do Departamento de Inteligência (Deint) da Sesp indica que são alvos da investigação os médicos:
Jullyene Gomes de Campos, dermatologista – Ela apresentou atestado médico alegando estar impossibilitada de trabalhar no serviço público por problemas psicológicos, mas foi flagrada pelo Deint atendendo em uma clínica particular. Na avaliação dos investigadores, a conduta dela caracteriza “falsidade ideológica e pode resultar em sanções administrativas e penais.”
Eugênia Glaucy Moura Ferreira, obstetra e ginecologista – Declarou necessidade de afastamento por 90 dias por problemas na região lombar, o que a impede de andar, mas foi flagrada atendendo em estabelecimentos privados. “Essa prática pode levar a sanções éticas e criminais, além de configurar improbidade administrativa”, cita trecho do relatório do Deint.
Gláucio Pires Carneiro, cirurgião geral e videolaparoscópico – Segundo a Deint, utilizava o horário de trabalho para encontros pessoais e não cumpria seus plantões nas unidades de saúde. “Além de improbidade administrativa, pode responder por violação do dever funcional e prejuízo ao serviço público.”
O relatório do Deint indica que os médicos citados tenham sido beneficiados com o chamado atestado gracioso, que é quando uma uma pessoa não está doente de fato, ou seja, atestado falso. A investigação cobrou a “adoção imediata de medidas legais e administrativas rigorosas, como a instauração de processos administrativos disciplinares” e foi enviado para a Sesau, Polícia Civil, Conselho Regional de Medicina, e ao Ministério Público de Roraima.
A promotoria de Saúde do MP abriu investigação sobre a conduta dos médicos. “É inaceitável que um profissional de medicina que ganha bem, que ganha acima do teto, às vezes do funcionalismo público, seja pela quantidade de produtividade, plantões que presta, se valer dessa prática, de obter atestados graciosos, com situações que não são verídicas, e afirmar que elas estão doentes no serviço público, mas estão trabalhando suas clínicas particulares”, afirmou o promotor Igor Naves.
Como agia cada um dos investigados
Jullyene Campos
Na apuração, investigadores identificaram que a dermatologista Jullyene Campos apresentou atestado médico à Sesau no dia 21 de janeiro com indicação de ficar por 20 dias longe do trabalho, até o dia 10 de fevereiro.
“Vem apresentando sintomas depressivos, anedonia, labilidade emocional, prejuízo de memória e atenção, além de sono não reparador. A meu ver, paciente sem condições de desempenhar suas atividades laborais no momento, solicito, por gentileza, que seja afastada de suas funções”, citava trecho do atestado incluso no relatório da Deint.
No entanto, dois dias depois, no dia 23 de janeiro, investigadores constataram que a médica estava atendendo numa clínica particular no Centro de Boa Vista. A consulta com ela custa R$ 500. Nos dias seguintes, ela repetiu a rotina e cumpriu expediente no mesmo local, conforme o relatório.
“Ficou evidente que a médica Jullyene Gomes de Campos exerce suas atividades laborais normalmente no estabelecimento particular […]”, concluíram os investigados.
A reportagem procurou a médica sobre o assunto, mas não obteve retorno até a última atualização.
Eugênia Glaucy
A médica Eugênia Glaucy, segundo a investigação, apresentou laudo médico atestando a necessidade de afastamento do serviço público no período de 14/01/2025 a 18/04/2025. No entanto, a equipe “constatou que a médica Eugênia Glaucy Moura Ferreira continua exercendo suas funções em estabelecimento particular”. Foi identificado que ela, mesmo de atestado, atende em um clínica e um hospital particular na cidade.
“Assim como a médica JULLYENE GOMES DE CAMPOS, a conduta da médica EUGÊNIA GLAUCY MOURA FERREIRA revela-se incompatível com a justificativa apresentada para seu afastamento do serviço público, uma vez que, apesar de ter apresentado laudo médico atestando a necessidade de licença por motivos de saúde, foi constatado que ela continuou exercendo suas atividades profissionais em ambiente particular”, cita trecho do relatório.
Em entrevista à Rede Amazônica, Eugênia Glaucy acusou a Sesau de perseguição. Disse ainda que o atesto não a impede de trabalhar desde que se tenham condições de trabalho. “Estou de atestado, de licença porque eu não posso trabalhar em pé. Eles me colocaram para trabalhar em pé, sendo que tenho que trabalhar sentada”, disse.
“Ela [secretária de Saúde, Cecília Lorezon] usou a Polícia Civil como abuso de poder. Porque só na cabeça deles que a Polícia Civil vai fazer uma investigação contra médico”, disse a médica investigada.
Gláucio Pires Carneiro
O médico Gláucio é investigado por suspeita de descumprimento de horário de trabalho, “sob a alegação de que estaria utilizando o expediente para encontros pessoais com colegas de trabalho e estudantes de medicina.”
A Deint idenficou que em novembro do ano passado, quando ele deveria estar de plantão na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, ele foi visto tendo um encontro amoroso em um motel da cidade no horário em que deveria estar na unidade. Em outro dia, ele também foi flagrado com a mesma conduta.
“Ficou comprovado através de análises nas escalas de plantão que o médico GLÁUCIO utiliza o horário de trabalho para seus encontros amorosos”, cita trecho do relatório, acrescentando que “no dia 17/10/2024 eles passaram a tarde juntos, fora do Hospital. Sendo que das 15h às 19h Gláucio estava de plantão, como mostra a escala”.
“A conduta do médico Gláucio Pires Carneiro evidencia um claro desvio de função, uma vez que os monitoramentos confirmaram o uso indevido do horário de expediente para encontros pessoais, em total descumprimento de suas obrigações profissionais. O fato de estar escalado para plantões em unidades de saúde e, simultaneamente, se ausentar para compromissos particulares compromete a prestação do serviço público e configura uma irregularidade que pode acarretar sanções administrativas e disciplinares.”, conclui o relatório.
O g1 procurou o médico sobre o assunto, mas não obteve retorno até a última atualização.
Médico foi flagrado descumprindo plantões
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Diante da conduta dos três médicos, a Deint ainda levantou a hipótese de que existe uma “possível esquema reiterado de emissão de atestados médicos graciosos e descumprimento de deveres funcionais.”
A Sesp encaminhou o caso para a Delegacia de Combate à Corrupção da Polícia Civil.
A Sesau informou que abriu Procedimento Administrativo Disciplinar para apurar a conduta dos devidos servidores. A Polícia Civil disse que instaurou inquérito policial para apurar os fatos. “A investigação ocorre em sigilo.”
O Conselho Regional de Medicina de Roraima informou que está ciente do caso e que “todas as denúncias enviadas à instituição são apuradas dentro do devido processo legal, respeitando os princípios da defesa e do contraditório”.
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