Projeto da Unicamp incentiva garotas a ingressarem na ciência: ‘podem ser o que quiserem’


Participantes e organizadoras da iniciativa relatam empoderamento após casos que vão de bullying a falta de incentivo dos pais para o ingresso na área. ‘Meninas SuperCientistas’: Participantes e equipe no Sirius
Equipe Meninas SuperCientistas
Com o objetivo de aumentar a representatividade feminina nas ciências exatas, tecnologia, engenharia e matemática, um projeto liderado por alunas, funcionárias e professoras da Universidade Estadual de Campinas (SP) incentiva o ingresso de garotas nestas áreas.
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Criado em 2019, o ‘Meninas SuperCientistas’ é voltado a jovens do ensino fundamental II. São três coordenadoras e sete mulheres à frente da equipe, que atende 75 alunas de escolas públicas e privadas da metrópole.
Participantes e organizadoras da iniciativa relatam empoderamento após casos que vão de bullying a falta de incentivo de pais por causa do interesse de meninas na área científica.
Neste domingo (11), em que é celebrado o dia Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, o g1 mostra como funciona a iniciativa.
Surgimento do projeto 💡
A ideia surgiu a partir de uma experiência pessoal de uma das organizadoras, Marcela Medicina, de 25 anos, mestranda da Unicamp. Ela se deparou com um evento chamado “Meninas com Ciência” no Facebook, realizado na Universidade de São Paulo (USP).
”Meninas SuperCientistas”: Grupo de participantes e equipe no Instituto de Computação, sede do evento
Equipe Meninas SuperCientistas
“Cliquei na página para entender melhor, e também porque eu achei que fosse para mulheres mais velhas. Eu senti vontade de me inscrever, né? Só que quando eu vi que era para o ensino fundamental II, eu também achei muito legal, mas achei legal no sentido de: ‘Poxa, eu também gostaria que tivesse isso na minha universidade”, relata Marcela.
A mestranda entrou em contato com as meninas que organizavam o projeto, para saber se elas faziam eventos de forma itinerante e que pudessem levar à comunidade local de Campinas.
“As meninas que me responderam e falaram que não, que a ideia é que cada universidade fizesse o seu. Então, dessa forma, eu fiquei muito animada e quis fazer o ‘Meninas SuperCientistas'”, conta a estudante.
Ela começou a ter ideias e escrever rascunhos do que viria a ser a programação do evento. Marcela chegou a pedir ajuda com o espaço a um amigo que trabalhava em um museu da metrópole. Foram convidadas para participar da organização uma amiga do Instituto de Matemática, Estatística e Computação (IMECC) e uma professora do instituto.
Objetivo 👩‍🔬
O “Meninas SuperCientistas” nasceu com o objetivo de oferecer às meninas de 10 a 14 anos uma oportunidade de se envolverem em áreas com maior predominância masculina, como as ciências exatas, tecnologia, engenharia e matemática.
”Meninas SuperCientistas’: Palestra com professora Ana Silvia Prata, da FEA-Unicamp
Equipe Meninas SuperCientistas
“Durante o evento, as meninas vêm até a Unicamp e elas têm diversas atividades, como palestras, oficinas, visitas aos laboratórios. Visitas, por exemplo, ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM)”, elenca Marcela.
Durante cinco sábados, as participantes têm a chance de participar de palestras, oficinas e visitas a laboratórios, tudo sob a orientação de cientistas mulheres. Essa abordagem busca proporcionar modelos inspiradores para as meninas, mostrando que a ciência não é apenas para homens, e sim um campo em que elas também podem prosperar.
“Então, a ideia é que durante o final de semana as meninas conheçam mulheres cientistas, vejam nossas mulheres como exemplo e criem conexões. Tanto com as cientistas, quanto com as outras participantes”, comenta.
Desafios enfrentados 📝
Um dos grandes desafio do projeto é o financeiro. Elas dependem de apoio de instituições privadas, empresas e da própria universidade. “Encontrar parceiros que topem e encarem este projeto e que tenham essa mesma vontade da gente, de fazer acontecer”, relata Ana, que também faz parte da organização do programa.
Sandra Avila (à esquerda), Ana Augusta (no meio) e Marcela Medicina (à direita)
Equipe Meninas SuperCientistas
Com o aumento da visibilidade, essas dificuldades acabam se tornando cada vez menores. Outro problema enfrentado pela equipe é a falta de reconhecimento sobre a importância dessa inclusão de gênero.
“[Há pessoas que acreditam que] não é necessário incentivar meninas, que queriam que o projeto fosse aberto para meninas e meninos. Acham que ainda não há uma disparidade de gênero dentro da ciência”, declara a pesquisadora.
Segundo ela, existem vários estudos e grupos que produzem literatura científica a respeito da desigualdade de gênero na ciência. Além disso, existem impasses sobre estrutura física. Já houve casos em que alguns espaços não aceitaram receber o grupo.
Futuras cientistas? 👧🥼
Como o projeto teve início em 2019, ainda não há casos de meninas que ingressaram na faculdade em áreas da ciência. Mas, muitas delas, demonstram vontade de seguir carreira após participar do programa.
‘Meninas SuperCientistas’: Participantes durante atividade no Sirius, do CNPEM
Equipe Meninas SuperCientistas

“Algumas delas já vêm com ideias prévias do que querem ser quando crescer. Mas, muitas delas, mudam de ideia durante o projeto e enxergam novas possibilidades, e saem do projeto falando que elas descobriram o que elas querem fazer quando crescerem”.
As participantes que passaram pelo evento conseguem “pequenas” conquistas, como ingressarem no ensino médio em colégios técnicos. “Pode não parecer tanto, mas para algumas das participantes isso pode ser uma grande realização”, diz a mestranda e idealizadora do projeto.
Tchau, preconceito! 👋
Durante as inscrições, algumas participantes relataram que sofriam bullying na escola por gostarem de ciências e serem meninas. As jovens também relataram falta de incentivo dos pais, que muitas vezes pediam para que elas seguissem carreira em outras áreas, porque não acreditavam que era possível ou que elas teriam algum retorno financeiro futuramente.
Equipe organizadora do ‘Meninas ‘SuperCientistas’
Equipe Meninas SuperCientistas
“A gente sempre tenta mostrar para elas que existe um outro caminho, que existem mulheres que vieram de situações, de realidades parecidas com as delas e conseguiram. Então, elas também conseguem”, diz Marcela.
Ana Augusta, de 40 anos, farmacêutica tecnóloga de alimentos, pesquisadora na Unicamp e uma das organizadoras, ressalta a importância da representatividade de gênero no projeto. Segundo ela, ver mulheres cientistas em ação ajuda as participantes a se enxergarem nesse papel no futuro.
A pesquisadora conta que já passou por situações desagradáveis de homens que duvidaram do seu trabalho por ser mulher, mesmo trabalhando em uma área que é voltada para um grupo mais feminino.
“Eu tive situações de que homens, não me falaram com todas as letras, de que eu não era tão boa porque era mulher ou que o meu trabalho não era tão bom, porque eu sou mulher, […] mas deixaram isso transparecer”, relata Ana.
“A mensagem que tentamos passar é essa: Elas podem ser o que quiserem”, destaca Sandra Avila, professora e pesquisadora na Unicamp de 41 anos.
“Quando você não vê ninguém naquele lugar, parece que aquele lugar não é pra você. Imagina chegar em uma empresa e não ter nenhuma mulher? Eu não sei se eu pensaria em trabalhar nesse lugar; eu não me veria trabalhando nesse lugar”, relata Sandra.
Serviço
5° edição do projeto ‘Meninas SuperCientistas’
As meninas interessadas em participar do projeto precisam preencher o formulário de inscrições está disponível pelo link até o dia 16 de fevereiro e atender alguns pré-requisitos. Veja abaixo:
Ser menina;
Ser aluna do ensino fundamental II (6° ao 9° ano) regularmente matriculada em escola pública ou particular;
Ter disponibilidade para participar dos cinco dias de evento, em período integral, na Unicamp;
Ter autorização de um responsável.
Entre as atividades, estão palestras sobre astronomia e inteligência artificial, oficinas de lançamento de foguetes e produção de microcápsulas para alimentos, além de uma visita ao acelerador de partículas Sirius e outros laboratórios e espaços de ciência da universidade.
Data: nos dias 9,16 , 23 de março, 6 e 13 de abril, aos sábados
Local: dependências da Unicamp
Endereço: Cidade Universitária Zeferino Vaz – Barão Geraldo
O projeto é totalmente gratuito e oferece almoço e lanches para as participantes, além de transporte entre os locais onde as atividades serão realizadas. Não haverá transporte até a universidade no começo e final dos dias de evento, informou a organização. Serão fornecidos camiseta, caneca, material para as oficinas e um kit participante com brindes.
*Sob supervisão de Rodrigo Pereira
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