Governo anuncia novas diretrizes da política industrial e chama atenção para os desafios que o setor enfrenta para crescer


De acordo com o IBGE, a indústria representa 26,3% do PIB do Brasil. Governo anuncia novas diretrizes da política industrial e chama atenção para os desafios que o setor enfrenta para crescer
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O governo federal anunciou, na segunda-feira (22), as diretrizes novas da política industrial brasileira e chamou atenção para os desafios que o setor enfrenta para crescer.
O governo atendeu a um pedido que a indústria fazia há tempos. No cenário interno, o setor vem patinando desde a crise de 2015. De acordo com o IBGE, a indústria representa 26,3% do PIB. O percentual aumentou nos últimos anos, mas segue abaixo dos valores do início da década passada.
Participação da indústria no PIB do Brasil
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A indústria brasileira também sofre com a concorrência do gigante parque industrial chinês. É assim no mundo todo. O economista da Fundação Getúlio Vargas Emerson Marçal diz, no entanto, que, no Brasil, as fábricas encolheram um pouco mais do que era esperado.
“À medida em que os países vão crescendo e atingindo um nível maior de renda, é natural que a indústria encolha um pouco. Isso é um processo global e é um processo que acontece naturalmente. O que tem acontecido no Brasil é que a indústria brasileira está caindo e perdendo participação além do que seria alguma coisa natural. Então tem uma crise na indústria brasileira que já dura décadas e que precisa ser enfrentada de alguma forma”, afirma.
O plano do governo para enfrentar a desindustrialização prevê R$ 300 bilhões em financiamentos. Também foram anunciadas ações regulatórias, obras e compras públicas em seis áreas consideradas estratégicas:
agroindústria;
saúde;
infraestrutura saneamento, moradia e mobilidade;
tecnologia;
bioeconomia e meio ambiente;
e Defesa.
Nova indústria Brasil
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A Confederação Nacional da Indústria afirma que o plano, com foco nesses setores, vem em um momento em que grandes economias mundiais investem na modernização industrial.
“Nós estamos vivendo essa janela de oportunidade da transição energética, da descarbonização. Então há uma corrida dos países, porque as atividades produtivas de manufatura lideram em produtividade. Elas vão dar arquitetura do desenho, do concerto das nações, do que vai acontecer no futuro. Então, todos os países estão investindo maciçamente, e é uma grande oportunidade para o Brasil”, diz Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia CNI.
A maior parte dos recursos vai sair dos cofres do BNDES, via linhas de crédito e compra de ações. Mas analistas como o pesquisador Armando Castelar, da FGV, enxergam semelhanças entre o novo plano e tentativas anteriores de fomentar a indústria com dinheiro público.
“Isso já foi tentado no passado, não deu certo, e não ficou claro por que que dessa vez seria diferente. É uma política que dá subsídios de crédito, e força o Banco Central a ter juros mais altos. Isso encarece o custo de capital das empresas, encarece o financiamento do mutuário, que está comprando moradia, do consumidor que quer comprar um automóvel e, obviamente, se torna a dívida pública mais cara, que é o principal devedor do país. Então vai aumentar déficit público via um pagamento mais elevado de juros e vai aumentar o déficit público, também, via subsídio em si, porque o governo vai estar dando um dinheiro emprestado a uma taxa inferior a que ele capta. Então vai precisar também sair dinheiro de algum lugar para pagar essa conta”, opina Armando Castelar.
“O fato de eventualmente o BNDES conceder crédito para uma empresa ou para um projeto, isso não tem nada errado. Só o que que acontece? Você tem que ter claramente que o projeto tem que ter claro o retorno social e um retorno social acima do retorno privado. Você tem que ser muito seletivo no que você vai colocar. E você tem uma questão fiscal no Brasil que não é brincadeira, a gente em uma situação fiscal muito difícil”, diz o economista Emerson Marçal.
Um ponto importante na avaliação dos analistas é que não basta reindustrializar. É preciso modernizar o parque. O plano prevê crédito específico para inovação, além de diminuir a burocracia, o que melhora o ambiente de negócios. Também incentiva o desenvolvimento da agroindústria, um setor importante, em que o Brasil tem grande vantagem em relação a outros países.
Mesmo assim, segundo economistas, ainda ficou a dúvida se as medidas vão, de fato, aumentar a competitividade da nossa indústria de modo geral, ou se vão apenas financiar uma produção sem condições de enfrentar a concorrência internacional.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Igor Rocha, diz que o plano é um primeiro passo de uma caminhada que precisa atravessar diferentes governos.
“Ele é um plano que tem uma capacidade de ser virtuoso se bem acompanhado, se feito uma governança adequada e um planejamento de longo prazo. Um plano que obviamente não pode se limitar a só um governo, tem que ser um plano que passe os próximos governos. Famílias planejam, governos precisam planejar, assim como também empresas planejam. Se não há planejamento, a gente não sabe onde quer chegar”, afirma Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp.
A economista do Insper Juliana Inhasz diz que uma política industrial eficiente é aquela que não precisa ser renovada dentro de poucos anos.
“Esse plano reedita muita coisa que já foi feita em outros governos. Então, ele é um plano de alguma forma protecionista, ele tenta proteger uma indústria local, que não muitas vezes a competitividade que outros países tem nessas mesas industriais. É um plano importante porque ele empurra a economia para frente, tem uma injeção significativa de recursos. Mas a dúvida é: será que isso que a gente está produzindo vai conseguir ser competitivo ao longo do tempo?”, questiona.
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