
A alta da inflação e a postura do governo em relação ao controle dos preços têm gerado preocupações entre economistas e analistas do mercado. Segundo Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, há uma clara deterioração das expectativas para os próximos anos, impulsionada pela falta de comprometimento do governo com a disciplina fiscal e o controle inflacionário.
Em entrevista ao BM&C News, Rafaela destacou que o aumento das projeções de inflação e juros no longo prazo reflete a incerteza gerada por falas e decisões da atual administração. “Essa discussão sobre qual deveria ser a inflação ideal no Brasil já existe desde o primeiro mês deste governo. O próprio presidente colocou em dúvida a meta de 3%, e desde então, as expectativas de longo prazo vêm piorando“, afirmou.
Expectativas de inflação e juros em alta
A economista enfatizou que as projeções do Boletim Focus, indicador que reflete as expectativas do mercado financeiro, mostram uma tendência de aumento nas estimativas para inflação e juros no longo prazo.
Principais pontos levantados por Rafaela Vitória:
- Há dois anos, o Banco Central trabalhava com um juro neutro próximo de 4%; hoje, essa projeção já está em 5%.
- O custo da dívida pública está rodando em cerca de 12% ao ano, o que gera um peso significativo para o governo.
- O déficit nominal já chega perto de 9% do PIB, elevando as despesas com juros para aproximadamente R$ 900 bilhões por ano.
“A incerteza sobre a execução fiscal e a diligência do governo com a inflação está refletida nessas expectativas de juros mais altos. Isso tem um custo muito alto para o país“, alertou.
Inflação e a percepção da população
Rafaela Vitória também destacou que, apesar de muitos brasileiros não compreenderem tecnicamente o impacto do déficit fiscal, a percepção da inflação no dia a dia é clara.
“A classe média pode não sentir o déficit fiscal diretamente, mas entende perfeitamente o impacto da inflação. Basta ir ao supermercado para perceber o aumento nos preços“, explicou.
Pesquisas recentes indicam que a insatisfação com a economia tem crescido, refletindo diretamente nos índices de popularidade do governo. “A inflação não está normal, ela está gerando um custo adicional para as famílias. Isso já está muito evidente no descontentamento da população“, completou.
Risco de normalização
Para a economista, o governo precisa ser mais cauteloso com declarações que minimizam a alta dos preços. “Quando há um discurso oficial que sugere que níveis mais altos de inflação são aceitáveis, o risco de uma perda de controle aumenta. O mercado já precifica essa incerteza e, no final, isso se traduz em um custo maior para todos“, alertou Rafaela.
A falta de medidas concretas para conter a inflação e equilibrar as contas públicas pode comprometer o crescimento econômico e a confiança do investidor. Enquanto isso, consumidores continuam sentindo o peso dos aumentos nos preços e do custo do dinheiro mais caro.
“O governo deveria ter mais atenção a esse tipo de fala e às consequências disso para a economia e para a vida da população“, concluiu.
O post “O governo está normalizando uma inflação perigosa” afirma economista apareceu primeiro em BM&C NEWS.